Aquelas cabras adoravelmente mansas e outros animais bonitinhos em que você pode fazer carinho em pequenos zoológicos e fazendinhas podem não ser tão inofensivos quanto você pensa. É o que diz uma pesquisa preliminar divulgada neste fim de semana.
Ela sugere que muitos animais de de estabelecimentos desse tipo poderiam abrigar e potencialmente disseminar bactérias resistentes a antibióticos, incluindo duas cepas de Escherichia coli, que causam doenças geralmente transmitidas por alimentos e infecções do trato urinário, respectivamente.
Pesquisadores de Israel, incluindo veterinários, coletaram amostras de fezes, pele, pelos e penas de mais de 200 animais de 42 espécies que viviam em um dos oito pequenos zoológicos do país. Eles, então, testaram as amostras para bactérias resistentes a mais de uma classe de antibióticos.
A equipe estava interessada em identificar dois grupos de bactérias altamente resistentes a múltiplas drogas. Elas são conhecidas como Enterobacteriaceae de beta-lactamase de espectro estendido (ESBL) e Enterobacteriaceae produtora de AmpC (AmpC-E).
Estas são algumas das superbactérias mais temidas, principalmente porque carregam mutações que as tornam resistentes a uma ampla variedade de antibióticos. Algumas dessas mutações também podem ser facilmente passadas para outras espécies de bactérias, através de fragmentos móveis de DNA chamados plasmídeos.
Ainda mais assustador é que muitas bactérias resistentes evoluem primeiro em animais e depois infectam pessoas. Esses tipos de surtos geralmente têm sua origem na pecuária, mas ocasionalmente são causados por animais fofinhos também. Os pesquisadores, liderados por Shiri Navon-Venezia, microbiologista da Universidade Ariel, esperavam ter uma ideia mais aprofundada do risco de infecção apresentado por estes animais.
“Estamos interessados na resistência a antibióticos em animais de companhia (não em animais de pecuária) e em entender a disseminação e a transmissão de patógenos resistentes a múltiplos fármacos em uma perspectiva de saúde única”, disse Navon-Venezia ao Gizmodo por e-mail.
Zoológicos e fazendinhas que permitem tocar animais, acrescenta ela, oferecem muitas oportunidades para os visitantes entrarem em contato direto e indireto com esses germes. Ser lambido por um animal ou respirar em partículas de fezes suspensas no ar são algumas formas de contato, por exemplo.
No total, eles descobriram que cerca de 12% dos animais amostrados tinham pelo menos uma cepa de uma bactéria ESBL ou AmpC-E vivendo neles, enquanto um quarto desses animais (3% do total) tinha várias cepas multirresistentes.
Algumas das bactérias encontradas eram relativamente inofensivas, o que significa que raramente causam doenças em humanos. Mas cepas resistentes de E. coli ST656 e ST127 eram muito mais preocupantes. A ST656 é uma cepa que expele toxinas e pode causar diarreia grave e até fatal. Já a ST127 é uma das muitas cepas que causam infecções do trato urinário. Ambas são altamente virulentas.
No momento, nenhuma linhagem parece causar grandes surtos com alguma regularidade. E os resultados da equipe, baseados totalmente em Israel, podem não ser totalmente válidos para outros países.
Mas Navon-Venezia disse que as chances de essas e outras bactérias ESBL ou AmpC-E serem encontradas em zoológicos e fazendinhas podem ser semelhantes em qualquer país onde esses micro-organismos já são detectados em níveis altos, como no sul, leste e oeste da Europa.
Nos EUA, mais de 100 surtos entre 2010 e 2015 começaram em zoológicos, fazendinhas e feiras de animais, de acordo com os do país. A grande maioria desses surtos nos EUA provavelmente envolveu bactérias ainda suscetíveis a antibióticos, mas é apenas uma questão de tempo (se é que isso ainda não aconteceu) até que animais de estimação e outros animais de companhia também se tornem um canal comum para essas infecções.
No ano passado, um surto de Campylobacter jejuni altamente resistente, um germe que ataca o estômago, foi, no fim das análises, a filhotes de animais de estimação. Mais de cem pessoas em 18 estados adoeceram, e mais de 20 delas foram hospitalizadas.
As descobertas da equipe foram neste fim de semana no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas em Amsterdã, na Holanda. Elas ainda são preliminares, mas Navon-Venezia planeja submetê-las para publicação em um periódico revisado por pares.
Enquanto isso, ela diz que sua pesquisa deve servir como um alerta precoce para que os zoológicos continuem proativos na prevenção de surtos.
Ela sugere que fazendinhas e pequenos zoológicos podem tomar precauções, como manter as áreas de alimentação e consumo longe dos animais, além de reforçar a importância de lavar as mãos depois de interagir com eles.
Medidas mais diligentes incluiriam monitorar ativamente os animais quanto a bactérias resistentes, bem como isolar animais que estão fazendo tratamentos com antibióticos do resto dos animais, já que eles são mais propensos a desenvolver e transportar bactérias resistentes.