Em setembro de 2021, o governo brasileiro publicou uma portaria autorizando a concessão de visto humanitário a afegãos que desejassem deixar seu país devido ao regime talibã. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, foram emitidos desde a data até 7 de outubro de 2022.
Só neste ano, cerca de 1.600 pessoas do Afeganistão entraram no Brasil e muitos outros ainda são esperados. O problema? Os imigrantes não são imediatamente acolhidos quando chegam ao país, tendo que passar semanas acampados no saguão do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. A reportagem do Giz Brasil acompanhou de perto na terça-feira (7). Confira a seguir.
Segundo Fábio Cavalcante, secretário do Desenvolvimento e Assistência Social da prefeitura de Guarulhos, a imprevisibilidade da chegada das pessoas é a maior dificuldade.
“Eu não tenho como fazer um planejamento em cima do número de pessoas que devem chegar, inclusive com refeição e com vaga de acolhimento, porque a gente não sabe quantas pessoas estão em cada voo”, explica. O início da Copa do Mundo no Catar e o intensificaram ainda mais essas demandas nas últimas semanas.
Logo que os afegãos chegam, eles passam por uma triagem no Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante dentro do aeroporto. Então, ficam esperando por acolhimento, que pode ser feito pela Cáritas Diocesana, que atua em parceria com a secretaria de Guarulhos e Acnur.
Essa é uma casa de passagem que acolhe 30 pessoas por vez. Geralmente, são levadas ao local os afegãos que estão há mais tempo no aeroporto. Os grupos podem permanecer na casa por até duas semanas.
Fábio diz que não é fácil acolher todos no município de Guarulhos e reforça a importância da atuação do governo federal para que os afegãos também possam ser recebidos em outros estados. No dia 7 de dezembro, por exemplo, cerca de 80 imigrantes esperavam abrigo no aeroporto, mas o número chegou a 300 nas últimas semanas.
Perfil dos imigrantes
Os afegãos no aeroporto são, em sua maioria, homens solteiros. Há também famílias, que costumam ser numerosas e formadas por crianças, adultos e também idosos.
“A maioria das pessoas que chega aqui possui nível superior. Muitos trabalhavam para o governo, são juízes, então o encaminhamento para vaga é muito mais complicado porque elas tem uma expectativa muito grande de acolhimento no Brasil”, diz Fábio.
É o caso de Mohamed*, que está no aeroporto há duas semanas. Ele é engenheiro elétrico e deixou seu país devido ao regime talibã. Para iniciar sua jornada de vinda, teve que ir até o Irã para encontrar uma embaixada brasileira e conseguir seu visto humanitário.
Ele é o único da família no Brasil, mas pretende conseguir emprego e trazer o restante dos seus parentes para o país. Mohamed mostra, inclusive, que está aprendendo português com auxílio de voluntários no aeroporto e também através do aplicativo Duolingo.
Durante conversa com o Giz Brasil, o homem até arrisca algumas palavras muito bem pronunciadas. Ele diz que ficar no aeroporto é ruim, mas continua esperançoso de que em breve será transferido para um abrigo.
*O nome verdadeiro do afegão foi preservado para manter sua segurança.