Uma equipe formada por pesquisadores de mais de 38 instituições de ensino ao redor do globo se prepara para uma missão à la Júlio Verne –o autor do clássico “Viagem Ao Centro da Terra”. O objetivo é perfurar dois quilômetros adentro do vulcão Krafla, na Islândia, criando assim o primeiro observatório subterrâneo de magma do mundo.
Como tiveram a ideia
Mas a ideia não foi inspirada nas histórias do escritor francês. O local é administrado pela Landsvirkjun, a agência nacional de eletricidade do país. Em 2009, engenheiros estavam expandindo a usina geotérmica de Krafla quando se depararam com um bolsão de magma numa profundidade de 2,1 quilômetros. Na hora, subiu uma fumaceira e a lava fluiu nove metros acima do poço, mas ninguém se machucou.
O episódio serviu como insight para os cientistas, que esperavam que o magma só fosse encontrado em uma profundidade de 4,5 quilômetros. Quando as rochas estão perto dessa lava, acabam atingindo um estado entre o líquido e o gasoso, conhecido como supercrítico. Neste ponto, a energia produzida acaba sendo de cinco a dez vezes mais poderosa do que aquela obtida por um poço tradicional.
Os pesquisadores notaram que seria possível tirar vantagens dessa exploração para o setor energético, investindo na chamada energia geotérmica de rocha superquente. Para ter uma noção, dois poços com fluidos supercríticos seriam suficientes para gerar 60 megawatts de energia na usina, quantidade que para ser obtida hoje requer 18 poços.
Perfuração em 2024
A ideia do chamado Krafla Magma Testbed (KMT) surgiu em 2014, mas a primeira perfuração deve ocorrer só em 2024. O projeto, com orçamento de US$ 100 milhões, também deve ajudar os cientistas a mapear o magma dentro dos vulcões, o que auxiliará na previsão de erupções e também na contenção de riscos.
Vale dizer que perfurar um vulcão não é tarefa fácil. No incidente de 2009, a fumaça atingiu uma temperatura de 450 ºC, a mais alta já registrada para um vulcão. Apesar de ninguém ter se machucado, o material de perfuração usado pelos engenheiros acabou danificado. No KMT, a equipe terá que trabalhar com materiais resistentes à corrosão causada pelo vapor, além de se certificar de que o trabalho não desencadeará nenhuma erupção indesejada.