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Vegetação das montanhas de granito carece de proteção ambiental; flora da Caatinga é a mais vulnerável

Pesquisadores analisaram a diversidade da flora de 50 locais espalhados em diferentes biomas como a Amazônia, Caatinga e Mata Atlântica

Foto: Luísa Azevedo

Agência Bori

Montanhas de granito, como o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro, apresentam vegetações bastante distintas de acordo com cada bioma. A flora dessas montanhas da Amazônia, Mata Atlântica e Caatinga foi o tema de um novo estudo publicado na sexta (29) no periódico “Frontiers in Plant Science” por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável e de outras instituições parceiras. Das 50 áreas analisadas, apenas 16 estão em áreas de proteção: 9 na Amazônia e 7 na Mata Atlântica. O estudo chama atenção para um dado preocupante: todas as 25 áreas estudadas na Caatinga estão em locais sem proteção ambiental.

Esse é o primeiro estudo até o momento com o objetivo de compreender as vegetações que crescem nas rochas e compará-las em diferentes biomas da América do Sul. A pesquisa liderada pelo biólogo Rafael Gomes Barbosa-Silva durou quatro anos realizando expedições de campo para coletar amostras de plantas e consultando o acervo de diversos herbários. Além disso, houve a compilação de informações da flora de outros biomas por meio da análise de dados já publicados. Para a análise, foram considerados 50 inselbergs – nome técnico para as montanhas de granito: 11 na Amazônia, 14 na Mata Atlântica e 25 na Caatinga. Ao todo, 2193 espécies foram identificadas em 4397 ocorrências nos três biomas.

“O resultado mostra o quão única e fascinante é a flora de cada um desses afloramentos graníticos. Assim, o entendimento de que as montanhas de granito possuem floras distintas conforme o bioma onde ocorrem nos mostra direções para conservação”, explica Barbosa-Silva, primeiro autor do artigo. Ele também afirma que os biomas influenciam a paisagem única das rochas – o que gera a beleza destes cenários: “São áreas que atraem muitas vezes o interesse para o lazer e o turismo, como o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, a Serra Grande, próximo de Boa Vista ou a Pedra da Harpia, na Floresta Nacional de Carajás”.

Diante da inexistência de proteção às áreas estudadas na Caatinga, os pesquisadores entendem que é urgente discutir a preservação das vegetações rochosas do bioma. “Inselbergs são vistos com frequência como fontes de rochas comerciais e podem se degradar por meio da destruição do ambiente ao redor”, alertam os especialistas no artigo.

Coleta no inselberg amazônico da Pedra da Harpia, na Floresta Nacional de Carajás. Foto: Rafael Gomes Barbosa-Silva

Tereza Giannini, também autora do estudo, comenta a importância de entender a flora que ocorre nas áreas estudada: “Muitas áreas naturais, especialmente na Amazônia, foram pouco inventariadas e, portanto, são ainda pouco conhecidas. Programas efetivos de proteção e conservação precisam ser embasados em conhecimento científico, e por isso esse tipo de pesquisa tem um papel tão importante”, avalia a pesquisadora.

A partir da publicação, surgem novas perguntas e possibilidades de próximas pesquisas: Barbosa-Silva questiona como a flora dessas rochas está ameaçada pelas mudanças climáticas, visto que as plantas crescem diretamente nas rochas, com pouco ou nenhum solo, com retenção de água quase nula. Além disso, os pesquisadores sugerem o uso de tecnologias, como drones, para entender a relação entre geomorfologia e condições climáticas no surgimento da flora nas montanhas de granito.

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