Altos níveis de radiação foram detectados perto da J-Village, no Japão, uma instalação esportiva e que é o ponto de partida do próximo revezamento da tocha olímpica, segundo o Greenpeace. A descoberta foi feita por pesquisadores do Greenpeace Japão, que alertam que os esforços de monitoramento e descontaminação em Fukushima são inadequados.
Níveis de radiação de até 71 microsieverts por hora foram encontrados na superfície perto da J-Village, no nordeste do Japão, de acordo com um divulgado nesta quarta-feira (4). Este nível de radiação é centenas de vezes maior do que o estipulado nas diretrizes de descontaminação do Japão, levando o Greenpeace Japão a exigir que o governo japonês realize e descontaminação das regiões afetadas pelo desastre nuclear de Fukushima em 2011.
O Centro Nacional de Treinamento J-Village fica na prefeitura de Fukushima, que fica a 20 km da usina nuclear danificada. Esta instalação esportiva será o ponto de partida do revezamento da tocha olímpica de Tóquio 2020, que está programado para começar em 26 de março de 2020. A J-Village foi escolhida como ponto de partida para o revezamento justamente pela sua localização, pois o governo japonês está promovendo os jogos como . As Olimpíadas começarão em 24 de julho de 2020 em Tóquio, a quase 240 km dos reatores danificados.
A J-Village passou por reformas recentemente e a instalação foi usada para sediar a equipe argentina durante a Copa do Mundo de Rugby, realizada há algumas semanas, segundo a . E, como , a instalação serviu como um “centro de logística” para as equipes que trabalham para gerenciar e desativar os reatores danificados.
As novas medições foram feitas durante um período de duas horas em 26 de outubro pelos consultores de proteção nuclear e monitoramento de radiação do Greenpeace. Altos níveis de radiação foram detectados ao longo dos limites do estacionamento e de uma floresta ao lado da J-Village, . As leituras do nível do solo eram tão altas quanto 71 microsieverts, o que é 308,7 vezes mais do que os 0,23 microsieverts aceitos nacionalmente por hora — o padrão para descontaminação — e 1.775 vezes o nível anterior ao desastre de Fukushima, segundo o Greenpeace.
Sieverts descrevem a quantidade de radiação ionizante que pode ser absorvida pelo tecido humano. A exposição natural à radiação equivale a algo entre 2.000 e 3.000 microsieverts a cada ano, então as pessoas que ficam perto desses pontos excederiam sua dose anual em cerca de dois a três dias, segundo a Reuters.
Embora perturbador, não é excessivamente perigoso ou com risco de vida. Não até que as pessoas sejam expostas a níveis entre 1.000 e 3.500 milisieverts (1 milisievert é igual a 1.000 microsieverts), aí começam doenças causadas pela radiação e os sintomas de risco de vida. Em comparação, um produz cerca de 100 microsieverts (0,1 milisieverts) de exposição à radiação.
Ainda assim, o Greenpeace está preocupado com o fato de que chuvas fortes possam espalhar para o solo contaminado em outros lugares, como nas vias públicas, de onde ele pode se espalhar ainda mais.
“Isto poderia desfazer parcialmente os esforços anteriores para descontaminar as áreas públicas na J-Village. Baseado em nossas observações, é improvável que pontos quentes de radiação de níveis tão altos tenham ressurgido após a descontaminação anterior”, disse Shaun Burnie, especialista sênior em energia nuclear do Greenpeace na Alemanha e líder da equipe de pesquisa, em um comunicado. “É mais lógico que a descontaminação não tenha sido suficiente e realizada completamente em primeiro lugar”.
Em uma , Kazue Suzuki, responsável pela energia do Greenpeace no Japão, disse que os pontos quentes de radiação foram encontrados em áreas que foram previamente descontaminadas, o que ele achou preocupante.
“É um lugar onde o público em geral está indo e vindo, e há preocupações sobre seus efeitos na saúde, e essa área também é o ponto de partida para o revezamento da tocha nos Jogos Olímpicos no próximo ano”, disse Suzuki. “Isso levanta questões sobre a eficácia das atividades anteriores de descontaminação e o Greenpeace enviou uma carta ao ministro do Meio Ambiente em 18 de novembro para recomendar o monitoramento e descontaminação regular da radiação”.
O Greenpeace disse que o governo japonês não respondeu à sua , mas oficiais do estado responderam à descoberta de radiação na J-Village. De acordo com o Greenpeace, e conforme relatado na quarta-feira (4) no Sankei Shimbun, equipes de limpeza da Tokyo Electric Power (TEPCO) limparam os pontos quentes ontem — então está claro que a carta de advertência teve um impacto. Em declarações à Reuters, uma autoridade não identificada disse que o Ministério do Meio Ambiente do Japão “cooperou com grupos relacionados para diminuir os níveis de radiação nessa área”.
A entidade agora está pedindo ao governo japonês que conduza “pesquisas radiológicas e de hot spot imediatas e extensas em áreas públicas ao redor da J-Village e nos locais olímpicos/paralímpicos”, entre outras recomendações.
A descoberta desses pontos quentes representa uma verdade desconfortável para o governo japonês. As consequências do colapso nuclear de Fukushima persistirão por muitas décadas.