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Ubisoft mira futuro focado em jogos por assinatura – e divide opiniões

Para diretor da Ubisoft, jogadores devem se acostumar a não possuir jogos para que serviços de assinatura possam triunfar

Jogos da Ubisoft

Nesta semana, o diretor de assinaturas da Ubisoft, Philippe Tremblay, concedeu diversas entrevistas a jornalistas ao redor do mundo. Em uma delas, o executivo comentou sobre o serviço de assinaturas da empresa, o Ubisoft+, e disse que os gamers devem se acostumar a não possuir jogos para que o modelo de negócios possa triunfar.

O comentário de Tremblay dividiu opiniões não só entre jogadores, como também entre profissionais da indústria de videogames. Inclusive, o criador do estúdio responsável por “Baldur’s Gate 3” compartilhou uma opinião bastante diferente nas redes sociais.

Ubisoft+ é o serviço de assinatura de jogos da empresa (Imagem: Ubisoft/Divulgação)

Ubisoft expande planos do Ubisoft+

A discussão começou devido à entrevista concedida pelo diretor da Ubisoft ao . No artigo publicado na última segunda-feira (15), Tremblay conversou sobre a nova modalidades de assinatura da empresa: o Ubisoft+ Premium.

Essa nova categoria une os antigos planos Multi-Access e PC Access em um único serviço. Ao pagar uma mensalidade de R$ 59,99, os usuários de PC e consoles Xbox ganham acesso a um catálogo com mais de 100 títulos da Ubisoft, incluindo edições especiais com conteúdos adicionais (DLCs), além de testes antecipados e recompensas mensais.

A empresa também lançou, nesta semana, um plano de assinatura mais barato: o Ubisoft+ Classics. Por R$ 29,99 ao mês, os assinantes podem baixar, no PC e consoles PlayStation, mais de 50 jogos da desenvolvedora, como “Rainbow Six Extraction”, “Far Cry 6”, “Watch Dogs Legion”, “Riders Republic” e mais.

Ubisoft+ tem crescido, mas falta adesão

Na entrevista ao Gamesindustry.biz, Tremblay explicou que os serviços de jogos por assinatura atendem a públicos específicos de jogadores. Para ele, os principais alvos são aqueles que ainda consomem muitos jogos antigos da empresa, assim como pessoas que não conhecem as franquias da Ubisoft e têm interesse em testar os lançamentos mais recentes, antes de comprá-los.

Ainda, segundo o diretor, o Ubisoft+ tem crescido bastante nos últimos meses e chegou a bater recorde de assinantes em outubro do ano passado. Porém, o serviço ainda é pequeno comparado a outros modelos de assinatura.

Para que o Ubisoft+ possa triunfar e se tornar um novo padrão na indústria, os jogadores devem se acostumar a não possuir mais jogos, tanto em mídias físicas quanto em mídias digitais, de acordo com Tremblay.

Assassin’s Creed Mirage (Imagem: Ubisoft/Divulgação)

Essa mudança de comportamento atingiu as indústrias de televisão, cinema e música, nos últimos anos, mas ainda não chegou com força ao segmento de videogames. Diferente de CDs e DVDs, jogos custam mais caro e demandam mais tempo para os consumidores aproveitarem as experiências completas.

Há ainda muitos jogos grátis para baixar, com alguma forma de monetização adicional. Além disso, desenvolvedores costumam lançar conteúdos extras, após os lançamentos, a fim de garantir vida útil maior aos títulos.

Videogames têm características intrínsecas que dificultam a aderência de jogadores a planos de assinatura. Por isso que os serviços da Xbox, PlayStation e Nintendo oferecem muito mais que apenas jogos. Eles são necessários para jogar online e salvar progressos na nuvem, por exemplo. Os catálogos de jogos são apenas conteúdos adicionais.

Criador de “Baldur’s Gate 3” se preocupa com futuro dos jogos

Nas redes sociais, o posicionamento do diretor da Ubisoft gerou debates entre profissionais da indústria. Em uma  (antigo Twitter), Swen Vincke, CEO e fundador do Larian Studios — responsável por “Baldur’s Gate 3” —, disse o seguinte:

“Independentemente do futuro dos jogos, o conteúdo sempre vai reinar. Mas será muito mais difícil conseguir um bom conteúdo, caso assinaturas se tornem o modelo dominante e um grupo seleto decida o que vai ou não para o mercado. Direto do desenvolvedor para os jogadores é o caminho”.

Swen Vincke, CEO do Larian Studios.

Vincke acredita que modelos de assinatura vão incentivar o desenvolvimento de jogos cujo objetivo principal é o maior lucro possível. Para ele, essa visão pode não só extinguir títulos menos populares e com bases menores de fãs, como também prejudicar a criatividade dos profissionais da indústria.

Em resposta à própria publicação, Vincke acrescentou:

“Conseguir que um conselho aprove um projeto alimentado por ideias é quase impossível, e o idealismo precisa de espaço para existir, mesmo que possa levar ao desastre. Já dependemos de um grupo seleto de plataformas de distribuição, além do processo brutal de sermos encontrados. Se todas essas plataformas mudarem para modelos de assinatura, isso se tornará selvagem”.

Swen Vincke, CEO do Larian Studios.

Apesar de Vincke não estar errado, o medo dele já é realidade na maior parte da indústria dos jogos. Investir mais em assinaturas só deve piorar algo que já está ruim. Não é de hoje que desenvolvedores independentes sofrem para publicar seus jogos, especialmente em países periféricos, como aqui no Brasil.

O estúdio brasileiro Rogue Snail, por exemplo, acumula diversos prêmios da indústria, mas tem dificuldades de financiar novos projetos, segundo uma reportagem da . A desenvolvedora de “Rogue Snail” teve que demitir 17 funcionários, após o lançamento do jogo “Relic Hunters Legend”, devido à recepção abaixo do esperado por investidores do projeto.

A própria Larian Studios, inclusive, é independente e quase decretou falência em 2015, mesmo após conseguir empréstimos em bancos, investidores estrangeiros e arrecadar quase US$ 1 milhão pelo Kickstarter.

O futuro dos jogos ainda é incerto, mas dá as empresas do setor devem pensar em modelos diferentes de assinatura, se quiserem alcançar os mesmos resultados de Netflix, Spotify, e outras plataformas de conteúdo sob demanda.

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