Truque antigo melhora a memória de longo prazo e altera o cérebro
Esse mnemônico, chamado de “método de loci”, existe há séculos e é surpreendentemente eficaz. Uma nova publicada na Science Advances na quarta-feira (3) sugere que essa técnica é boa tanto para a memória de curto prazo quanto para a de longo prazo. Além do mais, o método dos loci reconfigura o cérebro e aprimora o armazenamento e a recuperação de memórias de longo prazo, de acordo com as novas descobertas. O estudo foi conduzido pela neurocientista Isabella Wagner, do Radboud University Medical Center, na Holanda.
“É tão eficaz que os atletas de memória, aqueles que treinam e têm memória superior, também os usam”, explicou Jeni Pathman, professora assistente da York University em Toronto, por e-mail, referindo-se à técnica. Esse método, que remonta à Grécia antiga, funciona bem porque nos permite usar lugares ou rotas bem conhecidas que servem como uma espécie de “andaime”, como Wagner explicou em um e-mail. Isso nos permite incorporar informações novas — mas completamente não relacionadas — em uma “estrutura” que já conhecemos, disse ela.Quatro meses depois, os participantes realizaram o teste para ver se ainda eram capazes de lembrar algumas das palavras memorizadas das sessões de treinamento. O método do grupo loci recordou em média 50 palavras, o grupo da memória de trabalho recordou cerca de 30 palavras e o grupo não treinado recordou apenas 27 palavras em média.
“O desempenho ainda era notavelmente bom após quatro meses, mostrando que os participantes ainda eram capazes de utilizar com sucesso o método de loci para melhorar sua memória”, disse Wagner. “Isso não nos surpreendeu muito, pois já esperávamos que o treinamento tivesse um efeito duradouro.” A análise das imagens cerebrais mostrou diminuição da atividade nos córtices pré-frontal lateral, parahipocampal posterior e retroesplenial — áreas associadas à ativação baseada em tarefas. Por “ativação baseada em tarefas”, os cientistas estão se referindo aos processos cerebrais que aconteceram durante o estudo e a lembrança de listas de palavras aleatórias. Isso foi observado tanto em atletas de memória quanto em não especialistas que receberam treinamento. “Descobrimos que o treinamento levou à diminuição da ativação do cérebro em regiões que normalmente estão envolvidas no processamento da memória (espacial) e que são importantes para a memória de longo prazo”, explicou Wagner. “Isso foi um tanto surpreendente para nós, já que um melhor desempenho está normalmente associado a um maior envolvimento de diferentes regiões do cérebro. O que vimos aqui é o oposto: o treinamento diminuiu a atividade nessas regiões, de modo que a ativação cerebral mais baixa leva a uma memória melhor.” Isso pode ser interpretado como “eficiência neural”, disse ela, já que menos recursos podem ser necessários para alcançar um desempenho aprimorado. Ao mesmo tempo, o treinamento resultou no aumento das conexões neurais entre o hipocampo e o córtex. Isso ajuda no armazenamento de memórias de longo prazo, o que poderia explicar por que a memória dos participantes era tão boa quatro meses depois. “Este estudo é importante porque não apenas mostrou que pessoas comuns podem praticar o uso dessa técnica para criar memórias duradouras, mas também mostrou como ela pode afetar seus cérebros”, Jeni Pathman, professora assistente da York University em Toronto, disse em um e-mail. “Aqueles que estavam no grupo de treinamento de memória mostraram atividade no cérebro durante o aprendizado e a lembrança que era mais semelhante aos atletas de memória.” A única ressalva de Pathman foi o tamanho relativamente pequeno da amostra, que ela disse ser “compreensível, dada a natureza deste trabalho”. Em termos de trabalho futuro necessário, Pathman disse que seria “importante estender este estudo sobre a criação de memórias duradouras para outras faixas etárias ou para grupos que podem ter mais problemas com a memória”, pois eles podem ser capazes de se beneficiar também. Bom ponto. De fato, o método de loci pode ser útil para pessoas com declínio cognitivo relacionado à idade, mas pesquisas futuras terão que descobrir isso. Por enquanto, podemos aproveitar essas novas descobertas enquanto vamos ao parque, paramos e colocamos gasolina no caminho até o supermercado.