Traumas na meia-idade podem ser fator de risco para Alzheimer, diz estudo
Sofrer traumas na meia-idade e durante a infância pode aumentar o risco de uma pessoa desenvolver doença de Alzheimer. É o que indica um estudo publicado recentemente na revista .
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a meia-idade inclui pessoas entre 45 e 59 anos. Embora já adultos e com experiências consolidadas, é essa faixa etária que costuma apresentar os primeiros sinais da doença, que compromete as habilidades cognitivas.
“Sabemos que a meia-idade é um período em que as patologias da doença de Alzheimer começam a se acumular. É possível que esses anos representem um período vulnerável em que experiências de estresse psicológico possam ter um impacto duradouro na saúde cerebral”, diz Eleni Palpatzis, pesquisadora do ISGlobal e autora do estudo.
Entenda a pesquisa
Para isso, a equipe de pesquisa contou com 1.290 voluntários entre 49 e 77 anos. Apesar de eles não terem problemas cognitivos no período do estudo, todos possuíam história familiar direta de doença de Alzheimer.
Então, os participantes passaram por entrevistas para avaliar o número do que os cientistas chamaram de Eventos Estressantes de Vida. Em geral, esses traumas consistem em ameaças externas que ativam respostas comportamentais e psicológicas em uma pessoa. Por exemplo, situações como morte de um ente querido, desemprego ou doença grave.
Por fim, os pesquisadores fizeram punções lombares e ressonâncias magnéticas nos voluntários, a fim de testar diferentes biomarcadores relacionados à doença de Alzheimer.
Como resultado, as análises estatísticas mostraram que o acúmulo desses traumas estava associado a níveis mais elevados da proteína β-amiloide (Aβ). Apesar de estar presente naturalmente no organismo, ela tem tendência a se aglomerar.
Quando isso acontece, os aglomerados podem causar problemas cognitivos. Por isso, são uma assinatura da doença de Alzheimer.
Além dos traumas na meia-idade, os pesquisadores também observaram que aqueles eventos estressantes que acontecem na infância também podem aumentar o risco de uma pessoa desenvolver neuroinflamação em idades mais avançadas.
Geralmente, a inflamação é uma resposta molecular chave em doenças neurodegenerativas.
Quem está sob maior risco
De acordo com o estudo, o aumento dos níveis da proteína β-amiloide impulsionado pelo acúmulo de traumas ao longo da vida aconteceu apenas com os participantes homens.
Ao mesmo tempo, as mulheres que participaram do estudo tiveram mais experiências estressantes, em geral. No caso delas, eles estavam associados a um volume menor de matéria cinzenta no cérebro.
“Nossos resultados sugerem que os mecanismos pelos quais os estressores da vida afetam a saúde cerebral em homens e mulheres são diferentes: acúmulo de proteína amiloide em homens e atrofia cerebral em mulheres”, explica Eider Arenaza-Urquijo, também autora do estudo.
Além disso, os pesquisadores também notaram que pessoas com histórico de doença psiquiátrica são mais suscetíveis aos efeitos dos traumas. Por exemplo, elas tiveram níveis mais elevados de proteínas Aβ e tau, neuroinflamação e diminuição do volume de matéria cinzenta.
Para os especialistas, isso pode acontecer principalmente pelo fato desses indivíduos terem as habilidades de enfrentamento do estresse prejudicadas.