Cultura
Tibira: quem foi o índio gay assassinado pela Igreja no século 17 no Brasil
Indígena tupinambá LGBTQIAP+ Tibira de Maranhão pode ter sido a primeira vítima documentada de homofobia no Brasil
Imagem: Gravura de livro de Claude Abbev
Nesta segunda-feira (18), o Vaticano autorizou a bênção para casais de pessoas do mesmo sexo e “em situação irregular” para a Igreja Católica. Apesar do avanço, ainda resta a necessidade de uma reparação histórica. Vale lembrar que, desde o seu início, a Igreja Católica foi responsável por perseguir e, inclusive, assassinar pessoas LGBTQIAP+.
Um dos casos mais emblemáticos na história do Brasil foi o do índio tupinambá Tibira – termo indígena que significa “homossexual” – do Maranhão. Ele foi assassinado no século 17, no que pode ter sido a primeira morte documentada por homofobia no país, de acordo com uma reportagem da .
Ele foi acusado de “sodomia” — considerado pecado pelos missionários franceses no Maranhão.
O livro “História das coisas mais memoráveis acontecidas no Maranhão nos anos de 1613-1614”, por exemplo, do Frei Yves D’Évreux — o frade francês responsável pelo crime — detalha os horrores da execução. Em sua morte, Tibira foi amarrado a um canhão na muralha do forte de São Luís.
A execução dividiu o corpo em duas partes, caindo uma ao pé da muralha, e outra no mar, onde nunca mais foi encontrada.
Importância de Tibira e reconhecimento
Luiz Mott, sociólogo, antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia, além de fundador da ONG Grupo Gay da Bahia, publicou, em 2014, o livro “São Tibira do Maranhão — Índio Gay Mártir”, relembrando a importância do caso. Contudo, ele explica que não é possível definir a data exata da execução de Tibira do Maranhão. Ela pode ter ocorrido em algum momento entre os anos de 1613 e 1614.
De acordo com o pesquisador, a homofobia foi institucionalizada no Brasil em 1534, com a criação das primeiras capitanias hereditárias. Posteriormente, em 1830, a “sodomia” deixou de ser mencionada como crime no Código Penal Brasileiro, assinado por Dom Pedro I. Entretanto, até hoje, o Brasil é um dos países que mais matam homossexuais.
Além disso, o historiador Sérgio Muricy, arcebispo primaz da Santa Igreja Celta do Brasil, é o primeiro religioso a reconhecer a santidade de Tibira e defender a canonização do indígena (via ).
“Não se tem notícias de nenhum martírio com esta crueldade na história do Brasil”, disse. “Pelo relato que descreve o suplício de São Tibira, ele foi batizado pelos seus algozes antes de morrer. Então ele morreu cristão, reunindo as condições necessárias para sua canonização ou proclamação de santidade.”