Talvez não seja necessário bombardear (tanto) Marte para torná-lo habitável
A terraformação de Marte pode ser a nossa única escolha quando estragarmos nosso planeta de vez, mas como exatamente vamos fazer isso?
A terraformação de Marte pode ser a nossa única escolha quando estragarmos nosso planeta de vez, mas como exatamente vamos fazer isso? Uma ideia é lançar ogivas nucleares nos polos, soltando bilhões de toneladas de dióxido de carbono congelado e desencadeando um efeito estufa.
Mas se mandar seus filhos para viver em uma Chernobyl extraterrestre soa desagradável, boas notícias! Pode haver uma maneira mais pacífica de aquecer Marte: dando-lhe um céu nublado.• Elon Musk quer democracia em Marte, e acha que nossa realidade é uma simulação
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aceito para publicação na revista Icarus, uma camada de nuvens de alta altitude poderia ter ajudado. Se estiver correta, essa hipótese pode apontar novas estratégias para tornar Marte habitável mais uma vez no futuro.
“Eu acho que todo mundo está praticamente de acordo em uma coisa: CO2 e vapor de água não foram suficientes para aquecer Marte até o ponto de fusão do gelo”, diz Ramses Ramirez, principal autor do estudo, ao Gizmodo. “Para ser quente o suficiente a ponto de suportar água líquida na superfície, a atmosfera provavelmente precisava de alguns gases suplementares ou nuvens. Talvez as duas coisas.”
Ravinas geladas nas planícies do norte de Marte (NASA/JPL/University of Arizona)
O poder das nuvens
Enquanto a maioria dos pesquisadores supõe que o ar de Marte continha CO2 e vapor de água há 3,8 bilhões de anos, vem sendo sugerido que outros gases – incluindo o dióxido de enxofre (SO2), metano (CH4) e gás hidrogênio (H2) – podem ter influenciado o clima também.
Ainda assim, os modelos que dependem de gases de efeito estufa por si só têm dificuldade em produzir climas quentes e estáveis em Marte a longo prazo. Um número crescente de astrobiólogos agora está migrando para explicações alternativas.
Uma dessas explicações envolve nuvens. “Nuvens absorvem e refletem a radiação”, diz Ramirez. “Dependendo de suas propriedades e localização na atmosfera, elas podem ajudar a aquecer ou resfriar um planeta.”
Na Terra, nuvens de baixa altitude tendem a dispersar mais radiação de volta ao espaço do que absorvem da superfície, produzindo um efeito geral de resfriamento. Por outro lado, cirros de maior altitude muitas vezes aquecem a atmosfera subjacente em até dez graus Celsius.
Em 2013, usou modelos climáticos globais em 3D para explorar a possibilidade de que nuvens de água em grandes altitudes poderiam ter mantido Marte quente no passado.
Os resultados iniciais foram promissores: se uma quantidade suficiente de vapor d’água chegasse à atmosfera, digamos, após o impacto de um asteroide grande vaporizar gelo na superfície, a camada de nuvem resultante poderia ter prendido calor suficiente para manter o clima quente o bastante para a água líquida. Mas esses modelos ficaram aquém de determinar quanta cobertura de nuvens seria necessária.
Estratégias de terraformação
É aí que entra o estudo de Ramirez. Usando um modelo climático simplificado que permite aos pesquisadores ajustar coisas como espessura da nuvem e tamanho das partículas de gelo, Ramirez e seu coautor James Kasting determinaram que seria necessária uma camada de cirros de 75% de cobertura ou mais. Isso é muita nuvem. Para efeito de comparação, cerca de 50% da superfície do nosso planeta é coberta de nuvens a qualquer momento, e só metade delas são da variedade cirro de grande altitude. Ainda assim, é possível que o Planeta Vermelho tenha sido coberto, no passado distante, por uma névoa que retêm o calor? Nós não podemos descartar isso, diz Ramirez. “Essas nuvens cirros elevadas pode parecer fora da realidade, mas também poderiam ter sido algo realmente especial sobre o passado de Marte”, diz ele. “Isso é algo que deixamos como uma questão em aberto.” Na verdade, responder a essa pergunta vai ser difícil. Levantamentos geológicos mais detalhados de Marte ajudariam, especialmente se pudermos entrar em contato com rochas de quatro bilhões de anos atrás – que abrigam pistas sobre a atmosfera antiga do planeta – ou, melhor ainda, fósseis de vida antiga. “Nós realmente precisamos de paleontólogos indo a Marte”, diz Ramirez.
Conceito artístico de Marte durante todo o processo de terraformação ()
Chasma Boreale e a calota polar norte de Marte (NASA/JPL/Arizona State University, R. Luk)