Telescópio Euclid recém-lançado pela ESA vai explorar “lado escuro” do universo

Equipamento que estudará matéria e energia escura observa galáxias a mais de 10 bilhões de anos-luz. Entenda como ele funciona
representação artística do telescópio euclid no ponto L2
Imagem: ESA/Divulgação

A agência espacial europeia (ESA, na sigla em inglês) lançou o Telescópio Espacial Euclid neste sábado (1), às 12:12 no horário de Brasília. A missão partiu da Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida, em um foguete Falcon 9, da SpaceX. Menos de uma hora depois, o controle da missão recebeu um sinal do telescópio confirmando o sucesso do lançamento.

O telescópio Euclid poderá observar galáxias a mais de 10 bilhões de anos-luz em um terço do céu. Com seus dois sistemas de câmeras, ele deve permitir a construção de um mapa 3D da distribuição de matéria no universo. O objeto de estudo do Euclid é uma dupla de entidades conhecidas como matéria escura e energia escura.

Esta tal matéria escura é uma substância que, estima-se, compõe 27% do universo que conhecemos. Só que ela é indetectável: sabemos de sua existência somente por sua influência gravitacional.

A energia escura é igualmente misteriosa. Os astrônomos acreditam que ela compõe coisa de 68% do cosmos e atua na contramão da gravidade, arrastando galáxias uma para longe da outra e acelerando a expansão do universo.

A dupla desempenha um papel importante na distribuição e movimento de objetos no universo, como as galáxias. E desvendar suas características pode ajudar os astrônomos a entender do que é feito o universo, como ele está se expandindo e como este movimento mudou ao longo dos últimos 10 bilhões de anos (cerca de 3,8 bilhões após o Big Bang).

Como é o telescópio Euclid

Para explorar estas questões, o telescópio espacial Euclid conta com um espelho de 1,2 metro de diâmetro e dois instrumentos. Quanto maior o espelho de um telescópio, – e mais detalhes pode fornecer aos cientistas. O espelho do Telescópio Espacial James Webb, por exemplo, tem esmagadores 6 metros de diâmetro. O Hubble, por outro lado, tem 2,4 metros.

Isso significa, segundo a ESA, que o Euclid fornecerá menos detalhes finos em suas observações. Mas a resolução mais baixa do telescópio é adequada para atingir seus objetivos científicos. Ele é projetado, afinal, para oferecer um amplo campo de visão e uma qualidade de imagem estável: ele poderá registrar uma área do céu mais de cem vezes maior do que a registrada pela câmera NIRCam do James Webb, por exemplo.

No último sábado (1), o Euclid começou sua viagem em direção ao segundo ponto de Lagrange, ou L2: um dos cinco pontos no espaço identificados pelo astrônomo italiano Joseph Louis Lagrange, no século 18, em que as forças gravitacionais do Sol e da Lua se equilibram. Objetos deixados no L2, a 1,6 milhões de quilômetros de nós, ficam parados em relação à Terra, acompanhando seu movimento ao redor do Sol (ou translação).

O Euclid tem uma câmera para a luz visível e um instrumento para o infravermelho próximo – ou seja, ondas eletromagnéticas um pouco menos energéticas e mais compridas do que aquelas que nosso cérebro entende como as cores do arco-íris. 

A radiação infravermelha é também o que nós chamamos de calor. E aí está a grande vantagem de colocar um telescópio no L2: ele pode ficar de costas para o Sol e a Terra, escondido atrás de um protetor térmico. Assim, fica protegido contra o calor destes corpos que pode gerar interferência nas observações de infravermelho.

A NASA também enviou o James Webb para girar em torno do L2 – e ele demorou cerca de um mês após o lançamento para atingir seu destino. Assim que o Euclid encontrar seu colega de observações, ele passará por uma fase de teste e calibragem de seus instrumentos que deve durar dois meses. Só então começará os trabalhos que devem se estender, no mínimo, pelos próximos seis anos.

O nome do telescópio Euclid homenageia Euclides de Alexandria, matemático grego considerado o pai da geometria, que viveu por volta de 300 a.C. O Euclid é principalmente uma missão da ESA, mas conta com a colaboração da NASA e de mais de 2.000 cientistas em 13 países europeus, nos Estados Unidos, no Canadá e no Japão.

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