??? ?? ????????, ?????? //emiaow553.com/tag/zoologia/ Vida digital para pessoas Thu, 24 Oct 2024 20:37:06 +0000 pt-BR hourly 1 //wordpress.org/?v=6.6.2 //emiaow553.com/wp-content/blogs.dir/8/files/2020/12/cropped-gizmodo-logo-256-32x32.png ???? ?? 15?? ??? ????????,??????,????????? //emiaow553.com/tag/zoologia/ 32 32 ?????? sm???????????????? //emiaow553.com/timpano-pode-ter-salvado-repteis-de-extincoes-em-massa/ Thu, 24 Oct 2024 21:25:37 +0000 //emiaow553.com/?p=605121 Membrana na parte interna do ouvido surgiu em ancestral comum de lagartos, crocodilos, jacarés, cobras, tartarugas e aves há 250 milhões de anos

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Texto: Enrico Di Gregorio/Revista Pesquisa Fapesp

Para um lagarto sobreviver no ambiente escuro, fumacento e com pouca comida que foi a Terra entre cerca de 250 milhões e 200 milhões de anos atrás, período marcado por dois eventos de extinção em massa, um bom ouvido era fundamental. Com ele, o réptil podia escutar melhor as presas e os predadores ou mesmo praticar a comunicação vocal com companheiros de espécie.

A membrana timpânica, uma película que se movimenta quando entra em contato com ondas sonoras, foi uma adição evolutiva que ampliou o espectro sonoro detectado por répteis. Essa pequena parte do sistema auditivo de aves, jacarés, crocodilos, cobras, lagartos e tartarugas foi fundamental para esses animais sobreviverem e se proliferarem ao longo da história evolutiva, segundo artigo publicado em 10 de outubro na revista Current Biology. As aves estão no estudo porque, evolutivamente, elas e répteis têm o mesmo ancestral comum.

A pesquisa tem implicações em um dilema importante na biologia evolutiva. “Há um grande debate sobre a evolução da audição em répteis: se ela surgiu de maneira independente em vários grupos ou a partir de um único ancestral? conta o paleontólogo Mario Bronzati, pesquisador brasileiro em estágio de pós-doutorado na Universidade de Tübingen, na Alemanha, e autor principal do artigo.

A disputa entre hipóteses era potencializada pelo tamanho do grupo dos répteis, que hoje tem mais de 20 mil espécies, e pela falta de estudos focados na evolução da audição desse grupo. “Muitas pesquisas se debruçaram sobre animais-modelo, como galinhas e camundongos? diz Bronzati. Com esse diferencial, os resultados expostos no artigo recente apontam que a audição surgiu a partir de um único evento e foi herdada pelos descendentes.

Os pesquisadores chegaram a essas conclusões por meio do estudo de fósseis e embriões de répteis, em uma combinação de duas áreas do conhecimento: a paleontologia e a biologia evolutiva do desenvolvimento, que estuda os embriões e o desenvolvimento dos organismos a partir da evolução e é chamada pelos pesquisadores de evo-devo.

“Não teríamos conseguido responder a todas as perguntas que fizemos sem essa combinação? explica a bióloga Tiana Kohlsdorf, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP) e coordenadora do estudo. “Por meio dos fósseis conseguimos inferir uma escala de tempo mais antiga, que inclui o ancestral comum, e o desenvolvimento no período de uma vida, a partir dos embriões, permite ver como a membrana se desenvolve em répteis ainda viventes.?/p>

A análise dos embriões também é importante porque a membrana timpânica é um tecido mole, que não se preserva nos fósseis. Isso gera um desafio para a identificação desse tipo de ouvido em animais ancestrais. Mesmo os caracteres ósseos associados à audição são variáveis e nem sempre servem como pista, como ocorre, por exemplo, com uma pequena concha do crânio de lagartos que não existe em jacarés.

“Os autores abordam a questão de uma maneira inovadora? diz a paleontóloga brasileira Gabriela Sobral, do Museu de Stuttgart, na Alemanha, que não participou do estudo. Em 2019, ela publicou um artigo na revista PeerJ sobre a identificação do tímpano na linhagem ancestral que daria origem a crocodilianos e a aves. “O artigo mostra como a principal característica usada para identificar a audição timpânica em fósseis, a concha, é uma condição específica de cobras e lagartos, e a identificação em outros grupos de répteis deve ser feita considerando outras características anatômicas.?/p>

“A paleontologia e a evo-devo se complementam: uma área fornece à outra exemplos concretos do que é factível existir dentro de um universo quase infinito de possibilidades? continua Sobral. “O artigo mostra como a paleontologia pode ir além do óbvio e como é uma peça fundamental para entendermos a evolução da vida na Terra.?/p>

Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

Imagem: Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

Uma parte da pesquisa foi comparar embriões de lagartos (Tropidurus) e jacarés (Caiman). Os pesquisadores coletaram os ovos em um ambiente urbano na cidade de São Simão, no interior paulista, no caso dos lagartos, e na fazenda de jacarés Caimasul em Corumbá, Mato Grosso do Sul. “Foi um grande desafio, ainda estávamos no período da pandemia? lembra Bronzati.

No laboratório, a equipe abriu com cuidado as finas cascas dos ovos para examinar os filhotes de jacarés e lagartos, ainda mergulhados na solução aquosa que forma o líquido amniótico. Foram utilizados microscópios, aparelhos de tomografia e técnicas tradicionais de exames de tecidos. Os pesquisadores viram que o processo de formação do ouvido timpânico era muito parecido entre os dois animais e tiveram os mesmos resultados quando compararam esses embriões com os de aves.

“Em todos esses animais, a cavidade timpânica se forma pela extensão da cavidade faríngea, conectada com a garganta? detalha Bronzati. “E a membrana timpânica surge em uma região chamada segundo arco faríngeo.?Para Kohlsdorf, outro ponto importante é que “enquanto vemos essa similaridade entre aves, jacarés e lagartos, nos embriões dos mamíferos o desenvolvimento é diferente, com a formação da membrana timpânica a partir do primeiro arco faríngeo?

“Isso tudo fica ainda mais intrigante quando notamos que vários parentes extintos dos répteis não tinham o ouvido timpânico? completa Bronzati. “Nós achamos que a evolução desse atributo favoreceu a sobrevivência do grupo, ainda mais considerando os eventos de extinção em massa.?/p>

Dois desses eventos de extinção marcaram o período crucial para o surgimento do ouvido timpânico. O primeiro, há 250 milhões de anos, ocorreu durante o período Permiano e varreu mais de 95% das espécies marinhas e 70% das terrestres. Não se sabe ao certo o que causou a extinção, mas uma das hipóteses levanta a possibilidade de uma combinação de mudanças climáticas e erupções vulcânicas. Fatores semelhantes levaram a uma nova catástrofe 50 milhões de anos depois, entre os períodos Triássico e Jurássico, com a extinção de 80% das espécies do planeta.

Para Sobral, é preciso investigar melhor a origem e o desenvolvimento da cavidade do ouvido médio e de estruturas relacionadas. “Essas questões só recentemente estão sendo analisadas em mamíferos, mas ainda são desconhecidas em répteis.?/p>

Outras respostas residem na genética. “Não sabemos se os genes que formam a membrana timpânica nas galinhas e nos outros animais são os mesmos? diz Bronzati. Há, ainda, a necessidade de investigar a perda de partes do aparelho auditivo em alguns répteis, como as serpentes, que perderam a membrana timpânica, e alguns lagartos. “?um artigo que abre portas para novas áreas de pesquisa? conclui Sobral.

Projetos
1.
Ecologia, evolução e desenvolvimento (eco-evo-devo) na herpetofauna brasileira (n° 15/07650-6); Modalidade Projeto Temático; Pesquisadora responsável Tiana Kohlsdorf (USP); Investimento R$ 1.261.130,44.
2. Evo-devo em ambientes dinâmicos: Implicações das mudanças climáticas na biodiversidade (n° 20/14780-1); Modalidade Projeto Temático; Programa Biota; Pesquisadora responsável Tiana Kohlsdorf (USP); Investimento R$ 3.229.900,69.
3. Preenchendo lacunas no entendimento da macroevolução de Crocodylomorpha usando métodos comparativos (n° 22/05697-9); Modalidade: Bolsa de Pós-doutorado; Pesquisador responsável Max Cardoso Langer (USP); Bolsista Pedro Lorena Godoy; Investimento R$ 88.743,56.

Artigos científicos
BRONZATI, M. et al. Deep-time origin of tympanic hearing in crown reptiles. Current Biology. v. 34, p. 1-7. out. 2024.
SOBRAL, G. et al. The braincase of Mesosuchus browni (Reptilia, Archosauromorpha) with information on the inner ear and description of a pneumatic sinus. PeerJ. v. 7. maio 2019.

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??? ????? ??? ????? ??? //emiaow553.com/fotografias-permitem-estudar-fosseis-destruidos-no-incendio-do-museu-nacional/ Wed, 25 Sep 2024 16:57:22 +0000 //emiaow553.com/?p=597500 Pesquisadores descreveram espécies de aves a partir de imagens de alta resolução

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Texto: Enrico Di Gregorio/Revista Pesquisa Fapesp

Na noite de 2 de setembro de 2018, chamas causadas por um curto-circuito na rede elétrica do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN-UFRJ) se espalharam rapidamente pela parte interna do prédio e consumiram 90% do acervo científico da instituição, formado de peças geológicas, arqueológicas, etnográficas, zoológicas e paleontológicas ?no caso dos fósseis, cerca de 40% foi perdido. Desde então, pesquisadores se organizaram para tentar recuperar, de diversas formas, objetos que não foram destruídos.

Enquanto alguns deles escavaram as cinzas em busca do que não tinha sido totalmente queimado, outros conseguiram achar, em fotografias guardadas em acervos digitais, registros em alta qualidade de uma parte do material perdido. Foi a partir de imagens que paleontólogos descobriram espécies às quais pertenciam seis fósseis de aves, conforme descrito em um artigo publicado em julho na revista Journal of Ornithology.

As peças eram ossos dos pés: um fragmento do tarsometatarso e quatro falanges, uma delas conectada a uma pontiaguda garra das aves antigas. No dia do incêndio, as peças estavam em uma estante na Coleção de Paleovertebrados do museu e foram completamente destruídas pelas chamas.

Para estudar o material, os pesquisadores fotografaram, na mesma escala e posição, outros materiais ósseos de aves parecidas e compararam os esqueletos. A conclusão foi de que o tarsometatarso perdido um dia pertenceu a uma ema (Rhea americana) e as falanges a aves de rapina da família dos acipitrídeos, que reúne águias, harpias e gaviões, por exemplo. A presença das emas indica que, no passado, a região onde agora é o interior do Ceará tinha uma vegetação esparsa, como a paisagem atual do Cerrado e da Caatinga. “Os acipitrídeos vivem ali até hoje. Já as Rhea desapareceram por um período, mas foram reintroduzidas e hoje também podem ser encontradas? diz o paleontólogo João Paulo da Costa, estudante de doutorado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e primeiro autor do artigo.

Para a paleontóloga Luciana Carvalho, do Museu Nacional, o método é confiável. Ela não participou do estudo, mas é responsável pela curadoria da coleção de fósseis de vertebrados da instituição. “As fotografias podem, sim, servir para análise. O importante é que sejam de boa qualidade, tenham sido tiradas de vários ângulos do fóssil e não sejam muito editadas.?/p>

Além das conclusões científicas, a pesquisa mostra a importância dos registros fotográficos e dos acervos digitais de coleções fossilíferas. “?uma forma de proteger as informações? defende Costa. Antigamente, na paleontologia, registros desse tipo eram impossíveis. Quando paleontólogos queriam registrar seus fósseis, apelavam para desenhos científicos feitos à mão.

Alguns dos ossos fotografados eram de aves de rapina, como esse gavião-de-coleira

Alguns dos ossos fotografados eram de aves de rapina, como esse gavião-de-coleira. Imagem: Herminio Ismael Araujo Junior / MN-UFRJ (fóssil) | Luciano Bernardes (foto do avião-de-penacho)

Agora há câmeras fotográficas, e também aplicativos de celular que permitem aos paleontólogos fazer modelos digitais e tridimensionais dos fósseis. No Museu Nacional, atualmente os pesquisadores usam vários desses métodos para digitalizar a coleção que sobreviveu ao incêndio. Contudo, de acordo com Carvalho, ainda não é possível ter uma dimensão precisa de quanto do material perdido já havia sido fotografado.

Em São Paulo, iniciativas semelhantes ocorrem no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP). “O MZ-USP está começando a construir um acervo digital do seu material paleontológico e neontológico [relacionado a organismos que ainda existem] com o uso de máquinas fotográficas e tomógrafos? afirma o paleontólogo Hussam Zaher, diretor do museu.

A questão é que a digitalização do acervo cria facilidades e desafios ao mesmo tempo, uma vez que o processo demanda tempo e protocolos de registro e análise. No Museu Nacional, as estantes de fósseis de vertebrados ocupam um espaço de 105 metros quadrados (m2). “?uma coleção muito grande e temos falta de equipamentos, espaço e profissionais? afirma Carvalho. Zaher acrescenta que, mesmo com a melhor tecnologia, os exemplares digitais não substituem os físicos.

Os ossos descritos no estudo de Costa foram encontrados pela primeira vez em 1961 pelos paleontólogos Carlos de Paula Couto e Fausto Luís e Souza em uma cavidade esculpida pela água em uma rocha ?chamada de tanque natural ? no Sítio Paleontológico João Cativo, no município de Itapipoca, Ceará. De lá, foram enviados com vários outros fósseis descobertos na região para o Museu Nacional.

Esse foi o primeiro registro de fósseis de aves em tanques naturais do Nordeste brasileiro, apesar de essas cavidades naturais existirem em abundância por ali, com material paleontológico em seu interior. “O caso das aves é especial porque os ossos desses animais são pneumáticos [ocos e com paredes finas capazes de armazenar ar], e isso faz com que eles sejam mais vulneráveis à quebra e degradação depois que o animal morre? afirma Costa. “Além disso, geralmente as pessoas dão uma atenção maior aos animais da megafauna.?/p>

Artigo científico
COSTA, J. P. da et al. Fossil birds from the João Cativo paleontological site, Itapipoca, Ceará, Brazil. Journal of Ornithology. On-line. 26 jul. 2024.

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????? ????????, ??????? //emiaow553.com/ecologia-capa-de-bacterias-protege-anfibios/ Sat, 31 Aug 2024 19:03:44 +0000 //emiaow553.com/?p=589637 Sensíveis a mudanças climáticas e poluentes, sapos e pererecas resistem com auxílio da microbiota da pele

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Texto: Laura Tercic/Revista Pesquisa Fapesp

Quando chegou de São Paulo para assumir um cargo de pesquisador na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), o biólogo Leandro Moreira logo estranhou que as áreas de proteção ambiental próximas ao campus estivessem repletas de sapos e pererecas. A surpresa tinha um motivo: concentrações elevadas de arsênio, um potente veneno sabidamente existente nos solos e águas da região.

O arsênio está presente de forma natural em Ouro Preto (MG) e em todo o Quadrilátero Ferrífero, e as atividades de mineração intensificaram a contaminação ao longo das décadas. Por ser tóxico e carcinogênico, está entre os elementos poluentes mais perigosos à saúde, ao lado de mercúrio, chumbo e cádmio ?uma dose de 125 miligramas de arsênio pode matar uma pessoa adulta. Como sobreviveriam, então, animais que respiram através de uma fina pele e precisam estar em contato constante com a água, o que os torna extremamente vulneráveis à toxicidade ambiental?

A sobrevivência dos anfíbios em ambiente contaminado agora foi explicada, pelo menos em parte. O estudo coordenado por Moreira identificou bactérias capazes de resistir ao arsênio na pele de anfíbios da região. E foi além: conseguiu, pela primeira vez, indícios experimentais de que a resistência ao elemento químico é estendida ao seu hospedeiro, protegendo-o, em algum nível, da intoxicação, conforme artigo publicado em maio na revista Scientific Reports.

Os anfíbios (rãs, sapos, pererecas, salamandras e cecílias, ou cobras-cegas) são conhecidos por serem sensíveis a mudanças de temperatura, radiação solar e poluentes. “Se um ambiente natural é repentinamente perturbado pela liberação de alguma substância ou de mudança no clima, eles costumam ser os primeiros vertebrados a desaparecer? explica Moreira. São, por isso, utilizados por muitos pesquisadores como bioindicadores de qualidade ambiental e apelidados de “canários de minas das mudanças climáticas globais? O termo se refere a uma prática antiga no Reino Unido, na qual as pequenas aves eram levadas aos túneis de mineração para alarmar sobre eventuais concentrações elevadas de gases nocivos. Se começassem a desfalecer, era sinal de que os trabalhadores deveriam sair.

O sapo-ferreiro (Boana faber) é uma das espécies que resistem no Quadrilátero Ferrífero e foi incluído no experimento

O sapo-ferreiro (Boana faber) é uma das espécies que resistem no Quadrilátero Ferrífero e foi incluído no experimento. Imagem: Adriano Lima Silveira

Nos animais vertebrados, a pele é a primeira linha de defesa contra patógenos e substâncias tóxicas. Os anfíbios têm a pele permeável, o que significa que as substâncias do ar e da água entram com facilidade. A microbiota cutânea, que é a comunidade de microrganismos composta por bactérias, vírus e fungos que vivem e prosperam na pele dos vertebrados, acaba sendo uma das únicas guaritas a separar o meio externo do interior do corpo.

Assim como as bactérias gastrointestinais, cuja importância para a saúde do organismo tem sido cada vez mais estudada, as cutâneas agem em grupo. Elas reconhecem a presença umas das outras e podem passar a secretar substâncias no meio que facilitam sua proliferação e proteção, formando uma camada conhecida como biofilme. Os pesquisadores da Ufop já tinham detectado a tolerância ao arsênio pelas bactérias em 2019, conforme descreveram em artigo na Herpetology Notes. Mas isso não significava necessariamente que sapos e pererecas também se beneficiavam. Faltava provar se o biofilme formado pelos microrganismos conferia o poder de bloquear a substância.

Abatedouro de beira de estrada

Moreira e a bióloga Isabella Cordeiro, estudante de doutorado em seu laboratório, precisavam selecionar representantes de espécies que estivessem presentes tanto no ambiente rico em arsênio quanto em área livre de poluentes. Esse era o caso de cinco espécies ?quatro pererecas e um sapo ?que existem tanto no Quadrilátero Ferrífero quanto em uma reserva de mata fechada do município de João Neiva, no Espírito Santo (ES), onde não há arsênio na água. Os dois viajaram então à reserva capixaba para recolher microrganismos da pele dos anfíbios.

Graças a um desses encontros fortuitos que podem acontecer quando se vai a campo, enxergaram, no caminho de volta, um criadouro de rãs-touro (Lithobates catesbeianus), espécie norte-americana criada comumente para alimentação. Os pesquisadores pararam para conversar com os ranicultores e descobriram que as peles das rãs eram descartadas após a retirada da carne. O proprietário se dispôs então a enviar o material, congelado, à universidade.

De volta ao laboratório e recebida a encomenda, os pesquisadores esterilizaram as peles de rã-touro e aplicaram quatro tratamentos diferentes às suas faces externas: bactérias tolerantes a arsênio da pele de anfíbios do Quadrilátero Ferrífero, bactérias presentes nos animais da área não contaminada e dois controles ?um livre de bactérias e outro apenas com Escherichia coli, que não costuma habitar a pele (ver infográfico abaixo). Os resultados apoiaram a hipótese da capa protetora: a passagem do arsênio foi bloqueada apenas nas peles revestidas por bactérias recolhidas de anfíbios nas áreas naturalmente contaminadas do Quadrilátero Ferrífero.

Imagem: Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

Imagem: Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

O grupo observou também que as bactérias do experimento proliferaram na solução contida no tubo de ensaio, o que pode significar que estejam adaptadas a tirar vantagem do arsênio, obtendo energia a partir do processamento desse composto. Em outras regiões do mundo contaminadas por metais e semimetais pesados, pesticidas, herbicidas e outros tipos poluentes, já foram feitos estudos sobre a composição e a tolerância das bactérias da microbiota cutânea de anfíbios, mas, segundo os autores, ninguém havia ainda avaliado o papel das bactérias na permeabilidade da pele aos contaminantes.

Protetora sim, infalível não

“Os anfíbios continuam sendo excelentes bioindicadores de perturbações ambientais, mas há também de olhar para o contato com cada tipo de ameaça e entender se a evolução teve tempo de resposta? sugere Moreira. No caso das áreas ricas em minério, onde o contaminante já estava presente antes mesmo da intervenção humana, o tempo prolongado de exposição pode ter permitido que os microrganismos se adaptassem.

Foi pensando no tempo evolutivo necessário e em tipos de adaptação que o ecólogo brasileiro Guilherme Becker, da Universidade Estadual da Pensilvânia (PSU), nos Estados Unidos, dedicou-se à pesquisa com anfíbios e répteis de diferentes países para entender como patógenos afetam a microbiota e como, na via inversa, os microrganismos afetam os patógenos. Seu grupo investiga também a influência de fatores do clima nessa interação.

Esse efeito é especialmente relevante no contexto de uma doença pandêmica preocupante entre os anfíbios, a quitridiomicose. O fungo Batrachochytrium dendrobatidis, também conhecido como quitrídio, ou apenas Bd, é responsável pela extinção de dezenas de espécies de rãs, sapos e pererecas, e por afetar outras centenas.

A perereca-de-pijama (Hypsiboas polytaenius) vive na vegetação em torno de áreas alagadas, onde deposita os ovos

A perereca-de-pijama (Hypsiboas polytaenius) vive na vegetação em torno de áreas alagadas, onde deposita os ovos. Imagem: Adriano Lima Silveira

Na PSU, o grupo coordenado pelo brasileiro, que é coautor do artigo sobre a tolerância ao arsênio, já descobriu, por exemplo, que períodos prolongados de seca diminuem a qualidade de proteção do microbioma cutâneo contra fungos, como descreve artigo publicado em janeiro na Ecology Letters. A invasão por outros patógenos, como vírus ou fungos (o quitrídio ou outros), pode diminuir essa proteção.

O contato pode ser nocivo ou benéfico. “?como a vacinação: com a exposição a concentrações pequenas, constantes e contínuas de vírus ou fungos ao longo do tempo, a tendência é de que a microbiota se torne mais combativa, com tipos de bactérias produtoras de substâncias antifúngicas, porque a exposição gradual altera a composição de espécies de bactérias que ‘moram?no sapo naquele momento? explica Becker, que publicou esses resultados em 2023 na revista Philosophical Transactions of the Royal Society B.

Alguns tipos bacterianos já foram identificados como bons contra o quitrídio, como algumas espécies de Pseudomonas, mas os pesquisadores ressaltam que nenhum deles, sozinho, garante proteção. A chave está na diversidade de espécies da comunidade de microrganismos vivendo e interagindo na pele. Quando um microbioma (ou uma floresta) é diverso, a invasão por novatos se torna mais difícil e o sistema como um todo tende a ser mais estável.

Se a diversidade é quebrada, a estabilidade também é, e o sistema se torna vulnerável, facilitando a entrada dos “inimigos? Os estudos de Becker indicam que, além de patógenos e eventos de seca, outros fatores, como cobertura florestal e a radiação solar direta, podem causar essa desestabilização da diversidade em múltiplas escalas: da microbiota aos ecossistemas.

Em testes com anfíbios do Brasil e de Madagascar descritos em 2022 na revista Animal Microbiome, ele verificou que as espécies ameaçadas de extinção pelo quitrídio têm microbiotas muito menos diversas do que as não ameaçadas. Outra análise, em parceria com o herpetólogo Jackson Preuss, da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), descobriu que lagos com alta concentração de coliformes fecais também prejudicam a composição de espécies da microbiota, conforme artigo de 2020 na Environmental Science and Technology.

O cururu-pequeno (Rhinella crucifer) vive mais distante da água, com microbiota menos resistente

O cururu-pequeno (Rhinella crucifer) vive mais distante da água, com microbiota menos resistente. Imagem: Adriano Lima Silveira

O papel antifúngico da microbiota cutânea tem recebido maior atenção por causa do interesse em buscar soluções e desenvolver tratamentos probióticos para a doença, de acordo com a microbióloga mexicana Eria Caudillo, da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), que considera fundamental expandir o foco da exploração para outras funções, como fez o estudo da Ufop. “A quitridiomicose afeta cerca de 8% da biodiversidade de anfíbios no mundo, mas outros fatores são mais disseminados, como desmatamento, espécies invasoras e contaminação.?/p>

Caudillo trabalha com o axolote, uma salamandra criticamente ameaçada de extinção, e destaca dificuldades também relatadas pelos pesquisadores brasileiros: a limitação a estudos em anfíbios vivos pela dificuldade de obter permissões dos órgãos ambientais e a necessidade de recursos e infraestrutura. “Essa é a beleza do experimento realizado com esses anfíbios tolerantes ao arsênio, o aparato inventado foi inovador, sem ser custoso e sem matar animais desnecessariamente.?Ela ressalta outros potenciais desse conhecimento, como o desenvolvimento de filtros biológicos com bactérias resistentes a poluentes.

O rápido ciclo de vida das bactérias faz com que sejam capazes de responder às pressões evolutivas muito mais depressa do que os animais. Isso talvez as torne as melhores combatentes ante as alterações ambientais causadas pela ação humana. Mas não são invencíveis. Quando há impactos grandes e repentinos, não há diversidade, ou capa defensora, que resista.

Artigos científicos
CORDEIRO, I. F. et al. Amphibian tolerance to arsenic: Microbiome-mediated insights. Scientific Reports. v. 14, 10193. 3 mai. 2024.
CORDEIRO, I. F. et al. Arsenic resistance in cultured cutaneous microbiota is associated with anuran lifestyles in the Iron Quadrangle, Minas Gerais State, Brazil. Herpetology Notes. v. 12. 30 out. 2019.
GREENSPAN, S. E et al. Low microbiome diversity in threatened amphibians from two biodiversity hotspots. Animal Microbiome. v. 4, 69. 29 dez. 2022.
PREUSS, J. F. et al. Widespread pig farming practice linked to shifts in skin microbiomes and disease in pond-breeding amphibians. Environmental Science and Technology. v. 54, n. 18, p. 11301-12. 26 ago. 2020.
BUTTIMER, S. et al. Skin microbiome disturbance linked to drought-associated amphibian disease. Ecology Letters. v. 27, n. 1, e14372. 26 jan. 2024.
SIOMKO, S. A. Selection of an anti-pathogen skin microbiome following prophylaxis treatment in an amphibian model system. Philosophical Transactions of the Royal Society B. v. 378, n. 1882. 31 jul. 2023.
GREENSPAN, S. E. et al. Low microbiome diversity in threatened amphibians from two biodiversity hotspots. Animal Microbiome. v. 4, 69. 29 dez. 2022.

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?????? ?????-playtech?????????? //emiaow553.com/nos-limites-de-seu-ambiente-ideal-aves-capricham-na-escolha-de-alimento/ Fri, 09 Aug 2024 18:45:39 +0000 //emiaow553.com/?p=584994 Estudo prevê uma diminuição na variedade de frutos consumidos, prejudicando a dispersão de sementes e a sobrevivência de plantas a longo prazo

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Texto: Gilberto Stam/Revista Pesquisa Fapesp

Um estudo publicado este mês na revista científica Science (19/7), envolvendo equipes de 10 países incluindo pesquisadores brasileiros, sugere que ambientes estressantes, como nos extremos de sua distribuição geográfica, podem afetar a estratégia de alimentação das aves. Os pesquisadores notaram que as aves escolhem frutos de tamanhos diferentes se estiverem no centro ou na borda de seu hábitat, com implicações importantes para as dinâmicas florestais.

“Quando estão na região mais central de sua área de distribuição, as aves comem frutos de tamanhos variados? diz o ecólogo brasileiro Lucas Martins, pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia. Quando estão perto da fronteira de sua distribuição, são mais seletivas e escolhem os maiores frutos que conseguem abocanhar. Uma ave do Cerrado, por exemplo, tende a comer frutos maiores em relação ao tamanho do próprio bico quando vive perto de outro ambiente, como a Amazônia ou a Caatinga. As exceções são aquelas aves com dietas mais variadas, incluindo itens como insetos. “Por terem uma fonte alternativa de alimento, essas aves podem adquirir energia por meio de outros recursos em vez de comer os maiores frutos possíveis? deduz o ecólogo.

Os pesquisadores estudaram 97 espécies de aves e 831 de plantas frutíferas, em 126 localidades dos seis continentes, usando dados de estudos conduzidos em diversos países. As informações incluíam características como o tamanho da abertura do bico da ave, a frequência de alimentação e o tamanho dos frutos ingeridos.

O saí-azul (Dacnis cayana) se alimenta de frutos, mas também néctar e insetos

O saí-azul (Dacnis cayana) se alimenta de frutos, mas também néctar e insetos. Imagem: João Victor Cardoso Fernandes

Segundo Martins, é provável que, escolhendo frutos maiores e mais nutritivos, as aves que vivem próximo das bordas de suas distribuições adquiram a energia da qual precisam para lidar com fatores de estresse típicos dessas áreas, que podem variar desde temperaturas desafiadoras a uma menor abundância de alimento disponível. A quantidade de predadores e a competição entre aves por alimentos também podem aumentar para algumas espécies perto das bordas, já que a composição da fauna tende a mudar na transição entre hábitats.

“O trabalho fez uma análise ampla e conseguiu identificar uma variação até então desconhecida no comportamento alimentar das aves? destaca a bióloga Camila Ribas, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que não participou do estudo.

No entanto, ela ressalta que a distribuição é um dado impreciso para aves. “?comum encontrar espécies fora da distribuição antes atribuída a elas, o que acaba ampliando a área de ocorrência conhecida? relata. Outro problema é que a classificação das aves nem sempre é bem resolvida ?duas populações podem ser vistas como espécies separadas ou uma única, conforme a definição aplicada por cada pesquisador.

A bióloga considera que estudos com bancos de dados são importantes e podem permitir novas sínteses de processos naturais. “No entanto, é importante fazer trabalho de campo para aumentar a quantidade de informações e melhorar sua qualidade.?/p>

O sabiá-do-campo (Mimus saturninus) habita áreas de campo e urbanas em boa parte do país

O sabiá-do-campo (Mimus saturninus) habita áreas de campo e urbanas em boa parte do país. Imagem: Rodrigo Missano / Unesp

Migração das plantas

Segundo a bióloga Carine Emer, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e do Instituto Juruá, na Amazônia, e coautora do artigo, o comportamento das aves pode ter implicações ecológicas importantes. “A tendência é que, com as mudanças climáticas, o ambiente fique cada vez mais estressante para as aves? antecipa.

Segundo ela, ao passar a selecionar frutos maiores, as aves podem acabar deixando de lado as espécies que produzem frutos menores, que também são importantes na composição das florestas e perdem a carona que pode levá-las para longe da árvore-mãe. Entre as funções ecológicas desempenhadas pelas aves está essa dispersão de sementes, depositadas com as fezes depois de digeridos os frutos. Se essa parceria entre plantas e dispersores falha, algumas plantas podem não conseguir se estabelecer em outras regiões, o que também pode prejudicar a recuperação de áreas degradadas que dependem do aporte de sementes a partir dos locais onde a biodiversidade se mantém.

Outro fator que afeta a dispersão de sementes são as quedas acentuadas da população de animais, processo chamado de defaunação. A redução mundial de dispersores de sementes já diminuiu a capacidade das plantas de se adaptar às mudanças climáticas em 60%, segundo outro artigo publicado na revista Science em janeiro de 2022. Isso acontece em grande parte porque os animais são responsáveis pelo transporte das sementes de 90% das espécies de árvores das florestas tropicais.

Artigos científicos
MARTINS, L. P. et al. Birds optimize fruit size consumed near their geographic range limits. Science. v. 385, n. 6706. 19 jul 2024.
FRICKE, E. C. et al. The effects of defaunation on plants?capacity to track climate change. Science. v. 375, n. 6577. p. 210-4. 13 jan 2022.

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??? ?? ???????? ??- ??? ??? //emiaow553.com/quase-2-500-especies-de-animais-e-plantas-em-risco-de-extincao-no-brasil/ Tue, 06 Aug 2024 13:50:37 +0000 //emiaow553.com/?p=584216 Levantamento internacional indica que 515 delas estão em estágio crítico de conservação e 16 já extintas

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Texto: Gilberto Stam/Revista Pesquisa Fapesp

O sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), sagui com 25 centímetros (cm) de comprimento e parte do corpo coberta de pelo branco, vive uma situação dramática. Na cidade de Manaus, é predado por cachorros e gatos; nas matas próximas, é capturado para ser vendido como animal de estimação. Seu hábitat está diminuindo por causa do desmatamento e da competição por alimento com o sagui-de-mãos-douradas (Saguinus midas), que expandiu sua distribuição geográfica para a região onde antes só vivia o saium-de-coleira.

Estima-se que a população do sauim-de-coleira deve ter diminuído 80% desde 1997. Por essa razão, a espécie foi classificada como criticamente em perigo, categoria que representa o maior risco de extinção, quando há grandes reduções das populações, na atualização mais recente da Lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), divulgada em junho.

As equipes e organizações de 160 países ligadas à IUCN avaliaram 18.391 espécies de plantas e animais do Brasil e classificaram 2.475 como ameaçadas de desaparecimento ?dessas, 515 estão criticamente em perigo. Quatro delas não existem mais na natureza, apenas exemplares em cativeiro, como a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii); e 16 foram extintas (ver tabela).

Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP

Imagem: Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP

“Como em muitos outros países, a biodiversidade no Brasil está em declínio, embora em ritmo menos acentuado que em outros lugares? comentou Craig Hilton-Taylor, diretor da unidade da Lista vermelha da IUCN, para Pesquisa FAPESP.

Na lista deste ano, Austrália, Bangladesh, França, Japão, Arábia Saudita e Iêmen apresentaram queda acentuada da biodiversidade, que se mostrou estável no Afeganistão, Angola, Bélgica, Costa do Marfim, Peru e Suíça. Em poucos países, como a Polônia, a biodiversidade aumentou, como resultado de políticas de conservação ambiental.

A IUCN calcula o estado de conservação da biodiversidade examinando os eventuais declínio, estabilidade ou aumento das populações de espécies mais conhecidas de animais e plantas. O risco de extinção aumenta quando a população é pequena, está em declínio ou ocupa uma região geográfica restrita.

Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP

Imagem: Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP

A lista deste ano incorporou cerca de 6 mil espécies à versão anterior, de 2023, aumentando para 163.040 espécies de animais, plantas e fungos avaliados. A IUCN verificou que 28% desse total, o equivalente a 45.321 espécies de plantas e animais, está ameaçado de extinção no mundo e 908 espécies já foram extintas.

Espécies que geram poucos filhotes por ninhada e demoram para chegar à maturidade sexual recompõem suas populações mais lentamente e têm risco mais alto de extinção. É o caso, no Brasil, da baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae), cujas fêmeas começam a se reproduzir aos 5 anos, engravidam a cada dois anos e têm um filhote por vez.

“As baleias quase desapareceram da costa brasileira, mas a população se recompôs lentamente após a proibição da caça na década de 1980? diz a bióloga Rosana Junqueira Subirá, do Centro de Sobrevivência de Espécies (CSE) Brasil, braço da IUCN no país.

A tartaruga-verde saiu da lista de espécies ameaçadas

A tartaruga-verde saiu da lista de espécies ameaçadas. Imagem: Mariusz Potocki / iNaturalist

Lista nacional

“A metodologia da IUCN é a mesma que usamos para fazer a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção? diz a bióloga Mariella Butti, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A lista mais recente do ICMBio, de 2022, avaliou 15.651 espécies de animais do Brasil e classificou 1.254 como ameaçadas, das quais 360 como criticamente em perigo. Seis espécies de pequenas aves, mamíferos e anfíbios foram classificadas como extintas e uma de ave, o mutum-do-nordeste (Pauxi mitu), não existe mais na natureza, apenas em cativeiro. Eventuais diferenças com a classificação da IUCN se explicam porque o ICMBio tende a ser mais cauteloso para considerar uma espécie como extinta.

“Nas listas vermelhas as espécies só são declaradas extintas quando as evidências são consideradas conclusivas? ressalta Butti. O cuidado é necessário para evitar que espécies que permanecem escondidas em regiões pouco acessíveis sejam declaradas extintas, o que desestimularia a busca por essas populações remotas.

É o caso da rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis), ave de pelagem castanha, com 16 cm de comprimento, avistada pela última vez em 1941 no Cerrado do sul de Goiás. Em julho de 2015, porém, 12 exemplares dessa espécie foram vistos em uma mata no município de Botumirim, em Minas Gerais, por essa razão depois transformada em uma unidade de conservação.

Baleia-jubarte: populações voltaram a crescer após proibição da caça

Baleia-jubarte: populações voltaram a crescer após proibição da caça. Imagem: Wwelles14 / WIKIMEDIA

Classificação dinâmica

As listas vermelhas ajudam a orientar medidas para reduzir o risco de extinção das espécies. Em 2022, como resultado do trabalho das equipes do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas e da Biodiversidade Marinha do Leste (Tamar/ICMBio) e do Projeto Tamar, uma organização não governamental, quatro das cinco espécies brasileiras de tartarugas marinhas apresentaram uma melhora no estado de conservação e a tartaruga-verde (Chelonia mydas) saiu da lista de espécies ameaçadas.

“Dependendo da espécie, a recuperação pode ser muito rápida? comenta Subirá. Ela cita como exemplo o grama-brasileiro (Gramma brasiliensis), peixe ornamental marinho roxo e amarelo, com cerca de 6 cm, que entrou na lista de espécies ameaçadas em 2003 por ser muito capturado por aquaristas. Como sua pesca foi proibida em 2005 e seu ciclo reprodutivo é rápido, a população se recuperou sozinha e a espécie saiu do risco de extinção.

A arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus), com até 1 m de comprimento, saiu da lista em 2014, depois de ficar ameaçada por décadas, graças a um programa de conservação do Instituto Arara Azul que coibiu a caça e o comércio ilegal, protegeu as palmeiras usadas por essas aves para construir ninhos e promoveu a educação ambiental. “Agora, com os incêndios do Pantanal, talvez volte para a lista? afirma Subirá.

Animais ameaçados podem se tornar símbolos de populações locais, favorecendo sua preservação. Na ilha de Moleques do Sul, próxima a Florianópolis, em Santa Catarina, um preá (Cavia intermedia) foi usado em projetos educativos como forma de sensibilizar os alunos para a conservação da natureza. Restam cerca de 40 indivíduos. “Essa espécie não existe em nenhum outro lugar do mundo? ressalta Butti, do ICMBio.

Plantas

O risco de extinção das plantas é avaliado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que produz o Livro vermelho da flora do Brasil, também baseado na metodologia da IUCN, com 7.524 espécies avaliadas, das quais 3.213 ameaças de extinção e 684 criticamente em perigo.

As equipes do Jardim Botânico ainda não classificaram nenhuma espécie de planta como extinta, mas avaliam o possível desparecimento de cinco espécies de árvores da Mata Atlântica.

A guarajuba, redescoberta em 2017

A guarajuba, redescoberta em 2017. Imagem: Lucas Moraes (CNCFlora / JBRJ)

“A guarajuba (Terminalia acuminata) chegou a ser considerada extinta na natureza por mais de 15 anos, mas foi redescoberta em 2015? observa o botânico Eduardo Fernandez, do Centro Nacional de Conservação da Flora, no Jardim Botânico. A árvore da Mata Atlântica do Rio de Janeiro chega a 30 m de altura, está na categoria em perigo e é alvo de programas de recuperação populacional.

Entre as espécies de plantas ameaçadas de extinção está o pau-brasil (Paubrasilia echinata), muito derrubado ilegalmente para a confecção de instrumentos musicais, dezenas de bromélias, cactos e orquídeas, impactados pela coleta predatória para o mercado ilegal de plantas ornamentais.

Outro exemplo é a jueirana-facão (Dinizia jueirana-facao), uma árvore que pode passar de 50 m de altura, com menos de 50 indivíduos conhecidos no município de Linhares e Sooretama, no Espírito Santo. “A jueirana surpreendeu os botânicos por ter sido identificada em 2017, em uma área relativamente bem estudada? relata Fernandez. A árvore é uma espécie próxima do angelim-vermelho (Dinizia excelsa), considerada a árvore tropical mais alta do mundo, que vive nas florestas do Amapá.

Uma versão deste texto foi publicada na edição impressa representada no pdf.

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??? ??? ??????????, ??? //emiaow553.com/marcas-feitas-por-insetos-em-ossos-de-rincossauro-indicam-atividade-subterranea/ Sun, 30 Jun 2024 18:49:59 +0000 //emiaow553.com/?p=578283 Invertebrados tinham papel surpreendente na decomposição de carcaças depois de soterradas

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Texto: Laura Tercic/Revista Pesquisa Fapesp

Pistas em restos mortais muito antigos e recados assinados por ecossistemas extintos, esperando milhões de anos para serem lidos, atraem pesquisadores para a icnologia. Trata-se de uma área da paleontologia que, em vez de focar diretamente no organismo fossilizado, como esqueletos, pólen ou asas de insetos, investiga elementos que foram consequência de sua atividade em vida, como pegadas, ninhos, fezes e traços de mordidas em ossos.

Foi por meio dessa especialidade que o geógrafo Lucca Cunha, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com colegas, descobriu que insetos se alimentaram de uma carcaça já soterrada, um comportamento que não é encontrado em invertebrados atuais que atuam na decomposição de organismos. O artigo foi publicado em janeiro na revista científica Acta Palaentologica Polonica.

Os pesquisadores analisaram fragmentos de osso de um rincossauro, réptil herbívoro que viveu no que hoje é o interior do Rio Grande do Sul durante o Triássico (entre 250 milhões e 199 milhões de anos atrás). Os fósseis foram encontrados no sítio paleontológico Buriol, em São João do Polêsine, perto de Santa Maria. A área é conhecida por abrigar os ossos mais antigos de dinossauros já encontrados. O que chamou a atenção de Cunha, no entanto, foram os sinais que outro grupo de seres vivos ?insetos ?deixaram.

Os alagamentos recorrentes do período cobriram de lama e minerais os ossos do rincossauro, que fossilizaram. Entre os 520 fragmentos de crânio examinados, 29 apresentavam trilhas e túneis fósseis escavados por diferentes espécies de insetos. Por meio de fotografias e tomografia computadorizada, a equipe da UFRGS analisou o formato dos traços dentro do osso e concluiu que, pelo menos em um dos tipos, o corpo foi atacado por insetos quando já estava soterrado. “O padrão de deposição indica que o sedimento foi remobilizado pela ação do inseto conforme ele perfurava o osso soterrado, preenchendo os espaços deixados? explica o pesquisador.

O biólogo Voltaire Paes Neto, que não participou do estudo e é filiado ao Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN-UFRJ) e à Universidade Federal do Pampa (Unipampa), conta que até pouco tempo atrás se supunha que a atuação de invertebrados pré-históricos em ossos ocorresse sempre na superfície. “Nenhuma das espécies existentes no presente que os paleontólogos usam de referência age assim? explica. “Isso significa que eram parentes muito distantes das espécies atuais ou eram completamente diferentes dos conhecidos hoje.?/p>

Detalhe de osso fossilizado revela as marcas roídas por insetosLuís Flávio Lopes? UFRGS

Detalhe de osso fossilizado revela as marcas roídas por insetosLuís Flávio Lopes? UFRGS

O biólogo foi pioneiro no país na investigação de vestígios da corrosão feita por organismos vivos em algum substrato duro, a chamada bioerosão. Em 2016, ele encontrou a mais antiga marca de mordida feita por insetos em ossos. A estimativa a que ele chegou, de 240 milhões de anos atrás, é um pouco anterior à datação dos fósseis estudados pela equipe da UFRGS, de cerca de 233 milhões de anos ?quando pequenos dinossauros já tinham começado a perambular por ali. O Triássico foi um período de produção explosiva de biodiversidade, no qual também surgiram os ancestrais dos crocodilos e dos mamíferos.

Atualmente, os cupins e as larvas de um dos gêneros de besouros dermestídeos são os invertebrados que deixam as marcas mais parecidas com as encontradas pelo grupo da UFRGS. Eles alcançam as raspas de carne que sobram na superfície ou no interior do tecido ósseo, inacessíveis aos demais animais. As espécies atuais, no entanto, não têm o hábito de se infiltrar e agir debaixo da terra.

“Seria muito difícil desvendar quem eram exatamente esses insetos de mais de 200 milhões de anos, mas agora sabemos que esse comportamento subterrâneo acontecia e isso diz algo sobre interações ecológicas do ambiente no Triássico? explica Cunha. Uma variedade de espécies de vertebrados, invertebrados, bactérias e fungos atua na decomposição de vertebrados, ação essencial para a ciclagem de nutrientes em um ecossistema natural. Detectar o processo em um momento antigo da história evolutiva revela parte do papel dos artrópodes na ecologia do ambiente.

Essa tentativa de reconstrução ambiental do passado, por meio de pistas deixadas pela ação dos organismos, faz Paes Neto comparar a icnologia “a uma espécie de CSI? referindo-se à série norte-americana de investigação policial em que peritos criminais se baseiam em evidências deixadas por larvas no cadáver para decifrar o ocorrido. O trabalho de Cunha se valeu da ciência forense, assim como em registros de insetos fossilizados.

A paleontóloga Marina Bento Soares, especialista em vertebrados fósseis no MN-UFRJ, ressalta o boom do surgimento e da diversificação de formas de vida do Triássico e lembra que o período culminou em uma série de extinções na fauna, concomitantes com mudanças drásticas no clima. “Estamos vivendo agora um período de intensos eventos climáticos e, apesar de os atuais serem agravados pela ação humana, o conhecimento sobre o que se passou com os organismos durante alterações aceleradas no clima, como no Triássico, pode ajudar a inferir tendências futuras? afirma.

O clima e a preservação de fósseis

Muito antes de o Rio Grande do Sul ter sido assolado pela água neste ano, a região já foi uma planície inundável. Durante o Triássico (até 250 milhões de anos atrás), toda a área onde é o estado hoje estava unida aos demais territórios do continente único da Pangeia. O ambiente era árido e seco no começo do período, mas foi mudando drasticamente até se tornar uma planície repleta de rios e lagos que receberam chuvas constantes por milênios seguidos. Na transição de clima, muitas espécies foram extintas e outras, mais adaptadas à umidade, prevaleceram.

Com as chuvas abundantes, os rios extravasavam de tempos em tempos e alagavam a planície. Lama e minerais cobriam o que estivesse pela frente, inclusive carcaças de animais mortos. A sequência de alagamentos do Triássico superior ajudou na sedimentação episódica em restos expostos de muitas espécies e contribuiu para o atual estado sulino ser uma das regiões mais ricas em registros fósseis no mundo.

Nos milhões de anos que separam o momento em que o rincossauro foi encoberto pelos alagamentos constantes e o presente, continentes se formaram, placas tectônicas se moveram, planícies sumiram e reapareceram, grupos inteiros da fauna foram extintos e sucedidos por outras espécies.

A reportagem acima foi publicada com o título ?strong>Nos rastros do passado?na edição impressa nº 340, de junho de 2024.

Artigo científico
CUNHA, L. S. et al. New bioerosion traces in rhynchosaur bones from the Upper Triassic of Brazil and the oldest occurrence of the ichnogenera Osteocallis and Amphifaoichnus. Acta Palaeontologica Polonica. v. 69, n. 1, p. 1-21. 30 jan. 2024.

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UEFA ?????? ?? ?? 23-24 ?? ?? ???? //emiaow553.com/borboleta-amazonica-surgiu-do-cruzamento-entre-duas-especies/ Wed, 01 May 2024 14:01:38 +0000 //emiaow553.com/?p=567653 Heliconius elevatus, híbrida entre H. pardalinus e H. melpomene, tem mais genes da primeira, mas herdou da segunda a coloração capaz de espantar predadores

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Texto: Laura Segovia Tercic/Revista Pesquisa Fapesp

Um grupo de pesquisadores de vários países revelou que a borboleta Heliconius elevatus, da Amazônia, é uma espécie de origem híbrida. O achado, publicado este mês na revista Nature, dá razão a uma antiga desconfiança sobre algumas espécies de borboletas terem surgido da mistura entre outras.

A espécie, descrita em 1901 pelo naturalista alemão Emil Nöldner, é fruto do cruzamento entre outras duas do mesmo gênero, H. pardalinus e H. melpomene. A hibridização aconteceu há cerca de 180 mil anos, segundo as análises genéticas. As três espécies estão espalhadas por toda a extensão da floresta amazônica.

O cruzamento entre espécies evolutivamente próximas costuma ocorrer na natureza, mas raramente origina descendentes férteis que permanecem por várias gerações. A tendência é que a composição genética da potencial nova espécie seja diluída nas gerações seguintes, por cruzarem de volta com uma ou com ambas as populações dos pais. “Ao fim, acabam não restando indivíduos diferentes o suficiente para serem reconhecidos como outra espécie? comenta o biólogo André Freitas, curador da coleção de invertebrados do Museu de Diversidade Biológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos autores do estudo.

Isso não ocorreu com H. elevatus, que mantém sua existência como espécie há milênios. Ainda assim, as borboletas atuais têm uma contribuição muito desigual das duas espécies originais: 99% do material genético é idêntico ao de H. pardalinus, e apenas 1% ao de H. melpomene.

A híbrida e as originais: H. melpomene, H. elevatus e H. pardalinus (da esq. para a dir.). Imagem: Wikimedia Commons

Mas essa pequena proporção tem impacto na aparência. Os pesquisadores, liderados por dois evolucionistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos ?o britânico Neil Rosser e o português Fernando Seixas ? descobriram que esses genes herdados de H. melpomene são justamente os responsáveis por conferir o desenho e cores nas asas de H. elevatus, cuja semelhança com o padrão da espécie parental é suficiente para afastar aves predadoras. “Apesar de as três espécies serem tóxicas e terem sabor desagradável para as aves, uma mistura muito grande nos padrões visuais das asas poderia fazer com que os predadores não reconhecessem o que aprenderam em experiências anteriores? explica Freitas. “Ser mais parecida com uma espécie que já existe é melhor do que ter um padrão todo novo.?/p>

Enquanto a pequena quantidade de genes de H. melpomene sobreviveu na espécie nova por obra da seleção natural, 99% do genoma veio de H. pardalinus. Além das análises genéticas, o grupo levou em conta o comportamento, o formato do entorno das asas e a interação com as plantas das quais as lagartas se alimentam, para distinguir as espécies.

A hipótese da hibridização, apenas agora sustentada pela genética, não é nova. “Nesse grupo de borboletas é bem fácil observar os desenhos nas asas, então muitos desconfiavam de hibridização na comparação só com o olhar, apesar de não terem acesso às tecnologias que temos hoje? conta Freitas. Segundo o biólogo, a sobreposição de cores e padrões levou o naturalista norte-americano Keith Brown, professor aposentado da Unicamp, a desconfiar nos anos 1970 que esse tipo de especiação poderia explicar a origem de espécies como H. elevatus, além de outras do mesmo gênero, como H. heurippa e H. hermathena. Mas não era possível provar. Outras suspeitas de hibridização em espécies de Heliconius se seguiram.

O estudo publicado agora é parte de um projeto maior que busca compreender múltiplos aspectos de borboletas do gênero Heliconius, incluindo distribuição genética e biogeográfica. Os dados vieram de uma expedição à Amazônia que percorreu cerca de 900 quilômetros na direção sul-norte, indo de Manaus a Boa Vista, ao longo da rodovia que corta a floresta ligando as duas capitais. Os três meses de coleta de espécimes e informações continuam a render resultados e artigos sobre essas espécies.

Artigo científico
ROSSER, N. et al. Hybrid speciation driven by multilocus introgression of ecological traits. Nature. v. 628, p. 811-7. 17 abr. 2024.

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????????????? ??- ??? ??? //emiaow553.com/zoologia-a-evolucao-explosiva-das-serpentes/ Tue, 30 Apr 2024 22:02:44 +0000 //emiaow553.com/?p=567644 A combinação de dados genéticos, ecológicos e morfológicos aponta os segredos do sucesso desses répteis sem patas

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Texto: Maria Guimarães/Revista Pesquisa Fapesp

Na hora de fazer uma refeição, a serpente pode ?ou não ?dar um bote e abocanhar sua presa. Pode matá-la rapidamente injetando alguma substância venenosa que cause efeitos variados no organismo da vítima, como necrose e danos neurológicos extensos. Também pode asfixiar e engolir devagar o almoço bem maior do que ela mesma. Pode comer pendurada em galhos de árvore, debaixo d’água ou sobre o solo, ou até cavar em busca de presas subterrâneas. A variedade de modos de alimentação entre espécies é enorme, assim como a extensão do cardápio. É surpreendente, ainda mais para um animal que nem membros tem. “Imagine ir a uma churrascaria e pedir um naco de 30 quilogramas [kg] de carne e engolir só usando a boca, sem mastigar nem manusear? compara o biólogo Guarino Colli, da Universidade de Brasília (UnB). Ele é coautor de um artigo publicado em fevereiro na revista Science, que mostra que essa alimentação prodigiosa é boa parte do segredo do sucesso desses animais: nenhum outro grupo consegue consumir alimentos tão variados, usando uma diversidade tão grande de estratégias.

“Foram muitos autores para dar conta da diversidade geográfica e taxonômica incluída no estudo sobre serpentes? explica o pesquisador. É um trabalho de peso porque inclui o sequenciamento do DNA de quase 7 mil espécies do mundo todo, o que em si é um empreendimento de peso, e deu origem à mais confiável filogenia já obtida para Squamata, o grupo que inclui serpentes e lagartos e é o mais diverso entre animais terrestres: conta atualmente com quase 11 mil espécies. Junto a essa árvore evolutiva, os pesquisadores levaram também em conta informações sobre a ecologia (relação com o ambiente) e a morfologia (aparência e anatomia) dos animais. “Um indivíduo basta para obter DNA e incluir uma espécie na árvore, mas não é suficiente para traçar a ecologia e o comportamento que a caracterizam? completa Colli. O líder do grupo é o evolucionista Daniel Rabosky, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, reconhecido por sua atuação na área da estatística evolutiva. “Formamos uma rede de pesquisa que já dura cerca de três décadas? afirma Colli, listando estudantes que fizeram sua formação transitando entre os grupos de pesquisa envolvidos no trabalho.

Esta é: a serpente Liotyphlops ternetzii é subterrânea e se alimenta de larvas de formigas e cupinsGuarino Colli? UnB

Esta é: a serpente Liotyphlops ternetzii é subterrânea e se alimenta de larvas de formigas e cupinsGuarino Colli? UnB

A grande pergunta é: por que o grupo das serpentes se diferenciou tanto, com evolução muito mais rápida do que se verifica em lagartos? A resposta, por enquanto, é que ao prodígio alimentar se soma uma capacidade sensorial fora do comum. Ao pôr a língua bífida para fora e de volta para dentro da boca, repetidas vezes, uma serpente consegue construir um mapa químico do entorno; algumas percebem variações de temperatura também. Sem esquecer a locomoção sem patas. “Pelo uso incomum que fazem do ambiente, elas habitam um nicho ecológico muito especializado que é só delas? define Colli.

Com isso, é possível que um mesmo ecossistema abrigue uma grande diversidade de serpentes, sem que a competição por recursos oponha umas às outras. “Na região de Brasília temos cerca de 70 espécies? diz Colli. “A cidade de São Paulo também já teve quantidade semelhante, quando tinha Mata Atlântica suficiente.?Como as serpentes, algumas espécies de lagartos também não têm pernas, outras têm capacidade sensorial aumentada e há mesmo algumas que conseguem comer presas grandes. Mas, do ponto de vista evolutivo, são becos sem saída: não formaram grupos diversificados. As serpentes, aparentemente, destacaram-se porque adotam todas essas estratégias simultaneamente, com grande eficiência. Crucial aí é a mobilidade do crânio, composto por ossos que se articulam e se separam, abrindo passagem para a refeição que pode ser digerida ao longo de dias.

Também não é serpente: cobra-de-duas-cabeças (Amphisbaena alba) é um tipo de réptil que não produziu grande diversidade de espécies

Também não é serpente: cobra-de-duas-cabeças (Amphisbaena alba) é um tipo de réptil que não produziu grande diversidade de espécies. Imagem: Guarino Colli? UnB

Ao estimar datas das ramificações da árvore evolutiva a partir dos dados genéticos, os pesquisadores perceberam que a diversificação de serpentes se deu muito depressa a partir de cerca de 65 milhões de anos atrás, quando um asteroide colidiu com a Terra e causou a extinção da maior parte dos dinossauros. Que tenha acontecido uma explosão rápida no número de espécies, não é completamente surpresa. “Mas ainda não tinha sido feita a comparação com as outras linhagens de lagartos, que passaram por um processo mais lento? pondera Colli. Os resultados mostraram que as espécies que foram surgindo, rapidamente se tornaram muito diferentes dos ancestrais ?na escala de tempo evolutivo.

“A revolução genômica tem um grande impacto nessa área? avalia o paleontólogo Hussam Zaher, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), que não participou do trabalho. Para ele, a dimensão das bases de dados usadas ?sobre um conjunto imenso de trechos do DNA, formato do crânio, tipo de alimentação, tamanho do corpo e ecologia, com a capacidade de inferir a datação ?permitiu um detalhamento muito maior desse processo evolutivo do que se tinha antes. “?um trabalho brilhante, muito elegante, com um olhar preciso? avalia.

Fóssil de Haasiophis terrasanctus: ancestral das serpentes tinha minúsculas pernas traseiras (embaixo)

Fóssil de Haasiophis terrasanctus: ancestral das serpentes tinha minúsculas pernas traseiras (embaixo). Imagem: Hussam Zaher? USP

Sem diminuir o mérito das análises de laboratório e computacionais, Colli destaca a importância dos trabalhos de campo. “A pesquisa em escala global dependeu de bases de dados que não existiriam se não houvesse tantos pesquisadores coletando no campo.?Vários dos autores do artigo já acumulam entre três e quatro décadas de experiência na natureza, procurando e capturando animais. “Somando, dá alguns séculos de esforço.?/p>

Ainda restam enigmas, porém. “A origem das serpentes não está resolvida? afirma Zaher, que em 2022 editou um livro exatamente sobre a origem e a evolução do grupo com o herpetólogo David Gower, do Museu de História Natural de Londres. Para o pesquisador da USP, o conhecimento paleontológico será essencial nesse salto de conhecimento. Isso porque as árvores filogenéticas são construídas a partir de amostras das espécies que existem hoje. “Não conseguimos tirar DNA de fósseis? lembra. Como ao longo do processo evolutivo o surgimento explosivo de espécies foi acompanhado por muitas extinções, há lacunas na reconstrução evolutiva.

Ele conta que já foram encontrados fósseis que podem ser centrais para elucidar as questões em aberto, como animais com muitas das características das serpentes atuais, mas ainda com pequenas pernas. E embora não se possa prever quando serão encontradas novas peças do quebra-cabeça em meio a rochas, as gavetas de museus de paleontologia podem guardar preciosidades. “Há fósseis que não foram bem compreendidos na época em que foram coletados e podem ser redescobertos? reconhece, completando que alguns resultados recentes foram obtidos a partir de espécimes “perdidos?em museus.

Artigo científico
TITLE, P. O. et al. The macroevolutionary singularity of snakes. Science. v. 383, n. 6685, p. 918-23. 22 fev. 2024.

Livro
GOWER, D. J. e ZAHER, H. The origin and early evolutionary history of snakes. Cambridge: Cambridge University Press, 2022.

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?????? ???? Archives??????? //emiaow553.com/cobra-cega-produz-leite-para-alimentar-filhotes/ Tue, 02 Apr 2024 11:49:02 +0000 /?p=557796 Estudo publicado na Science descreve comportamento de amamentação em espécie de cecília encontrada no Brasil

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Texto: Letícia Naísa/Revista Pesquisa Fapesp

Em meados de 2007, uma equipe de filmagem do canal britânico BBC visitou o Instituto Butantan, em São Paulo, para captar imagens de anfíbios para uma série chamada Life in cold blood (Vida a sangue frio). Durante as gravações, uma cena intrigou os pesquisadores presentes: filhotes de cecílias ?conhecidas como cobras-cegas, embora sejam mais aparentadas aos sapos ?se aglomerando em volta da abertura cloacal da mãe (por onde nascem). Já se sabia que a prole se alimenta de uma camada da pele materna durante os primeiros meses de vida. Mas o comportamento visto no documentário despertou uma curiosidade: o que aqueles recém-nascidos buscavam na abertura cloacal?

Um grupo de pesquisadores do Instituto Butantan encontrou uma possível resposta, 17 anos depois: os filhotes de Siphonops annulatus são “amamentados?diariamente com um tipo de leite. “A mãe levanta a cauda e os filhotes chupam um líquido meio grosso que sai da abertura cloacal? explica o biólogo Carlos Jared, do Laboratório de Biologia Estrutural do Butantan e autor do artigo que descreve esses resultados na edição desta semana da revista Science. “Nós coletamos esse líquido, analisamos e vimos que ele tem componentes parecidos com os do leite de mamíferos? define o pesquisador, que foi supervisor do trabalho de pós-doutorado que originou o estudo. O artigo também descreve que os filhotes emitem som poucos minutos antes de serem alimentados, o que pode indicar um comportamento de pedido de alimentação.

Poucas espécies não mamíferas apresentam esse tipo de comportamento. Há registros de tipos de amamentação em algumas espécies de aranhas, baratas, peixes e aves, mas o fenômeno nunca havia sido registrado em anfíbios ovíparos como as cecílias. O leite identificado pelos pesquisadores do Butantan é composto sobretudo de lipídios e carboidratos e é secretado por glândulas que aumentam durante o período de cuidado parental, que dura de dois a três meses. “Não podemos chamar de glândulas mamárias, porque as origens evolutivas são muito diferentes, mas isso mostra como as cecílias se adaptaram de formas diferentes, ao longo do tempo, para sobreviver? diz Jared.

Para ter certeza de que estavam entendendo o fenômeno, a equipe gravou o comportamento de 16 fêmeas de cecília por 242 horas ao longo de cerca de seis anos. Os animais estudados foram coletados em Ilhéus, na Bahia, uma região cacaueira onde as cobras-cegas são comuns em seu hábitat debaixo da terra. “Por ser um ambiente de difícil acesso, esse é um dos grupos de vertebrados menos conhecidos pela ciência? afirma a bióloga Tamí Mott, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), uma das poucas especialistas do país nesses animais. No mundo, são conhecidas 222 espécies de cecílias, das quais cerca de 20% (39) são encontradas no Brasil. Esse tipo de animal é típico de regiões tropicais e depende da pele úmida, por onde faz boa parte da respiração.

Elas foram descritas pela primeira vez em 1822. O grupo do Butantan é um dos pioneiros no estudo de longo prazo das cecílias e descobriu que essa espécie tem uma glândula de veneno na base dos dentes e é capaz de inocular ao morder. Em 2006, a equipe também publicou um artigo na revista Nature mostrando como os filhotes comem pedaços da camada externa da pele materna, modificada nesse momento do cuidado parental. Esse comportamento, chamado de dermatofagia, ou skin-feeding, já foi identificado em outra espécies de cecília.

O registro da amamentação, no entanto, é inédito, assim como o som emitido pelos filhotes. “Há relatos de comunicação em algumas espécies em contexto de defesa, mas durante o cuidado parental é um achado espetacular? comenta Mott. Para ela, o trabalho abre portas para novas frentes de investigação sobre a evolução desses enigmáticos anfíbios.

Projetos
1. Desvendando o cuidado parental nas cecílias: Implicações nutricionais e toxinológicas em Siphonops annulatus (nº 18/03265-9), Modalidade Auxílio à Pesquisa ?Regular, Pesquisador responsável Carlos Alberto Gonçalves Silva Jared (Instituto Butantan), Investimento R$ 175.382,65.
2. O cuidado parental e a dermatofagia na cobra-cega Siphonops annulatus: Uma abordagem integrativa (nº 17/10488-1), Modalidade Bolsa de Pós-doutorado, Pesquisador responsável Carlos Alberto Gonçalves Silva Jared (Instituto Butantan), Bolsista Pedro Luiz Mailho Fontana, Investimento R$ 310.331,44.

Artigos científicos
MAILHO-FONTANA, P. L. et al. Milk provisioning in oviparous caecilian amphibians. Science. On-line. 8 mar. 2024.
KUPFER, A. M. et al. Parental investment by skin feeding in a caecilian amphibian. Nature. v. 440, p. 926-9. 13. abr. 2006.

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????? ???? ???? ??? ?? //emiaow553.com/ecologia-os-parasitas-que-transformam-aranhas-em-zumbis/ Sat, 25 Nov 2023 16:03:28 +0000 /?p=535427 Infectados por fungos, invertebrados sobem mais alto para morrer

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Texto: Maria Guimarães/Revista Pesquisa Fapesp

No meio da floresta, nas folhas das árvores a cerca de 1 metro (m) do chão, manchas esbranquiçadas podem a distância passar por dejetos de passarinhos. Mais de perto, são montículos aveludados que ora mantêm características da aranha que uma vez existiu, ora exibem apenas minúsculas formas com algo de alienígena. São estruturas reprodutivas de fungos especialistas em parasitar aranhas. Um parasitismo semelhante, em formigas, inspirou o jogo eletrônico The last of us, que inclui criaturas devoradoras infectadas por um fungo mutante e neste ano virou série televisiva.

“O parasita manipula o comportamento dos hospedeiros de modo a proporcionar uma grande vantagem ao fungo? explica o biólogo Aristóteles Góes Neto, coordenador do Laboratório de Biologia Molecular e Computacional de Fungos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A manipulação em geral envolve que as aranhas subam pelas árvores e se instalem em folhas mais altas do que aquelas onde normalmente ficariam para, ali, morrerem. “São como os zumbis da vida real? brinca o pesquisador. Dessa posição, as estruturas reprodutivas dos fungos liberam esporos que caem como uma chuva de pó microscópico e se espalham sobre as futuras vítimas, nas folhas mais baixas.

Com a genitália destruída, pode ser impossível identificar aranha parasitada

Com a genitália destruída, pode ser impossível identificar aranha parasitada. Imagem: Jober Sobczak? Unila

O grupo mineiro publicou em abril, na revista científica Journal of Fungi, um levantamento sobre o gênero parasita Gibellula ?foi o trabalho de doutorado da bióloga Thairine Mendes Pereira, contribuindo para desbravar essa associação. “?um dos únicos gêneros de fungo que só parasitam aranhas? explica Góes Neto. Além de levantamento bibliográfico, o trabalho de campo consistiu em busca na vegetação no Parque Estadual do Rio Doce, em Minas Gerais, na Estação Biológica de Santa Lúcia e na Reserva Biológica Augusto Ruschi, as duas últimas no Espírito Santo.

A bióloga também procurou aranhas parasitadas no Ceará, em parceria com o ecólogo Jober Sobczak, da Universidade Federal da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unila). No município cearense de Pacoti eles encontraram um fungo que, ao invadir a aranha, a reveste de hifas (os filamentos dos fungos) douradas ?por isso ganhou o nome de G. aurea, conforme descrito em artigo de 2022 na Phytotaxa. “?difícil identificar a aranha depois da formação dos esporos porque o fungo destrói o corpo do hospedeiro? explica Sobczak. Quando é possível contar as pernas, os pesquisadores distinguem aracnídeos de insetos, mas a identificação mais detalhada de aranhas costuma depender do exame da genitália.

A relação já é bastante estudada em insetos, mas no mundo todo ainda é largamente desconhecida para aranhas. “Essa área na micologia [estudo de fungos] ainda é muito pouco explorada, mas parte considerável dos estudos está vindo do Brasil pelo trabalho dos professores Ari, da UFMG, e Jober Sobczak, do Ceará? afirma o micólogo brasileiro João Araújo, curador de fungos no Jardim Botânico de Nova York, nos Estados Unidos. Ele tem colaborado com os grupos radicados no Brasil para descrever as espécies, definir as relações de parentesco entre elas e elucidar sua biologia e evolução. “Ainda estamos engatinhando em relação a entender a real biodiversidade relacionada a esses fungos.?/p>

É difícil vislumbrar a hospedeira debaixo das estruturas reprodutivas de G. leiopus

É difícil vislumbrar a hospedeira debaixo das estruturas reprodutivas de G. leiopus. Imagem: Thiago Kloss? UFV

Ele completa que o Brasil é um dos países com maior diversidade mundial de fungos com hábito parasita. “A Amazônia e a Mata Atlântica são ‘minas de ouro?para quem estuda esses fungos? diz. “Às vezes, a maioria das coletas do dia é composta por espécies que ainda não conhecemos.?/p>

Sobczak ressalta que os achados na região Nordeste deixam claro que havia uma conexão florestal do sul ao norte do país. “Encontramos a mesma espécie de fungo, associada à mesma hospedeira, no Ceará, no Amazonas e no Vale do Ribeira, entre São Paulo e Paraná? explica. O local principal de sua pesquisa é a serra do Baturité, uma área de Mata Atlântica no nordeste do estado em meio ao semiárido, onde predomina a Caatinga. “Encontramos uma alta incidência de parasitismo embaixo das folhas e sobre as bromélias? conta o ecólogo. “Vimos vespas, formigas, besouros, grilos ?há indícios de ser uma das áreas mais ricas em fungos entomopatogênicos e araneopatogênicos.?Ele se refere a parasitas de insetos e de aranhas, respectivamente.

Depois dos inventários, vem a parte de entender os mecanismos de ação, ainda indefinidos. A constância no modo de morte, no entanto, deixa claro que deve haver uma vantagem adaptativa para o fungo. “Independentemente da espécie, todas as aranhas morrem em lugar semelhante, presas à face inferior das folhas.?O pesquisador afirma que um estudo coordenado por ele e conduzido pelo ecólogo Ítalo Arruda, da Universidade Federal do Ceará, é indício convincente de que o fungo induz as aranhas a subir nas plantas mais altas. Em média, as parasitadas morrem esticadas nas folhas a cerca de 1 m do chão, enquanto as saudáveis fazem abrigos de seda a 75 centímetros de altura, conforme descrito em artigo de 2021 no Canadian Journal of Zoology.

Aranha Macrophyes pacoti revestida pelas hifas douradas de G. aurea

Aranha Macrophyes pacoti revestida pelas hifas douradas de G. aurea. Imagem: Jober Sobczak? Unila

Os pesquisadores ainda não sabem exatamente como o fungo avança pelo organismo das aranhas depois da infecção, mas Góes Neto infere que seja semelhante ao que já foi observado em insetos, nos quais o fungo produz compostos que atuam sobre os neurônios do invertebrado e causam a alteração de comportamento. “Já sequenciamos o genoma completo de G. pulchra, a espécie de fungo com distribuição mais ampla, e encontramos vários genes possivelmente envolvidos com interferência no sistema nervoso? adianta, sobre trabalho ainda em andamento.

 

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??? 235??????,??????,????????? //emiaow553.com/zoologia-o-macaco-que-atravessou-o-atlantico-em-uma-balsa/ Sat, 21 Oct 2023 19:04:50 +0000 /?p=524931 Espécie descrita com base em um fóssil de dente teria se alimentado de restos vegetais durante a viagem e amplia a diversidade original de primatas da Amazônia

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Texto: Gilberto Stam/Revista Pesquisa Fapesp

Um macaco primitivo que pesava cerca de 230 gramas, batizado como Ashaninkacebus simpsoni, inseriu novas discussões na história da origem dos primatas amazônicos. Até aqui, todos os fósseis encontrados tinham parentesco com os macacos atuais da América do Sul, com origem na África. A nova espécie, no entanto, tem semelhanças com um pequeno grupo extinto de macacos do sul da Ásia em características dentárias, segundo estudo publicado em julho na revista científica PNAS. Por não ter dado origem a nenhum animal moderno, ele vem sendo considerado um beco sem saída da evolução.

Uma equipe de pesquisadores brasileiros e franceses chegou a essa conclusão a partir de um minúsculo dente, um molar superior menor do que um grão de arroz, encontrado em uma barranca do alto rio Juruá, no Acre, próximo ao Peru. “Os antepassados de Ashaninkacebus devem ter atravessado o oceano Atlântico em uma balsa natural formada por restos vegetais, por volta do Eoceno Médio, entre 40 milhões e 35 milhões de anos atrás? comenta o biólogo Francisco Ricardo Negri, do campus de Floresta da Universidade Federal do Acre (Ufac), em Cruzeiro do Sul, onde o dente está depositado em uma coleção científica. Por serem pequenos, os macacos precisavam de pouco alimento e possivelmente teriam sobrevivido à viagem comendo restos vegetais.

Um minúsculo dente foi a base para a rescrição da espécie

Um minúsculo dente foi a base para a rescrição da espécie. Imagem: Ana Maria Ribeiro / UFRGS e Leonardo Kerber / UFSM

Comparando o dente de A. simpsoni com os de outros primatas vivos, os pesquisadores inferiram que sua dieta era generalista, baseada em insetos e frutas. “A forma das cúspides, saliências na face do dente que tritura o alimento, é característica de cada tipo de macaco e permite inferir que ele não tinha parentesco com os primatas atuais da Amazônia? explica Negri. A. simpsoni foi o terceiro primata a chegar na Amazônia. Antes dele, outras duas espécies de macacos pequenos já haviam feito a mesma travessia, provavelmente também de balsa.

Perupithecus, que era igualmente pequeno e comia frutas e insetos, teria chegado há 37 milhões de anos e Ucayalipithecus, que era um pouco maior e preferia frutas, chegou há 36 milhões de anos ?ambos teriam surgido a partir de grupos africanos. “O fóssil de A. simpsoni nos surpreendeu porque tem estreita relação com os primatas Eosimiidae basais do sul da Ásia? explica a paleontóloga Ana Maria Ribeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que coordenou o trabalho por meio de projetos financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Petrobras ?alguns deles liderados pela bióloga Karen Adami Rodrigues, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

“Na época, a Ásia estava separada da África pelo antigo mar de Tétis, por isso eles tiveram de fazer uma primeira travessia marítima mais curta? diz a paleontóloga Annie Schmaltz Hsiou, do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), que contou com financiamento da FAPESP. Além disso, naquela época, a África estava um pouco mais próxima da América do Sul e as correntes marítimas da região levavam para oeste, facilitando a travessia.

Peneirar os sedimentos do rio Juruá foi uma das técnicas usadas na busca por fósseis

Peneirar os sedimentos do rio Juruá foi uma das técnicas usadas na busca por fósseis. Imagem: Ana Maria Ribeiro / UFRGS

Outra hipótese é que os macacos tenham ocupado uma antiga cadeia de ilhas no Atlântico, hoje submersa, até chegar à América do Sul. Os primatas que chegaram antes se originaram na África, onde surgiu a maioria dos primatas, e fizeram uma única travessia. Hoje existem mais de 500 espécies de macacos no mundo, cerca de 100 delas na América.

O nome do animal faz uma dupla homenagem: à tribo Ashaninka, que vive no local das escavações e colaborou com os pesquisadores, e ao paleontólogo George Gaylord Simpson (1902-1984). Em meados do século passado, Simpson previu que seriam encontrados na Amazônia fósseis anteriores aos conhecidos na época, com 20 milhões de anos. A. simpsoni confirmou essa hipótese.

“A descoberta mostra que a história dos primatas nas Américas é mais complexa do que imaginávamos? observa o biólogo Carlos Schrago, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que não participou do estudo. Ele afirma que os macacos modernos da América do Sul vieram de uma única linhagem, que se diversificou e deu origem a todos as espécies atuais da região. Para Schrago, A. simpsoni é uma exceção, um macaco primitivo e sem parentesco direto com os macacos atuais.

Schrago ressalta que as conclusões do estudo são baseadas em evidências ainda limitadas e haveria outros cenários possíveis. À luz das descobertas recentes, ele avalia ser improvável que o ancestral comum desses fósseis e dos macacos neotropicais viventes tenha habitado o continente sul-americano. “Não dá para resolver isso agora. Precisamos de mais achados fósseis para desatar o nó da origem dos primatas na América do Sul.?/p>

Projetos
1. Os Squamata (Reptilia, Lepidosauria) do Cretáceo e Terciário (Paleógeno/Neógeno) das bacias Bauru, Aiuruoca e Acre: Sistemática, evolução e paleoambientes (nº 11/14080-0); Modalidade Jovem Pesquisador; Pesquisadora responsável Annie Schmaltz Hsiou (USP); Investimento R$ 733.129,66.
2. A fauna de pequenos vertebrados do Neógeno da Amazônia brasileira, com ênfase na resolução temporal da Formação Solimões, Mioceno da bacia do Acre (nº 19/14153-0); Modalidade Auxílio à Pesquisa ?Regular; Pesquisadora responsável Annie Schmaltz Hsiou (USP); Investimento R$ 154.548,11.

Artigo científico
MARIVAUX. L. et al. An eosimiid primate of South Asian affinities in the Paleogene of Western Amazonia and the origin of New World monkeysPNAS. v. 120, n. 28, e2301338120. 3 jul. 2023.

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?????? ???? ???? ??? ???????? //emiaow553.com/ser-humano-preda-mais-especies-do-que-outros-19-grandes-carnivoros/ Sun, 10 Sep 2023 15:30:27 +0000 /?p=516884 Quase 15 mil vertebrados sofrem o impacto da ação humana por meio da caça, pesca ou captura para criação em cativeiro

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Texto: Felipe Floresti/Revista Pesquisa Fapesp

Com uma altura que pode chegar a quase 80 centímetros e 2 metros de uma ponta da asa a outra, a coruja bufo-real (Bubo bubo) é a maior ave de rapina noturna do mundo e um dos grandes predadores do planeta. Em sua ampla área de distribuição, que inclui quase toda a Europa e a Ásia, ela se alimenta de 552 espécies de vertebrados ?em especial, pequenos mamíferos e aves. Seu cardápio é mais variado que o de outros 18 grandes caçadores analisados em um estudo publicado em junho na revista Communications Biology. A diversidade de presas desse corujão, porém, fica ainda muito distante daquela capturada pelo maior predador da atualidade, o Homo sapiens. No mesmo ambiente em que vive o bufo-real, o ser humano preda 3.007 espécies de vertebrados, nem sempre para comer.

Com quase 7,9 bilhões de indivíduos espalhados por todos os continentes e com técnicas de caça e pesca cada vez mais eficientes, a espécie humana produz um impacto direto sobre 14.663 espécies de vertebrados, de acordo com o trabalho, realizado por um grupo internacional de pesquisadores do qual participou o biólogo brasileiro Mauro Galetti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro. A variedade de presas do Homo sapiens corresponde a quase um terço das 46.755 espécies de vertebrados catalogadas e avaliadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) ?no mundo, são conhecidas cerca de 80 mil espécies de vertebrados, o grupo de animais que inclui os mamíferos, os répteis, os anfíbios, os peixes e as aves. “Esse trabalho é um alerta sobre o nosso papel de enorme predador no planeta? afirma Galetti. “Várias das espécies que exploramos estão entrando em extinção.?/p>

Bolsa de pele.

Bolsa de pele. Imagem: Metropolitan Museum of Art

Para ter uma ideia desse poder predatório, os pesquisadores compararam a diversidade de presas afetadas pelo ser humano por meio da caça, da pesca ou da captura para criação em cativeiro ou venda com a consumida pelos grandes carnívoros na área em que vivem. O Homo sapiens interfere na vida de 3.202 espécies de vertebrados nos mesmos ambientes da África em que os leões caçam 40 delas. Ou de 2.707 naqueles em que as onças-pintadas consomem 9. Nos mares, a atividade pesqueira humana atinge 10.423 espécies, número 113 vezes maior do que as que servem de alimento para o tubarão-branco. André Pinassi Antunes, ecólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) que não participou dessa pesquisa, avalia com cautela as comparações do estudo, que, apesar das limitações, ajuda a vislumbrar o impacto que o ser humano pode causar na natureza. “Metanálises que usam informações de grandes bancos de dados refletem mais o conhecimento da ciência sobre os ecossistemas do que a realidade? afirma Antunes. “Só para dar um exemplo, a onça-pintada caça muito mais espécies do que as nove citadas no trabalho? explica o pesquisador do Inpa.

Assim como os outros grandes predadores, o ser humano caça ou pesca principalmente para se alimentar. Das 14.663 espécies de vertebrados explorados pelo Homo sapiens, 55% (8.037) viram comida. Das espécies de peixes marinhos analisadas no estudo, 72% são alimento humano; das espécies de animais terrestres, 39%. Esse, no entanto, não é o único uso. Uma fração importante dos vertebrados é explorada para a produção de roupas, medicamentos ou alimentos para outros animais, além da criação como animal de estimação, entre outras finalidades. Segundo os autores do estudo, em geral, os peixes e os mamíferos são utilizados principalmente como alimento, enquanto as aves, os répteis e os anfíbios são, em sua maioria, destinados ao mercado de animais de estimação. “?cada vez mais comum as pessoas adquirirem pets exóticos, como lêmures, iguanas, cobras e aves. Muitas dessas espécies não são criadas em cativeiro e vêm diretamente da natureza? conta Galetti.

Imagem: Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

O estudo identificou também variações no número de espécies exploradas e na diversidade de uso segundo a localização geográfica. Nas regiões equatoriais, onde a biodiversidade é maior, como o Sudeste Asiático, mais espécies são caçadas ou pescadas do que em outras partes do mundo. Os níveis de exploração foram desproporcionalmente mais altos nas bacias oceânicas da Índia e do norte da África e da Eurásia do que no oceano Austral, no leste e sul da América do Norte e nas Américas do Sul e Central. De acordo com os resultados, enquanto a predação é voltada para a alimentação nos países asiáticos, o tráfico de animais é o principal motivo de exploração nos países amazônicos. “Tradicionalmente, as pessoas pensam que é a caça ou a pesca que prejudicam as espécies. Mas, quando vão a uma loja e compram um peixinho para colocar no aquário, também podem, sem saber, estar contribuindo para o declínio de espécies silvestres? alerta o ecólogo Adriano Chiarello, da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, que não participou do estudo da Communications Biology.

De acordo com o trabalho, o uso humano coloca sob risco de extinção 5.775 espécies de vertebrados, o equivalente a 39% das 14.663 espécies predadas pelo Homo sapiens. “Várias delas desaparecem por causa do tráfico, principalmente as aves canoras? diz Galetti. “O ser humano está causando uma defaunação global e substituindo a biomassa de animais silvestres pela de animais domésticos, usados para a alimentação ou a criação como pet. Isso tem consequências enormes para o funcionamento dos ecossistemas.?/p>

Papagaio-cinzento criado como animal de estimação

Papagaio-cinzento criado como animal de estimação. Imagem: Julie R.? Wikimedia Commons

Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Ciência Weizmann, em Israel, e publicado no início deste ano na revista PNAS dá uma dimensão dessa mudança na distribuição de biomassa no planeta. Somada, a massa de todos os mamíferos terrestres totaliza 1,08 bilhão de toneladas. Desse valor, no entanto, apenas 5,6% (60 milhões de toneladas) correspondem à massa de animais silvestres (terrestres e aquáticos). Por volta de 58% (630 milhões) são animais domesticados ou mantidos em cativeiro, como o gado bovino, e 36% (390 milhões) equivalem à massa total de seres humanos.

Estudos sobre o uso que o ser humano faz das diferentes espécies, segundo os pesquisadores, são importantes para a elaboração de políticas públicas que visem à conservação e ao manejo sustentável da fauna silvestre. Na avaliação deles, olhar para a maneira como os povos originários lidaram ao longo de milênios com algumas espécies de animais pode ajudar a estabelecer formas de exploração não nocivas. “Temos que reduzir o consumo de carne bovina, aprender a manejar os animais silvestres de forma sustentável e repopular as ‘florestas vazias? senão vamos acabar causando uma extinção em massa? afirma Galetti.

Um exemplo bem-sucedido de exploração sustentável é o do pirarucu (Arapaima gigas), o maior peixe de escamas de água doce. Há menos de uma década, ele estava na lista de espécies ameaçadas de extinção. Unindo o conhecimento científico com o das comunidades tradicionais, os pesquisadores, em parceria com órgãos governamentais e os moradores da região, conseguiram recuperar a população do pirarucu em algumas áreas da Amazônia. “Mostrou-se que é possível fazer o manejo sustentável da espécie e gerar renda para as comunidades locais? afirma Galetti.

Artigos científicos
DARIMONT, C. T. et alHumanity’s diverse predatory niche and its ecological consequencesCommunications Biology. 29 jun. 2023.
GREENSPOON, L. et alThe global biomass of wild mammalsPNAS. 27 fev. 2023.

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? ????? ???? ???? ??? ?? //emiaow553.com/oferta-de-alimentos-condiciona-reproducao-de-aguias-brasileiras/ Sat, 22 Jul 2023 14:34:35 +0000 /?p=505672 Em quatro espécies de aves de rapina, o fator que mais influenciou o período reprodutivo foi a disponibilidade de presas, e não as oscilações ambientais

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Texto: Gilberto Stam/Revista Pesquisa Fapesp

Quando o veterinário Ricardo José Garcia Pereira, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), prestava consultoria sobre reprodução de aves no Zoológico de São Paulo, notou que algumas águias punham ovos em diferentes épocas do ano. Então ele e o biólogo Marcel Henrique Blank, em estágio de pós-doutorado sob sua supervisão, resolveram investigar os fatores ecológicos que influenciam o período de acasalamento de quatro espécies de águias brasileiras que vivem em ambientes florestais da América Central e do Sul, conforme descrito em artigo publicado em março na revista Scientific Reports.

“Ao contrário das aves do hemisfério Norte, que geralmente têm filhotes na primavera, as quatro espécies apresentavam três padrões diferentes? resume Pereira. Os resultados indicam que as harpias (Harpia harpyja), uma das maiores águias do mundo, se reproduzem o ano todo, mas principalmente em dias curtos; os gaviões-pega-macaco (Spizaetus tyrannus), em dias longos; o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) e o uiraçu-falso (Morphnus guianensis) o ano todo. Apesar de algumas dessas quatro espécies serem conhecidas como gaviões, tecnicamente todas são águias devido a seu porte maior.

“O fator que melhor explicou o período reprodutivo de cada espécie foi a diversidade de presas consumidas pela espécie? diz o ecólogo Lucas Ferreira do Nascimento, um dos autores do artigo, que faz doutorado no Instituto de Biociências da USP. Nas harpias, a reprodução provavelmente coincide com a do bicho-preguiça e dos macacos, quando podem pegar mais suas presas prediletas. Já as águias que caçam uma variedade de pequenos mamíferos, aves e répteis se reproduzem o ano todo. “Nas quatro espécies, não houve uma relação clara entre o período reprodutivo e o comprimento do dia, a temperatura ou a quantidade de chuvas? ressalta Nascimento.

A equipe de Pereira reuniu dados de 414 ninhadas, incluindo a localização e a data em que os ovos foram postos, obtidos de 25 zoológicos do mundo todo. Além disso, analisaram fotografias do site wikiavesuma plataforma colaborativa alimentada por ornitólogos e observadores de aves, e com elas inferiram a data da postura dos ovos, considerando a idade estimada do filhote e o tempo médio de incubação dos ovos da espécie.

Os pesquisadores consultaram bancos de dados para determinar, na época de cada ninhada, a temperatura, a precipitação e a duração do dia, chamada de fotoperíodo, que é maior no verão e menor no inverno. Depois, fizeram um levantamento bibliográfico dos tipos de presas de cada espécie e a quantidade delas ao longo do ano. Segundo Pereira, foi a primeira vez que se fez a correlação entre a reprodução de grandes rapinantes neotropicais e fatores ambientais.

Mesmo com a constante oferta de comida no cativeiro, os dados do artigo indicam que a harpia e o gavião-pega-macaco mantiveram a preferência pelo mesmo período reprodutivo da natureza. Segundo Pereira, é possível que a vantagem do comportamento tenha surgido no passado e se fixado geneticamente. Nos ancestrais dessas águias, os animais programados para se reproduzir em determinado período conseguiam obter mais comida para os filhotes.

Maior ave de rapina brasileira, a harpia caça presas de grande porte

Maior ave de rapina brasileira, a harpia caça presas de grande porte. Imagem: Willian Menq

Parentesco enganoso

O estudo indica também que a proximidade evolutiva não implica períodos reprodutivos semelhantes. O gavião-pega-macaco e o gavião-de-penacho, embora sejam do mesmo gênero (Spizaetus), têm padrões de acasalamento distintos. Já o gavião-de-penacho e o uiraçu-falso, menos aparentados, apresentam padrão semelhante. Pereira ressalta que é mais arriscado ainda comparar a reprodução de pássaros do hemisfério Norte, que já foram mais estudados, com a de áreas tropicais, pois os animais estão ainda mais distantes do ponto de vista evolutivo.

“Como as estações do ano não oscilam tanto aqui, não há por que ter uma estação reprodutiva tão restrita para a maioria das espécies? explica o pesquisador. Segundo ele, a reprodução das aves tropicais também pode ser sazonal, mas a influência das chuvas ou da oferta de alimentos é maior, por vezes se equiparando ou até superando o efeito do comprimento do dia. “Mostramos que às vezes não é possível simplesmente extrapolar o conhecimento de um grupo de aves para outros. É preciso estudar cada grupo.?/p>

“?um estudo importante, pois o comportamento reprodutivo desses animais é pouco conhecido? ressalta o ornitólogo e analista ambiental Willian Menq, autor do livro Aves de rapina do Brasil e apresentador do canal no YouTube Planeta Aves. Segundo ele, são animais raros porque cada casal de águias ocupa uma grande área de floresta para conseguir presas e sustentar os filhotes, o que dificulta muito o estudo de campo. Em um estudo com harpias (ver box) foram encontrados no máximo cinco ninhos a cada 100 quilômetros quadrados, área um pouco maior do que a da cidade de Vitória, no Espírito Santo. “Usando dados indiretos, os autores conseguiram contornar esse problema? diz Menq, que não é pesquisador vinculado a uma universidade, mas é um dos maiores especialistas em águias brasileiras, segundo o ornitólogo Luís Fábio Silveira, vice-diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP).

O uiraçu-falso se reproduz o ano todo

O uiraçu-falso se reproduz o ano todo. Imagem: Willian Menq

Uma forcinha para as aves

Reproduzir águias em cativeiro é um desafio porque, além de serem pouco comuns em zoológicos, elas formam casais, geralmente monogâmicos, depois de um complexo ritual de reconhecimento, que pode dar certo ou não. As águias geralmente geram apenas um filhote a cada dois anos, o que torna sua multiplicação mais lenta. A harpia, por exemplo, choca os ovos por 56 dias, e depois os filhotes ficam no ninho por 8 a 12 meses.

A bióloga Fernanda Junqueira Vaz, responsável pelo Setor de Aves do Zoológico de São Paulo, que no mestrado trabalhou com Pereira estudando o desenvolvimento embrionário de aves, conta que durante o processo de aproximação manteve um casal de gaviões-de-penacho separado por uma barreira visual, para que macho e fêmea não se enxergassem. Durante seis meses, o único contato era pela vocalização.

“O risco de agressividade é grande, geralmente com prejuízo para os machos, que são menores que as fêmeas? conta Junqueira. A aproximação dos gaviões-de-penacho foi um sucesso, e eles já criaram 12 filhotes desde o primeiro encontro, em 2005. Um casal de harpias, no entanto, produziu apenas ovos inférteis, e outra dupla não formou uma ligação.

“O conhecimento sobre a época reprodutiva das águias poderá ajudar a induzir a reprodução? presume Junqueira. Há técnicas de indução, como a usada na criação de aves domésticas ?galinhas e perus, por exemplo ? com luzes artificiais para simular o aumento da duração dos dias característico da primavera. Para inserir águias nascidas em cativeiro na natureza, há ainda o desafio de encontrar florestas preservadas, único ambiente no qual sobrevivem, e onde costumam fazer ninhos nas árvores mais altas.

Nutrientes para as árvores

Os dejetos lançados para fora dos ninhos, no alto das árvores, fornecem nutrientes diretamente às folhas

Os dejetos lançados para fora dos ninhos, no alto das árvores, fornecem nutrientes diretamente às folhas. Imagem: Everton Miranda / The Peregrine Fund

As carcaças e as fezes das harpias aumentam a quantidade de nutrientes que as árvores absorvem. Um estudo publicado em março na revista Scientific Reports mostrou que essas aves de rapina, grupo que inclui gaviões, falcões e corujas, levam cerca de 100 quilogramas de carcaças por ano para seus ninhos, fertilizando as plantas.

“A maior parte dos nutrientes é absorvida diretamente pelas folhas? observa o biólogo brasileiro Everton Miranda, pesquisador na organização não governamental The Peregrine Fund, nos Estados Unidos. Nas folhas ao redor dos ninhos, o pesquisador verificou um aumento de 99% no nitrogênio, 154% no fósforo e 50% no potássio, comparando com as árvores sem harpias. Não se sabe ainda quais as consequências dos nutrientes adicionais para as plantas, embora essas áreas apresentem maior diversidade florística.

Miranda ficou surpreso ao constatar que o solo perto das árvores, a maioria delas castanheiras com até 50 metros de altura, era ainda mais pobre do que o normal. Neles, a quantidade de fósforo caiu 50%, a de cálcio 32%, a de magnésio 21% e a de alumínio 50%. “Os nutrientes captados pelas folhas aumentam seu metabolismo, e isso faz com que absorvam mais nutrientes do solo? explica o pesquisador.

O biólogo mediu o peso da carniça de forma indireta, registrando o número total de presas capturadas por meio de câmeras e usando o peso médio estimado de cada adulto, jovem ou recém-nascido. Uma parceria com a empresa de turismo SouthWild.com forneceu o equipamento para gravar as imagens, enquanto a Universidade do Estado de Mato Grosso ofereceu laboratórios para medir os nutrientes. Foram estudados 10 ninhos ativos e 10 inativos, em uma área preservada no norte de Mato Grosso. “Algo semelhante provavelmente acontece em escala menor com outras espécies de águias, já que elas são menores, ficam menos tempo no mesmo ninho e comem menos? diz Miranda.

Íntegra do texto publicado em versão reduzida na edição impressa, representada no pdf.

Artigos científicos

BLANK, M. H et alEcological drivers of breeding periodicity in four forest neotropical eaglesScientific Reports. v. 13, 4385.16 mar. 2023.
MIRANDA, E. B. P. Long-term concentration of tropical forest nutrient hotspots is generated by a central-place apex predatorScientific Reports. v. 13, 4385. 17 mar. 2023.

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????????? ????????????? //emiaow553.com/material-genetico-de-primatas-pode-contribuir-para-a-medicina-de-precisao-2/ Thu, 13 Jul 2023 13:29:35 +0000 /?p=504072 Projeto internacional sequencia o DNA de mais de 200 espécies em busca de ferramentas preditivas da propensão humana a doenças

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Texto: Maria Guimarães/Revista Pesquisa Fapesp

Com detalhes do genoma de mais de 800 primatas, representando 233 espécies, pesquisadores de 24 países chegaram a uma variedade de novas conclusões a respeito desse grupo animal que inclui você e eu. Os resultados, que envolvem aspectos de evolução, modo de vida e saúde, estão em oito artigos publicados em uma edição especial da revista Science na quinta-feira (1º/6). O objetivo central, que é usar o conhecimento evolutivo como ferramenta médica, se mostrou promissor apesar de ainda incipiente. Enquanto isso, como efeito colateral, aumenta o que se sabe sobre a evolução e a biologia dos macacos.

“Minha maior surpresa foi ver que a diversidade genética não tem relação com o grau de ameaça de extinção da espécie? relata o primatólogo brasileiro Jean Boubli, da Universidade de Salford, no Reino Unido. Ele é coautor do artigo que abre o especial e coordenou a obtenção de amostras que já integravam acervos de várias instituições brasileiras: as universidades federais de Viçosa (UFV), do Amazonas (Ufam), de Rondônia (Unir) e de Mato Grosso (UFMT), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Instituto Mamirauá e a RedeFauna. “Por volta de 30% das amostras usadas no estudo vieram do nosso grupo? afirma. Mas só uma fração do total de amostras reunidas entrou no artigo da Science. De lá para cá outras centenas de amostras já foram sequenciadas, tornando o banco de dados cada vez mais robusto para análises futuras. Para o pesquisador, a representatividade do estudo seria impossível sem a participação dos brasileiros e das amostras coletadas ao longo de décadas de trabalho de campo e armazenadas em coleções zoológicas.

O sequenciamento foi conduzido pela empresa norte-americana Illumina, na Califórnia, especialista nesse tipo de atividade. O objetivo inicial era comparar seres humanos com seus parentes mais próximos para encontrar pistas sobre doenças. “O ponto central foi perceber que os dados sobre diversidade dos primatas eram a chave para desvendar o genoma humano? contou a Pesquisa FAPESP, por e-mail, o geneticista médico norte-americano Kyle Farh, vice-presidente de inteligência artificial da Illumina, um dos líderes do projeto. “Sem espécies similares para nos informar, é muito difícil interpretar o genoma humano.?Esse olhar evolutivo é importante porque comparar genes correspondentes em espécies distintas permite descobrir, por exemplo, quais trechos são mais mutáveis, quais mutações tendem a ter efeitos mais drásticos na saúde e quais partes estão mais sujeitas à ação da seleção natural. “Se um gene parece estar associado a uma doença humana, mas funciona muito bem em outros primatas, provavelmente não é ele o responsável? explica Boubli.

À esquerda, dois uacaris amazônicos classificados como vulneráveis na Lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN: Cacajao calvus (no alto) e C. hosomi, descrito por Boubli em 2008; o lêmur-de-cauda-anelada (Lemur catta, no centro), de Madagascar, está ameaçado de extinção; o parauaçu-de-cabeça-amarela (Pithecia chrysocephala, à dir.), da margem norte do rio Negro, não suscita preocupação.

À esquerda, dois uacaris amazônicos classificados como vulneráveis na Lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN: Cacajao calvus (no alto) e C. hosomi, descrito por Boubli em 2008; o lêmur-de-cauda-anelada (Lemur catta, no centro), de Madagascar, está ameaçado de extinção; o parauaçu-de-cabeça-amarela (Pithecia chrysocephala, à dir.), da margem norte do rio Negro, não suscita preocupação. Imagem: Marcelo Santana, Jan Dungel (C. hosomi), Rmedina (Lemur catta)

Mas entender os outros primatas também se tornou um objetivo que rendeu frutos. “Chegamos à melhor árvore filogenética de primatas que existe? afirma Boubli, que detalha que o feito ?uma genealogia que permite entender o parentesco entre as diferentes espécies e a cronologia de seu surgimento a partir de ancestrais comuns ?se deve em grande parte ao trabalho do evolucionista Robin Beck, também de Salford. “Ele conseguiu incluir muitos fósseis e, com isso, melhorar as estimativas de datação.?O resultado indica, por exemplo, que a separação entre chimpanzés e seres humanos é ligeiramente mais antiga do que estimativas de estudos anteriores: entre 9 e 7 milhões de anos atrás. Houve espécies, como alguns bugios, que não tinham ainda seus genomas sequenciados e agora encontraram seu lugar na genealogia familiar.

Os resultados também permitem entender como a ecologia e o comportamento dos animais afetam a diversidade genética da espécie. Ela é menor, por exemplo, em animais que têm uma organização reprodutiva na qual um único macho tem filhotes com muitas fêmeas. O padrão de atividade (se são diurnos, noturnos, se passam muitas horas contínuas em atividade ou não, por exemplo) e as condições climáticas às quais são adaptados são alguns dos outros fatores que se mostraram relevantes.

A espécie Saimiri cassiquiarensis de macaco-de-cheiro foi reconhecida em 2009

A espécie Saimiri cassiquiarensis de macaco-de-cheiro foi reconhecida em 2009. Imagem: Marcelo Santana

A diversidade genética também cai do sul para o norte. É provável que a riqueza genética do hemisfério Sul seja inflada pela grande diversidade das várias espécies de lêmures, que vivem apenas na ilha de Madagascar. É um achado paradoxal, porque muitas dessas espécies estão ameaçadas de extinção pela ação humana e, no entanto, entendia-se que espécies geneticamente diversas seriam saudáveis. De acordo com Boubli, os dados explicam essa variedade por um histórico de populações muito grandes, algo que não espantaria os fãs dos filmes de animação da série Madagascar. “O declínio populacional é recente do ponto de vista evolutivo, porque populações humanas só se estabeleceram em certas partes de Madagascar há cerca de mil anos.?É diferente para os primatas do Novo Mundo ?um exemplo seria o Brasil ? onde a diversidade genética de cada espécie é menor em consequência da vida em grupos e populações menores (uma característica natural desses animais). Mas o estudo detectou uma queda populacional fora do normal em uma espécie centro-americana de bugio, Alouatta palliata, há cerca de 10 mil anos. “Uma hipótese é que tenha sido impactada pelas civilizações pré-colombianas da região, como os maias e os astecas? sugere o primatólogo.

A estimativa do tamanho populacional ao longo da história de uma espécie pode ajudar a pensar o futuro, segundo Boubli. “Uma espécie que passou por situações climáticas que levaram à redução demográfica, como glaciações ou secas, pode ter mais capacidade de resistir às mudanças climáticas em curso? estima.

Os artigos da edição especial trouxeram aspectos variados. Um identificou as inovações genéticas na linhagem dos símios, incluindo seres humanos, que permitiram a sua diversificação e adaptação a diferentes ambientes. A evolução da organização social da família dos colobíneos asiáticos, que incluem os lângures indianos, foi tema de um dos trabalhos que mostrou o efeito das glaciações sobre a regulação neuro-hormonal que influencia a propensão à vida em comunidade. Outro detectou que o macaco-cinzento-de-nariz-arrebitado (Rhinopithecus brelichi), da China, tem origem híbrida, a partir da mistura de duas outras espécies.

Pouco se sabe sobre o parauaçu-de-vanzolini (Pithecia vanzolinii, à esq.), amazônico como o cairara-de-fronte-branca (Cebus albifrons, no alto), enquanto o híbrido Rhinopithecus brelichi (embaixo) vive na China; o macaco-aranha-da-cara-preta (Ateles chamek, à dir.) está classificado como vulnerável

Pouco se sabe sobre o parauaçu-de-vanzolini (Pithecia vanzolinii, à esq.), amazônico como o cairara-de-fronte-branca (Cebus albifrons, no alto), enquanto o híbrido Rhinopithecus brelichi (embaixo) vive na China; o macaco-aranha-da-cara-preta (Ateles chamek, à dir.) está classificado como vulnerável. Imagem: Marcelo Santana; Rebecca Still (Cebus albifron); Mrflower (Rhinopithecus brelichi)

Medicina de precisão

Como os 809 genomas analisados podem ser úteis para a saúde humana? Um dos estudos publicados na Science, com participação dos brasileiros, discute os desafios de ter dados suficientes para treinar modelos de aprendizado de máquina e relata ter obtido avanços na capacidade de previsão de parâmetros clínicos. Outro artigo mostra o benefício de se detectar variantes genéticas raras para prever a propensão a doenças ?no âmbito da chamada medicina de precisão ?e no desenvolvimento de alvos farmacológicos. Até agora, o estudo afirma, era mais difícil distinguir as variantes genéticas inócuas daquelas que causam danos, assim como avaliar a magnitude de seus efeitos no organismo. “Os dados dos primatas nos permitiram desenvolver uma rede de aprendizagem profunda [deep learning], treinada a partir da seleção natural? explica Farh. “Sua arquitetura é parecida com o ChatGPT, mas é a primeira iniciativa do tipo a ser treinada dessa maneira, com enorme potencial para a medicina personalizada.?Ele relata o resultado inesperado de perceber que 97% dos genomas humanos analisados, mesmo de pessoas saudáveis, abrigam variantes patogênicas que podem ter muito impacto em condições clínicas.

“Eles usam conservação filogenética para fazer inferências sobre patogenicidade? explica o evolucionista Diogo Meyer, da Universidade de São Paulo (USP), que não participou do estudo. Isso significa que quando trechos do DNA se mantêm imutáveis ao longo da evolução, a característica à qual estão relacionados é mais intolerante a mudanças. Quando acontece uma mutação, o risco de causar doenças é grande. Para um projeto como esse encabeçado pela Illumina, a biodiversidade é preciosa para alimentar com dados os algoritmos médicos. “Esse uso economicamente valioso da evolução gera uma parceria inusitada entre evolucionistas e geneticistas clínicos? diz Meyer.

Segundo Farh, o projeto está no começo. “Com tantas espécies ainda não estudadas, estamos correndo contra o relógio para pesquisá-las antes que sejam extintas.?Jean Boubli ressalta que o estudo tem uma importância grande para a conservação. Nas reuniões da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que define o grau de ameaça das espécies, as estimativas são feitas com base na experiência dos pesquisadores, muitas vezes em situações de escassez de dados em certas regiões. “Agora ganhamos uma nova ferramenta, genômica, para avaliar a saúde das populações.?Ele pretende expandir esse tipo de entendimento fazendo o sequenciamento de outros tipos de vertebrados brasileiros, em parceria com as geneticistas Maria Rita Passos Bueno e Mayana Zatz, ambas da USP, com financiamento da Illumina.

Artigos científicos

KUDERNA, L. F. K. et alA global catalog of whole-genome diversity from 233 primate speciesScience. v. 380, n. 6648, p. 906-13. 2 jun. 2023.
GAO, H. et al. The landscape of tolerated genetic variation in humans and primates. Science. v. 380, n. 6648. 2 jun. 2023.

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????????????, ???, ?????????? //emiaow553.com/entenda-a-treta-do-fossil-de-dinossauro-que-a-alemanha-se-recusa-a-devolver-para-o-brasil/ Thu, 16 Sep 2021 12:54:55 +0000 //emiaow553.com/?p=393037 Os alemães alegal que receberam autorização para levar o fóssil; a Sociedade Brasileira de Paleontologia diz que não cumpriram o regulamento

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Você já deve saber que o brasileiro é irredutível, não é? Na internet, então, faz um barulho gigantesco. Memes e brincadeiras à parte, a treta agora é séria. Trata-se de Ubirajara jubatus, fóssil de um dinossauro que viveu nas terras brasileiras há mais de 100 milhões de anos, descoberto em Bacia do Araripe, no Sul do Ceará. Hoje, no entanto, é uma das peças que hoje compõe o acervo do Museu de História Natural de Karlsruhe (MSNK), na Alemanha. O que isso está fazendo na Europa? É aqui que começa o rolê todo. 

Segundo a Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP), o material foi levado de forma ilegal à Alemanha. Já o Ministério da Ciência de Baden-Württemberg, vê isso de maneira muito diferente, é claro. 

O fóssil chegou à Alemanha em 1995, e em dezembro de 2020 o Ministério Público Federal começou a investigar a saída ilegal dele do Brasil. Acontece que os pesquisadores do fóssil disseram ter autorização para terem levado, e dizem que têm o documento assinado pela Agência Nacional de Mineração ?antigo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Mas, a SBP alega que a autorização não tinha validade.

Dado cenário, os brasileiros – com o apoio de alguns gringos – começaram um movimento na Internet com a Hashtag #UbirajaraBelongsToBR (Ubirajara pertence ao Brasil – na tradução livre) e floodou a página do MSNK, além de virarem Trends Topics no Twitter. 

No dia 9 de setembro, o museu alemão fez uma publicação no Instagram e no Facebook defendendo que os vestígios do animal eram de propriedade alemã, já que os pesquisadores seguiram os regulamentos da época:

“Por favor, entendam que iremos deletar comentários sobre Ubirajara em todas as outras postagens que não tenham nada a ver com este assunto. Da mesma forma, desativaremos os comentários em nossas postagens mais antigas”.

Museu alemão compartilha nota em resposta aos pedidos de repatriação de fóssil brasileiro Foto: Reprodução/Instagram

Foto: reprodução do Instagram

Alegação do Museu Alemão 

Além de dizerem que o Brasil autorizou a ida do fóssil em 1995, as autoridades do país europeu também argumentam que o fóssil foi adquirido antes da Convenção da Unesco sobre Medidas para Proibir e Prevenir a Importação, Exportação e Transferência Ilegal de Propriedade de Bens Culturais, em abril de 2007, e foi importado em conformidade com todos os regulamentos alfandegários e de entrada. De acordo com a Sociedade Paleontológica do Brasil, o Museu de História Natural se mostrou inicialmente pronto para falar no final do ano passado. No entanto, o museu mais tarde recuou e declarou, referindo-se à Lei de Proteção à Cultura, que não havia base legal para a devolução.

Ouvido pelo G1, José Betimar Filgueira, aposentado, confirmou que emitiu e assinou a autorização do fóssil. No entanto, ele destaca que o documento era válido junto ao DNPM, mas que apesar disso, os pesquisadores responsáveis precisavam, também, da autorização do Ministério das Ciências e Tecnologia (MCT). “Coisa que eles não obtiveram porque não sabiam ou, porque não foram atrás? disse o servidor. 

Não é a mamãe

Se você assistiu Família Dinossauro (1994) vai pegar a referência. O bebê dinossauro da série vive dizendo ‘não é a mamãe? toda vez que seu pai aparece – possivelmente é assim que o fóssil brasileiro se sente em terras alemãs. 

A professora de paleontologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Aline Ghilardi, que faz parte do movimento que se iniciou na Internet, tem defendido veementemente em suas redes sociais que o fóssil deve ficar no Brasil e que ele pertence a nós. 

O mesmo é respaldado por outros membros da comunidade científica e dezenas de internautas.

//twitter.com/BiodiversidadeB/status/1340432387071741953

 

A própria Constituição do Brasil de 1988 respalda nossos cientistas. Os artigos 20, 23 e 24 do texto deixam claros que fósseis são são bens da União e que há a responsabilidade dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na defesa de nosso patrimônio natural. Além disso, os artefatos são “sítios de valor paleontológico?como diz o artigo 216; patrimônio cultural brasileiro, o qual deve ser protegido pelo poder público através de todas as formas legais de acautelamento e de preservação. Um breve resumo do texto diz, são bens da União:

I ?os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vieram a ser atribuídos;

IX ?os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

X ?as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos.

Quer mais um motivo? 

Uma portaria de 1990, determina que materiais e dados científicos do país só podem ser estudados fora do Brasil sob algumas condições: o intermédio de uma instituição científica brasileira, a participação de pelo menos um cientista nacional na pesquisa e a devolução do material. 

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Ghilardi ainda ressalta que no Brasil temos sucesso de paleontólogos produzindo ciência de qualidade reconhecida internacionalmente. Estes fósseis podem originar trabalhos para nossos excelentes cientistas e também podem estar formando novos cientistas por aqui. 

Como disse um internauta: “Alemão não está satisfeito em roubar nossa Copa, tem que vir e roubar nosso Ubirajara!?/span>

[O Globlo]

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????,?????? //emiaow553.com/vespas-estao-fazendo-ninhos-fluorescentes-mas-por-que/ Thu, 26 Aug 2021 14:35:56 +0000 //emiaow553.com/?p=391219 Cientistas ficaram surpresos ao descobrir ninhos de vespas que brilham quando expostos a luz ultravioleta.

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Uma equipe de pesquisadores disse ter encontrado a primeira evidência de que animais são capazes de construir casas fluorescentes. Em um novo estudo, eles detalham a descoberta de ninhos de uma certa espécie de vespa que brilha no escuro quando são expostos a luz ultravioleta. E o mais interessante é que vespas semelhantes, encontradas em outras partes do mundo, também parecem ser capazes de fabricar as mesmas estruturas estranhas.

A descoberta aconteceu por acidente durante um trabalho de campo no norte do Vietnã, segundo os cientistas. Bernd Schöllhorn, professor de química da Universidade de Paris que assina o estudo, disse ao site Live Science que eles viajaram carregando luzes UV na esperança de achar insetos fluorescentes enquanto caminhavam no escuro.

Em vez disso, deram de cara com ninhos de vespa com casulos (estruturas feitas de seda que fecham o ninho e ajudam a manter a larva segura) que, à noite, emitem uma luz brilhante — e com cor de meleca de nariz — quando exposta a uma luz UV com frequência entre 360 e 400 nanômetros.

“Nós ficamos muito surpresos em encontrar uma fluorescência tão grande na matéria orgânica? disse Schöllhorn ao Live Science. “Acreditamos que esse fenômeno jamais havia sido observado até hoje, seja por pesquisadores ou por fotógrafos.?/p>

Todos os ninhos brilhantes que eles encontraram pertencem a espécies de vespa do gênero Polistes, também conhecido popularmente como vespas-do-papel. Quando os cientistas examinaram ninhos de outras duas espécies de Polistes que vivem na floresta Amazônica e na França e as colocaram sob luz UV, eles descobriram que seus ninhos também brilhavam — ainda que todos os ninhos tivessem intensidades e cores diferentes uns dos outros. Os achados da equipe foram publicados esta semana na revista científica Royal Society Interface. Na aba “materiais complementares? você pode ver diversas imagens desses ninhos brilhantes.

Ainda que brilhar no escuro pareça uma característica exótica, cientistas já catalogaram uma lista extensa de criaturas, das mais diferentes possíveis, que possuem essa estranha habilidade – incluindo mamíferos. Mas a ciência ainda tenta entender, primeiro, os motivos que tornam a fluorescência uma vantagem evolutiva. Ter ninhos fluorescentes pode ajudar vespas a se orientar na volta para casa, por exemplo, ou ajudá-las a separar um ninho do outro. Isso também pode ter alguma participação no desenvolvimento das larvas, uma vez que o brilho pode servir como uma luz auxiliar durante as épocas mais chuvosas. Pode ser, ainda um incidente evolutivo ou um traço vestigial que nunca teve um propósito específico, ou que perdeu sua função mas continua ali porque não representa uma desvantagem para as vespas.

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Os pesquisadores planejam continuar estudando essas vespas e suas casas brilhantes para revelar quais são os compostos químicos que ajudam a garantir essa fluorescência. De agora em diante, a ideia é entender se algum desses compostos pode ter alguma aplicação para uso humano – como um novo marcador fluorescente para estudos científicos ou na área de diagnóstico por imagem.

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????????? //emiaow553.com/tartaruga-gigante-come-passaro-inteiro-intriga-cientistas/ Mon, 23 Aug 2021 21:29:55 +0000 //emiaow553.com/?p=390818 Agora, os cientistas querem entender se tal atitude se tornou um comportamento recorrente entre a espécie de tartaruga observada.

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Uma tartaruga gigante em uma ilha no arquipélago de Seychelles é a prova viva daquele ditado que diz “devagar e sempre se chega lá? Isso porque o animal conseguiu perseguir um pássaro jovem, que é bem mais rápido que seu “predador? e engoli-lo por inteiro. Além disso, cientistas divulgaram nesta segunda-feira (23) uma pesquisa na Current Biology descrevendo o comportamento da tartaruga, incluindo imagens do encontro.

O caso ocorreu no final da tarde de 30 de julho de 2020, na Ilha Frégate, que fica no Oceano Índico e a centenas de quilômetros a nordeste de Madagascar. Uma tartaruga gigante das Seychelles (Aldabrachelys gigantea) com uma carapaça de quase 60 centímetros de comprimento se aproximou de um filhote de andorinha-do-mar (Anous tenuirostris), que por sua vez estava parado em um tronco.

Com a boca aberta, a tartaruga forçou a andorinha-do-mar a voltar para a beira do tronco. O pássaro bateu as asas e bicou a tartaruga. Em seguida, as mandíbulas da tartaruga se fecharam na cabeça do pássaro, e ele caiu do tronco no chão da floresta. Pouco depois, o réptil engoliu o filhote inteiro.

O vídeo do encontro, filmado pela autora do estudo, Anna Zora, que é vice-gerente de conservação e sustentabilidade na ilha, pode ser um pouco perturbador, especialmente se você está acostumado com a ideia de tartarugas como animais dóceis e pacíficos. Mas um quelônio precisa comer ?e lembre-se: elas também se tornam refeições para animais em níveis mais altos da cadeia alimentar. Geralmente, as dietas das tartarugas se concentram na vegetação, embora algumas comam ossos e cascas de caracóis, carniça ocasional e, em pelo menos uma espécie de tartaruga semi-aquática, rãs. No caso da nossa colega que ilustra este texto, o filhote de andorinha-do-mar serviu como um pouco de proteína extra.

Segundo Justin Gerlach, biólogo da Universidade de Cambridge, a abordagem da mandíbula da tartaruga indicou aos pesquisadores que o réptil sabia que o pássaro era algo que precisava ser morto, não algo que já estava pronto para comer. “Ela estava olhando diretamente para a andorinha-do-mar e caminhando propositalmente em sua direção. Isso era muito estranho e totalmente diferente do comportamento normal de uma tartaruga? explicou.

Gerlach, co-autor do novo artigo, disse que tartarugas foram observadas consumindo pássaros e outros animais no passado, mas os casos anteriores não foram totalmente documentados. “Antes, sempre foi impossível dizer se a tartaruga matou diretamente o animal ou se sentou em cima dele e o encontrou esmagado. Por que recusar um pouco de proteína livre?? questionou o cientista.

As tartarugas estão mudando? Não exatamente

Em entrevista por e-mail para o Gizmodo, Gerlach enfatizou que o comportamento observado é a exceção, e não a regra, entre essas tartarugas.

“?uma combinação incomum de circunstâncias que faz com que funcione. Para uma tartaruga caçar com sucesso, ela tem que ser mais rápida do que sua presa, o que limita as possibilidades. Se a andorinha-do-mar fugisse, teria escapado facilmente. Mas é uma espécie que constrói seu ninho em árvores altíssimas. Então, no que diz respeito ao pássaro, o solo é um lugar perigoso. Ela se afasta da tartaruga, mas no final do tronco hesita, e isso é o suficiente para que a tartaruga a agarre? comentou.

“Tenho duas lições a tirar dessa descoberta. Primeiramente, há muito mais coisas acontecendo no comportamento da tartaruga do que a maioria das pessoas pensa. Elas não são apenas animais lentos e enfadonhos: há muito mais atividade e inteligência do que você imagina. Em segundo lugar, mostra que ainda podemos encontrar coisas inesperadas a partir da simples observação ?nem todas as descobertas científicas são sobre equipamentos caros e laboratórios sofisticados. Em termos de pesquisa, queremos saber exatamente o que está acontecendo: quantas tartarugas estão fazendo isso? Sabemos que são mais de uma, mas são apenas algumas ou uma grande parte de sua população?? disse Gerlach ao Gizmodo.

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O pesquisador ainda declarou que a tartaruga será observada para entender com que frequência está se alimentando de animais maiores, pois o animal que comeu a andorinha-do-mar se compra com segurança e eficiência. Isso sugere que essa não foi a primeira vez que a tartaruga teve esse tipo de ação na natureza.

Uma curiosidade: a restauração de habitat na Ilha Frégate permitiu que mais de um quarto de milhão de andorinhas-do-mar (cerca de 10 mil ninhos) povoassem um trecho da ilha do tamanho de dois quarteirões. De acordo com um censo feito este ano, cerca de 3 mil tartarugas vivem na ilha. Esforços recentes têm procurado aumentar o número de ambos os animais após vários séculos de diminuição das populações.

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??????????? //emiaow553.com/essas-cobras-marinhas-estao-atacando-mergulhadores-pra-dar-em-cima-deles/ Fri, 20 Aug 2021 15:15:05 +0000 //emiaow553.com/?p=390621 A pesquisa mostra que os machos estão flertando com mergulhadores enquanto as cobras se escondem em corais

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As cobras marinhas são o motivo de um pesadelo total para os mergulhadores, mas novas pesquisas sugerem que seus frequentes “ataques?são, na realidade, tentativas fracassadas de xaveco.

Muitos mergulhadores que exploram recifes de corais tropicais na Austrália e na Nova Guiné estão familiarizados com a cobra-do-mar Olive (Aipysurus laevis ), animal muito venenoso. Esses répteis marinhos frequentemente perseguem e atacam os humanos no fundo do mar sem qualquer motivo claro. Esses encontros podem ficar assustadores, especialmente quando uma cobra marinha se enrola na perna ou braço de um mergulhador e mastiga.

Mortes por picadas cheias de veneno são registradas anualmente e geralmente envolvem pescadores. Ataques a mergulhadores também são relatados, mas mesmo quando as cobras do mar não picam, elas podem causar pânico, tornando a situação ainda pior. O motivo desses ataques não era totalmente compreendido, daí a importância de um novo estudo, publicado hoje na Scientific Reports.

Desde que Richard Shine, coautor do novo artigo e cientista da Macquarie University, na Austrália, começou a trabalhar com cobras marinhas, ele se pergunta por que esses animais às vezes se aproximam dele, em vez de nadar para longe.

“Uma alta frequência de ‘ataques’ a mergulhadores por cobras marinhas sempre me intrigou? explicou Shine por e-mail. “Por que uma cobra deveria atacar uma pessoa que é muito grande para comer e não representa uma ameaça??/p>

A nova pesquisa foi uma tentativa de responder a essa pergunta. Os dados foram coletados pelo coautor do estudo Tim Lynch, mergulhador e pesquisador do Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO). Lynch registrou cuidadosamente os comportamentos das serpentes no sul da Grande Barreira de Corais, uma investigação de 27 meses baseada em mergulho autônomo sobre a ecologia das cobras marinhas. Estranhamente, essas observações foram feitas entre 1993 e 1995, o que me levou a perguntar a Shine por que os dados de sua equipe são tão antigos.

“Você pode culpar a Covid-19? Shine respondeu sarcasticamente, já que a pandemia global é realmente o que tornou este trabalho possível. Lynch reuniu os dados para sua tese de doutorado em 2000 e Shine sabia sobre o trabalho e queria citá-lo em sua própria pesquisa sobre cobras marinhas. Esses dados nunca foram publicados na literatura revisada por pares, então “com algum tempo disponível quando o coronavírus tornou o trabalho de campo impossível, entrei em contato com Tim e concordamos em ir em frente e escrevê-lo para publicação juntos? explicou Shine.

Uma cobra marinha se aproxima de um mergulhador. Foto: Claire Goiran

Como objeto de pesquisa para um estudo de campo, a cobra do mar Olive é magnífica. Elas estão entre as maiores espécies de cobras marinhas, com as fêmeas adultas atingindo dois metros de comprimento e pesando mais de três quilogramas. Os machos são um pouco menores. Essas cobras nadadoras passam toda a vida debaixo d’água, são comuns nas águas tropicais ao redor da Austrália e da Nova Guiné e subsistem com uma ampla dieta que consiste em caracóis, peixes e crustáceos. Durante seus ataques a mergulhadores, as cobras do mar fazem movimentos rápidos e bruscos em zigue-zague, o que é muito diferente de seu comportamento normal de natação.

Durante as sessões de campo, Lynch foi abordado por cobras do mar durante 74 dos 158 encontros. Enquanto nadavam ao redor dele, as cobras marinhas frequentemente agitavam suas línguas perto do corpo de Lynch. Machos se aproximavam dele com mais frequência do que fêmeas e também afastaram-se por longos períodos de tempo.

As interações ocorreram mais vezes de maio a agosto, o que coincidiu com a estação de acasalamento das cobras-do-mar. Durante a temporada de acasalamento, “os machos passam muito tempo nadando rapidamente ao longo da borda do recife e cortejando as fêmeas que encontram”, enquanto as fêmeas “muitas vezes fogem dessas tentativas de corte, refugiando-se em fendas de coral ou nadando rapidamente”, os pesquisadores escrever em seu estudo.

Em 13 ocasiões diferentes – todas durante a temporada de acasalamento – as cobras do mar atacaram Lynch em alta velocidade. Perturbadoramente, os machos se enrolaram em suas nadadeiras em várias ocasiões – um comportamento tipicamente visto durante as interações sexuais.

“Abordagens rápidas e agitadas por machos, normalmente interpretadas como ‘ataques’, às vezes ocorriam depois que um macho interessado perdia o contato com uma fêmea que estava perseguindo, após interações entre machos rivais, ou quando um mergulhador tentava fugir de um macho? de acordo com a pesquisa.

As cobras marinhas fêmeas também atacaram Lynch, mas só o fizeram depois de serem perseguidas por um macho ou depois de perderem a pista de um macho.

Juntas, essas observações levaram os pesquisadores a concluir que o comportamento aparentemente agressivo da cobra marinha não é o que parece.

As cobras marinhas estão entre as maiores espécies de cobras marinhas e preferem áreas de recifes de coral. Foto: Jack Breedon

“Os chamados ‘ataques’ das cobras-do-mar se devem a uma identidade equivocada – geralmente ocorrendo quando uma cobra marinha macho está procurando por fêmeas, ou quando uma fêmea está tentando escapar da atenção amorosa de um macho? explicou Shine.

Confundir um mergulhador humano com um companheiro em potencial pode parecer ridículo, mas Shine diz que é difícil ver debaixo d’água. Parece que “as cobras têm dificuldade em distinguir objetos, então elas se aproximam de qualquer coisa interessante para que possam mexer a língua e obter pistas de cheiro mais confiáveis? Quanto aos encontros envolvendo serpentes marinhas fêmeas, os cientistas acreditam ser mais um caso de identidade equivocada: as fêmeas estão simplesmente procurando um lugar para se esconder.

O novo estudo é realmente ótimo, mas existem alguns detalhes estranhos. Tenho certeza de que os dados estão corretos, mas ter vários mergulhadores coletando os dados do estudo de campo teria sido uma boa ideia. Algo no estilo pessoal de natação ou na forma física de Lynch pode ter alterado de alguma forma o comportamento da cobra marinha. Ter dados mais recentes para trabalhar também teria sido ideal, pois as  técnicas de observação, entre outros aspectos, podem ter melhorado ao longo dos anos.

Apesar disso, o estudo oferece uma lição importante, pois as descobertas podem literalmente salvar a vida de um mergulhador. Como o artigo aponta, os mergulhadores que “fogem das cobras podem sem querer imitar as respostas das cobras fêmeas ao namoro, encorajando os machos a persegui-los”, portanto, para “evitar a intensificação dos encontros, os mergulhadores devem ficar quietos e evitar retaliação”.

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?????? ??? ?????? ???? ??????????? //emiaow553.com/indonesia-quer-criar-jurassic-park-com-dragoes-de-komodo/ Fri, 06 Aug 2021 21:19:24 +0000 //emiaow553.com/?p=389374 A Indonésia quer promover o aumento do turismo em ilhas cheias de lagartos, o que pode não ser a melhor ideia ?para os animais.

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O governo da Indonésia anunciou os planos de criar novos centros turísticos no Parque Nacional de Komodo ?lar do majestoso dragão-de-komodo, uma espécie de lagarto que vive no local.

Estabelecido em 1980 como um refúgio protegido para as feras escamosas, o parque abrange uma constelação de três grandes ilhas indonésias e 26 menores, que são caracterizadas por terrenos acidentados e montanhosos e um clima quente. Em 1991, ele foi declarado Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

No entanto, o plano da Indonésia de transformar as ilhas em um “destino de ecoturismo de classe mundial?gerou um pouco de controvérsia. Parte do problema é que não está totalmente claro o que o governo está realmente planejando. As ilhas já desfrutam de uma certa quantidade de turismo anual, embora os patrocinadores do projeto esperem atrair até 500 mil visitantes anuais para a região.

Novamente, não está 100% claro como – embora se acredite que novos projetos de infraestrutura estejam sendo desenvolvidos. Devido a todo o mistério, no ano passado, as pessoas nas redes sociais começaram a comparar o projeto com “Jurassic Park”, relata a Reuters., em referência a outro exemplo de turismo e lagartos gigantes.

O mais problemático é que a UNESCO reclamou publicamente que o projeto pode perturbar o habitat dos dragões, bem como irritar a comunidade local das ilhas. Em uma reunião de conferência do Comitê do Patrimônio Mundial no mês passado, os funcionários disseram que o projeto precisava de uma nova avaliação de impacto ambiental para determinar se isso seria viável.

O órgão comunicou isso à Indonésia, mas nunca obteve resposta. Um alto funcionário do Ministério do Meio Ambiente da Indonésia disse posteriormente que eles estão trabalhando em uma avaliação e que estará pronta em setembro.

Embora os planos do país certamente não levem à carnificina spielbergiana, há dúvidas se é uma boa ideia incentivar uma grande quantidade de pessoas a visitar uma ilha cheia de lagartos carnívoros.

Ataques de Komodo em humanos são extremamente raros, mas quando acontecem, é um pesadelo. Eles podem correr 19 quilômetros por hora e têm grandes dentes mastigadores envenenados, o que permite que eles basicamente o incapacitem com uma única mordida (embora sejam conhecidos por mordê-lo muito).

Se não for tratada, uma porcentagem significativa de pessoas morre algumas horas após o ataque. Em 2001, o então marido de Sharon Stone tentou se comunicar com um desses animais em um zoológico de Los Angeles e, posteriormente, teve parte de seu pé arrancada na frente de um grupo de crianças.

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Ainda assim os ataques são muito raros – podem ocorrer apenas se você invade seu território ou se estão passando fome por muito tempo. E, neste caso, os funcionários da UNESCO estão claramente mais preocupados com o bem-estar dos lagartos, não dos turistas. Autoridades escreveram que as novas instalações podem perturbar o ecossistema que permite que os cerca de 3 mil Komodos prosperem nas ilhas.

No entanto, o governo indonésio parece ter se decidido. Foi relatado em fevereiro que as autoridades estavam correndo para concluir a construção de seu projeto antes da cúpula do G20 do ano que vem, que será realizada na Indonésia. A cúpula foi programada originalmente para acontecer em Labuan Bajo, uma pequena vila de pescadores com fácil acesso ao Parque Nacional de Komodo, embora tenha sido alterado para um local em Bali.

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