????? ¡¾????¡¿ ??????£»?????? ///tag/independencia/ Vida digital para pessoas Thu, 03 Nov 2022 16:09:50 +0000 pt-BR hourly 1 //wordpress.org/?v=6.6 //emiaow553.com/wp-content/blogs.dir/8/files/2020/12/cropped-gizmodo-logo-256-32x32.png ???? ??? ??? ??£»?????? ///tag/independencia/ 32 32 ??? ¡¾????¡¿ 2024-2025? ??? ??? ?? //emiaow553.com/encontrado-campo-de-prisioneiros-de-guerra-do-seculo-18-nos-eua/ Thu, 03 Nov 2022 16:08:56 +0000 /?p=447834 Uma prisão na Pensilvânia abrigou soldados e suboficiais ingleses, escoceses e canadenses durante a Guerra de Independência dos EUA

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Arqueólogos americanos encontraram o local em que funcionou o Camp Security, um campo de prisioneiros que funcionou durante a Guerra de Independência dos EUA. A antiga prisão está na cidade de York, no centro-sul da Pensilvânia. 

Segundo a Associated Press, o campo abrigou mais de 1.000 soldados e suboficiais ingleses, escoceses e canadenses por 22 meses durante a guerra. A primeira leva de prisioneiros chegou em 1781, quatro anos após a Batalha de Saratoga (momento em que os EUA começaram a tomar as rédeas do conflito). Mulheres e crianças também viveram no local. 

A existência da prisão não era totalmente desconhecida. Um estudo arqueológico de 1979 envolvendo uma pequena parte da propriedade já havia mostrado fivelas, botões e outros itens que foram associados aos soldados britânicos do período. Agora, foi possível confirmar essas pistas.

Em 2020, cerca de 11 hectares da região foram aradas para detecção de metais e coleta de artefatos. Dessa forma, a área de busca dos cientistas foi reduzida para três hectares, permitindo que a equipe identificasse os buracos das cercas no solo.

As trincheiras de paliçada �estacas alinhadas que servem como barreira defensiva �lembravam a de outros locais militares que funcionaram durante o século 18. 

Há evidências de que os postes que formavam a paliçada foram desenterrados e reutilizados após o fechamento da prisão, em 1783. Ao que parece, parte dos prisioneiros morreu devido a uma febre que atingiu o campo, embora não tenham sido encontrados restos humanos no local para confirmar a hipótese.

Os cientistas pretendem seguir procurando pelo resto do contorno da estrutura, além de artefatos e outras pistas sobre o funcionamento da prisão. Os arqueólogos querem descobrir, por exemplo, onde as pessoas moravam, dormiam, faziam suas necessidades e jogavam seu lixo. 

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???? ??? ????? ???? ????£»???????? //emiaow553.com/como-o-museu-do-ipiranga-retratava-a-independencia-no-inicio-do-seculo-20/ Wed, 07 Sep 2022 21:55:28 +0000 /?p=437422 Por decisão da direção da época, obras expostas nesse período excluíam a participação popular - o que levou décadas para ser alterado

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Texto: Carlos Fioravanti, da Revista Pesquisa FAPESP

A partir de setembro, quem entrar no salão nobre do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (MP-USP) encontrará, agora restaurados, dois quadros ao lado do monumental Independência ou morte!, do pintor paraibano Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843-1905), ambos pintados pelo italiano Domenico Failutti (1872-1923). À direita estará um retrato da imperatriz Leopoldina (1727-1826) cercada por seus filhos e à esquerda um de Maria Quitéria de Jesus Medeiros (1792-1853), que lutou na guerra pela Independência.

Nem sempre foi assim. Desde a inauguração do museu, em 1895, até 1905 ali estavam, de um lado, Caipira picando fumo, de outro, Amolação interrompida, ambos do pintor ituano José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899), depois transferidos para a Pinacoteca de São Paulo. O engenheiro e historiador catarinense Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958) foi quem mandou ocupar os espaços então vazios com os quadros das duas mulheres ao preparar o Museu Paulista, cuja direção assumiu em 1917, para as celebrações do centenário da Independência, dali a cinco anos.

Com apoio financeiro do governo estadual e de doações privadas, ele encomendou para o salão nobre outras obras ao pintor fluminense Oscar Pereira da Silva (1867-1939). Foram retratados dom Pedro I, José Bonifácio de Andrada e Silva (1736-1838), Joaquim Gonçalves Ledo (1781-1847), Diogo Antônio Feijó (1784-1843) e duas cenas, a expulsão das tropas portuguesas do Rio de Janeiro e a ação de deputados brasileiros na Corte em Lisboa.

Filho de visconde e neto de barão, até aquele momento professor da Escola Politécnica, um dos núcleos que viriam a formar a Universidade de São Paulo (USP), Taunay acompanhou a produção das pinturas e não hesitava em solicitar os ajustes que lhe pareciam necessários. A atitude do diretor provocava discussões com os artistas, conforme detalham os historiadores Pedro Nery e Carlos Lima Junior em um artigo publicado em 2019 na revista Anais do Museu Paulista, ao comentarem a reforma de Taunay, que incluiu a remoção de outro quadro de Almeida Junior, o Partida da monção, mostrando o início de uma expedição bandeirante, da antessala do salão nobre para uma sala interna.

“Por meio de imagens, Taunay construiu, como se poderia esperar há 100 anos, uma história elitista, racista, machista e pacífica� observa o historiador do MP Paulo César Garcez Marins. Apoiadas pela FAPESP, suas pesquisas se dão no âmbito do subprojeto “Representações artísticas do passado nas coleções do Museu Paulista da USP� parte de um projeto temático coordenado pela historiadora de arte Ana Gonçalves Magalhães, diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP.

Apesar de a imperatriz ter sido uma mulher com força política e uma das articuladoras da Independência, observa ele, foi retratada como mãe, cercada de filhos. Baiana, filha de fazendeiro, Maria Quitéria aparece em trajes militares, segurando um mosquete, como uma militar, não como um membro das forças populares contra o exército português na luta pela Independência na Bahia.

“Taunay reduziu o papel das mulheres e excluiu o povo e os conflitos armados durante as batalhas da Independência� sintetiza. “Como o hall do Museu, a escadaria e o Salão Nobre são tombados e não podemos alterá-los, tomamos as obras que decoram esses espaços como documentos, para discuti-las com os visitantes, apresentando-as como uma forma de ver a história, não como a própria história�(ver Pesquisa FAPESP n° 317).

No MP, ele argumenta, não há grandes telas de batalhas históricas, como as do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro ou do Museu Histórico Nacional de Buenos Aires. A única tela com cena bélica encomendada por Taunay, Combate de milicianos de Mogi das Cruzes com botocudos, de 1 metro (m) por 1,5 m, mostra bandeirantes atirando com mosquetões em indígenas, que revidam com flechas. Nesse quadro, Oscar Pereira da Silva pintou os sertanistas com o chamado gibão de armas, um colete atravessado por costuras formando losangos que, embora fossem comuns no século XVIII, não no XVII, se tornariam um dos símbolos dos bandeirantes, como os chapéus e as botas, descreve Marins em um artigo publicado em 2020 na revista Tempo.

Em 1929, Taunay solicitou a pintura Partida da monção, de Almeida Junior, que fora levada para a Pinacoteca, e com ela “compôs uma sala dedicada às expedições fluviais� comenta a historiadora do MP Michelli Monteiro em um artigo publicado em 2019 nos Anais do Museu Paulista.  Com a  tela de Almeida Junior, vieram Descobrimento do Brasil e Fundação de São Paulo, ambos de Oscar Pereira da Silva. As três telas, imensas, reforçam a ideia de que o passado brasileiro era marcado pelo diálogo e pela expansão territorial tranquila, e não pelo conflito.

“Ao glorificar os bandeirantes como personagens relevantes na definição do território e das fronteiras, Taunay definiu o papel de São Paulo na formação do Brasil� prossegue Marins. “Com as pinturas, o passado paulista se tornava grandioso.�Na época da Independência, São Paulo era uma cidade pequena e pouco expressiva, mas em 1917 já era a segunda do país, um pujante centro econômico, movido pelo cultivo do café no estado. Para o historiador, “Taunay levou a ferro e fogo�a ideia de que “a história de São Paulo é a própria história do Brasil� expressa pelo historiador Antônio de Toledo Piza (1848-1905) na apresentação do primeiro número da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, em 1895.

Taunay dirigiu o Museu do Ipiranga e o Museu Republicano Convenção de Itu até 1945. Nesse tempo, foi professor da então chamada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP e publicou os 11 volumes de História geral das bandeiras paulistas, entre 1924 e 1950. Também escreveu três dicionários, incorporando verbetes de medicina, química, física, biologia e astronomia.

O renascimento de um museu

Em 2013, ao fechar para reforma, o Museu Paulista (MP) tinha cerca de 10 salas de exposição distribuídas em dois andares e banheiros apenas no subsolo. Ao reabrir, em setembro, terá banheiros, elevadores e acesso para pessoas com deficiência nos quatro andares. O número de salas para exposições permanentes ou temporárias saltou para 49 �a manutenção do acervo de cerca de 200 mil peças em imóveis próximos, para onde foi removido no início das obras, propiciou a liberação de espaço interno.

Como resultado da reforma iniciada em 2019 e agora concluída, a um custo de R$ 211 milhões, o espaço expositivo ganhou mais 6 mil metros quadrados, com a construção de um subsolo, e a previsão é de que o número de visitantes anuais chegue a pelo menos 700 mil, o dobro do registrado há cerca de uma década.

“Criamos uma área de acolhimento dos visitantes, com banheiros, cafeteria, livraria e auditório, e um mirante, no último andar� conta a arquiteta Rosaria Ono, diretora do MP, à frente da equipe de cerca de 100 pessoas que preparam as 11 exposições da reinauguração do museu.

Segundo ela, a ampla reforma foi necessária para adequar o museu à legislação e para garantir a segurança de funcionários e visitantes. Outra razão, ela acrescenta, é que “o prédio não foi projetado para ser um museu, mas para ser um edifício-monumento, como o memorial de Abraham Lincoln (1809-1865) em Washington, nos Estados Unidos, e abrigar apenas o quadro Independência ou morte!�

Texto publicado originalmente na revista Pesquisa FAPESP

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???? ¡¾???????¡¿ ?? ???? ?? ????? ??? ?????? ?? ?????? //emiaow553.com/museu-do-ipiranga-reabre-com-area-ampliada-e-totalmente-acessivel/ Mon, 05 Sep 2022 18:07:07 +0000 /?p=437323 Ao lado da reforma, modernização e ampliação do edifício de exposições, um destaque, importante pelo valor histórico e simbólico, foi a restauração do quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo

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José Tadeu Arantes | Agência FAPESP* �Após uma década fechado para o público, o Museu Paulista reabrirá suas portas na próxima semana. Para quem olha de fora, as diferenças são discretas. No entanto, uma completa reestruturação interna modernizou o edifício do século 19, tornando-o completamente acessível a um público diverso.

A nova entrada fica ao lado do espelho d’água e dá acesso a um piso inteiramente novo, que integra o museu ao jardim francês, totalmente revitalizado. O Piso Jardim abriga um auditório com capacidade para 200 pessoas, uma área para exposições temporárias e outra para acolhimento dos visitantes, rasgada por uma janela curva de 30 metros com vista para o Parque da Independência.

O projeto arquitetônico �que inclui escadas rolantes e elevadores �permite que um visitante com mobilidade reduzida ingresse no edifício pela área de acolhimento, passe por todos os andares e chegue até o mirante, no topo do prédio. O novo Museu do Ipiranga também é acessível a portadores de deficiência visual, auditiva ou cognitiva. As exposições de longa duração são repletas de objetos interativos �feitos de pedra, porcelana, madeira, resina, tecidos e outros materiais �e com recursos multissensoriais, como alto relevo e descrições em Libras e em Braille.

Depois de um processo de reforma iniciado efetivamente em 2019, mas que deve ser recuado até 2014 se forem consideradas todas as etapas preparatórias, a reabertura coincide com as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil. E transcorrerá em três dias consecutivos: 6 de setembro, com evento para autoridades e patrocinadores; 7 de setembro, com inauguração simbólica para convidados (estudantes de escolas públicas estaduais e municipais e trabalhadores da obra de recuperação com suas famílias); 8 de setembro, com abertura para o público em geral, previamente agendada no site da instituição.

O Museu Paulista é um dos quatro museus da Universidade de São Paulo (USP) e o processo de restauração, modernização e ampliação do edifício de exposições envolveu uma parceria da universidade com entidades públicas e privadas, patrocinadoras do projeto, como destaca à Agência FAPESP o atual reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior. “Foi uma jornada heroica para desenvolver um dos maiores empreendimentos culturais brasileiros dos últimos tempos. O Museu do Ipiranga é parte da identidade de nosso país e do imaginário do brasileiro. Agora, ao entregarmos o prédio do museu à população, restaurado, modernizado e acessível, queremos que ele seja também parte ativa e pulsante da cena cultural e social paulista e brasileira� diz.

O reitor ressalta que as 12 exposições que serão abertas a partir da reinauguração “marcam uma nova fase curatorial da instituição, cujo impacto social e cultural se deve ao seu importante acervo e ao edifício que ocupa�

Além da restauração e modernização do prédio histórico, destacam-se as obras de ampliação, que, acrescentando 6.800 metros quadrados (m2), dobraram a área útil do edifício de exposições.

“Diretamente acessível pelo jardim, a parte ampliada também contém salas de aula, salas de atividades educativas, cafeteria, loja e um novo saguão de exposições com cerca de 800 m2� informa Rosária Ono, professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e atual diretora do Museu Paulista.

Ono informa que todo esse espaço novo foi ganho no subsolo, por meio de escavações muito cuidadosas para não comprometer a estabilidade estrutural do prédio histórico. “Foi um enorme desafio técnico, para o qual contamos com a colaboração de engenheiros professores da Escola Politécnica da USP� afirma.

O professor Marco Antonio Zago, atual presidente da FAPESP, que era reitor da USP quando a decisão de reformar foi tomada, lembra de como o processo começou: “Em 2013, um ano antes de eu assumir, o museu foi fechado, pois o prédio oferecia grandes riscos para os visitantes. Logo que assumi, em 2014, eu o visitei, na companhia do então vice-reitor, Vahan Agopyan, que depois me sucederia na reitoria. As condições do edifício realmente eram terríveis, com vazamentos, pisos quebrados, escoras para segurar o teto etc. Nossa primeira preocupação foi saber se havia risco imediato de desabamento. Não havia. Mas, naquele momento, também não havia condições para a reforma, porque a universidade estava atravessando uma gravíssima crise financeira, com a interrupção de várias obras já em curso�

Zago conta que foi realizada a reunião de uma associação de amigos do Museu Paulista, na qual vários empresários mostraram disposição de ajudar. “Mas era preciso angariar mais recursos. Eu conversei com o então governador Geraldo Alckmin, que se interessou bastante, porém, ressaltou que os recursos deveriam vir principalmente da iniciativa privada. E meu papel foi buscar esse apoio.�/p>

Desse esforço resultou, tempos depois, uma chamada para empresas interessadas apresentarem projetos de reforma. E a proposta vitoriosa veio a ser aquela posteriormente implementada. “Foi uma proposta bastante inovadora e que, além da restauração extremamente criteriosa do prédio histórico, propunha praticamente duplicar a área, com várias adições modernas, a exemplo do que foi feito em outros grandes museus do mundo. A USP sozinha não seria capaz de arcar, nem mesmo de administrar uma obra desse porte. Quando saí da reitoria, com o projeto arquitetônico aprovado, já estava em andamento a transferência do acervo para que as obras pudessem começar. E o novo governador conseguiu atrair expressivos aportes financeiros da iniciativa privada. Fiquei muito emocionado ao visitar recentemente o edifício reformado e ver o resultado de tudo isso� enfatiza Zago.

Quadro icônico

Ao lado da reforma, modernização e ampliação do edifício de exposições, um destaque, importante pelo valor histórico e simbólico, foi a restauração do quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo (1843-1905). Com seus personagens e ambientação altamente idealizados, essa obra conferiu tom épico a um acontecimento que, segundo testemunhas da época e pesquisas históricas posteriores, teria sido bem menos glorioso. A despeito disso, reproduzida em livros didáticos, ela se tornou, no imaginário de mais de uma geração de brasileiros, uma espécie de retrato oficial da nacionalidade.

Enquanto estava sendo realizada, essa restauração foi objeto de uma longa reportagem da Agência FAPESP (leia mais em: agencia.fapesp.br/32557/).

“Além de reparar danos causados pela ação do tempo, buscamos devolver à pintura suas cores originais �retirando a sujidade acumulada com o tempo, recompondo pontos de perda na camada pictórica original e retirando vestígios de restauros antigos, como um amarelado indevido em certa região do céu� informou, na ocasião, a pesquisadora Márcia Rizzutto, professora do Instituto de Física (IF-USP), que atuou como uma das assessoras científicas da restauração. Seu trabalho foi apoiado pela FAPESP no âmbito do Projeto Temático “Coletar, identificar, processar, difundir: o ciclo curatorial e a produção do conhecimento� coordenado por Ana Magalhães.

Mas a reforma do prédio histórico, o acréscimo de novas áreas de acolhimento e exposição e a restauração do quadro de Pedro Américo são apenas os aspectos mais visíveis de um processo muito maior. Nesse sentido, a ênfase na dimensão curatorial feita pelo reitor Carlotti é bastante oportuna, porque a reabertura do edifício não exibirá apenas um espaço totalmente renovado, compatível com o padrão dos grandes museus internacionais, e capaz de receber um público anual superior a 500 mil visitantes, mas mostrará também um novo conceito de acervos: não apenas uma coleção de itens luxuosos herdados das elites econômica e política do passado, mas um conjunto muito diversificado de objetos, que traduzem a vida da sociedade brasileira em seus múltiplos segmentos e em suas distintas épocas.

“As pessoas geralmente associam um museu ao seu espaço de exposição. Mas um museu é muito mais do que isso. Entre outras coisas, é uma unidade de produção de conhecimento científico, um centro multidisciplinar de pesquisa, inovação e difusão. Mais de 80% do trabalho dos profissionais envolvidos ocorre nas reservas técnicas, nas atividades de prospecção, coleta, catalogação e conservação de itens, bem como no esforço para comunicar os resultados posteriormente à sociedade� afirma a historiadora Solange Ferraz de Lima, que foi diretora do Museu Paulista de 2016 a 2020 e participou intensamente de todas as etapas do processo de restauração, modernização e ampliação.

A reserva técnica do museu contém mais de 450 mil itens. Destes, cerca de 3.800 serão exibidos nas exposições da reabertura, dando ao público uma ideia geral do que é o museu e do que nele se faz, ampliando a representatividade social.

“Esses itens estão organizados em três grandes áreas: ‘universo do trabalho� com ferramentas, moldes, bancadas, tipos para impressão; ‘cotidiano e sociedade� com objetos domésticos, instrumentos de cozinha, peças de mobiliário e decoração; e ‘história do imaginário� com retratos, paisagens, cartões-postais, rótulos de embalagens etc.� conta Ferraz de Lima.

A pesquisadora destaca que os acervos contêm inclusive itens bastante efêmeros, geralmente descartados, mas que, reunidos em sequência, fornecem um retrato muito vivo da sociedade e suas dinâmicas. É o caso de uma inusitada coleção de papéis de embrulhar balas.

Uma etapa preparatória para a reforma e modernização do edifício foi retirar e levar para longe todos esses itens. Por meio de auxílio ao projeto “Cultura material e gestão de acervos� conduzido por Ferraz de Lima, a FAPESP aportou recursos bastante polpudos para que os objetos pudessem ser adequadamente acondicionados, transportados com segurança e guardados em condições de controle ambiental e em mobiliário apropriado em cinco imóveis adaptados para funcionar como reservas técnicas e laboratórios. “Esse auxílio foi absolutamente fundamental. Sem ele, não teríamos podido nem iniciar a reforma� reconhece a diretora Ono.

Os acervos e todo o trabalho de pesquisa realizado com eles continuarão a ocorrer nos cinco imóveis adaptados. E será assim até que a instituição venha a dispor de um edifício único que funcione como centro de cultura material e abrigo para uma reserva técnica visitável.

“O edifício histórico nunca mais voltará a abrigar a reserva técnica. Todo o espaço, agora duplicado, será destinado a exposições e ao acolhimento do público� diz Ferraz de Lima.

Um exemplo bastante interessante do tipo de pesquisa que vem sendo realizada com os acervos é o projeto “Processamento de alimentos no espaço doméstico, São Paulo, 1860-1960� coordenado pela historiadora Vânia Carneiro de Carvalho e executado pela equipe do Grupo de Pesquisa Espaço Doméstico, Corpo e Materialidades (Gema). O principal produto dessa pesquisa será o “Repertório Histórico Ilustrado de Ferramentas e Equipamentos de Cozinha� um livro eletrônico que vai reunir textos e ilustrações sobre mais de 150 objetos de cozinha, com o objetivo de trazer subsídios para outras coleções museológicas e para pesquisas históricas de modo geral.

“Esse estudo diz muito sobre as dinâmicas da sociedade brasileira. Ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos, onde o quase desaparecimento da profissão de empregada doméstica se fez acompanhar de uma rápida eletrificação dos utensílios de cozinha e do consumo maciço de comida enlatada, encontramos no Brasil uma situação bastante diferente. Aqui, o emprego doméstico se manteve até hoje, e não apenas nas casas de famílias ricas, tivemos um consumo muito menor de enlatados e os utensílios de cozinha exibiram, por muito tempo, uma notável coexistência de equipamentos manuais, mecânicos e elétricos. Houve uma espécie de resistência dos saberes artesanais� afirma Carneiro de Carvalho.

A pesquisa conta com apoio da FAPESP por meio do Projeto Temático coordenado por Magalhães, além de Bolsa de Mestrado e Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior concedidas a Laura Stocco Felicio, orientanda de Carneiro de Carvalho. Uma das salas de exposição vai contemplar o estudo sobre objetos de cozinha na reabertura do Museu Paulista.

Para uma história detalhada do edifício monumental e do processo de reforma, consulte as duas linhas do tempo publicadas no site do museu.

* Com informações de Karina Toledo.

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