Supremacia quântica do computador do Google é um marco, mas com ressalvas
Manchetes destacaram que o Google chegou à “supremacia quântica” após o jornal Financial Times vazar, na última sexta-feira (20), um rascunho de um artigo de pesquisa do Google. Estou aqui para dizer que isso não é muito surpreendente, nem grande coisa – pelo menos não para você, por enquanto.
Os jornalistas encontraram um rascunho de um artigo em um site da NASA e o documento dizia que o Google atingiu a supremacia quântica. Vimos o artigo e ele descreve exatamente o que o Google disse publicamente que iria fazer.A chamada supremacia quântica se refere à capacidade de um computador quântico executar um cálculo que um supercomputador clássico não conseguiria realizar em um tempo razoável.
O Google se recusou a comentar sobre o artigo, que claramente não era para ter sido divulgado, mas basicamente ele mostra que a companhia afirma que o seu computador quântico executou em 200 segundos um certo problema que um computador clássico levaria 10 mil anos para executar.
O processador quântico provavelmente não é “supremo” em nenhuma outra computação; ele só bateu o supercomputador nesta tarefa extremamente específica. Essa tarefa, explicando em termos gerais, era produzir a saída de um conjunto aleatório de operações que o computador quântico pode fazer naturalmente, mas até onde os pesquisadores sabem, um supercomputador precisa simular.Ainda há muitos problemas (como os problemas NP-completos) que, até onde os cientistas podem dizer, os computadores quânticos também não conseguem resolver.
Atualmente há muito falatório em torno de computadores quânticos, e o experimento de supremacia quântica é um resultado importante demonstrando que eles são reais e que podem realmente fazer algumas coisas. Mas isso não demonstra que eles podem resolver problemas com implicações do mundo real. E os cientistas vão questionar por muito tempo se a afirmação no artigo do Google é realmente válida, porque trata-se um cálculo especialmente difícil de verificar. Apesar dessas ressalvas, haverá muita publicidade a respeito do feito do Google e algumas besteiras ditas por poderosos. O candidato à presidência dos EUA Andrew Yang tuitou que o “Google alcançar computação quântica é muito importante. Isso significa, entre muitas outras coisas, que nenhum código é indecifrável”. A afirmação está errada. A “computação quântica” tem sido importante há algum tempo, e quanto à afirmação de que “nenhum código é indecifrável”, não faz sentido. O Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST) está no meio de um concurso para matemáticos desenvolverem novos códigos que os computadores quânticos não conseguem resolver e que substituirão a estratégia de criptografia atual, e de acordo com a minha última conversa com o NIST, a pesquisa está indo bem.Um computador quântico com o qual vale a pena se preocupar pode estar apenas no horizonte, ou pode estar a décadas de distância. Porém, os computadores quânticos estão em um lugar semelhante hoje que os computadores estavam em durante a década de 1950: são grandes, ineficientes, caros e com aplicações limitadas.
O processador Sycamore do Google usado para esse experimento tem apenas 53 qubits, o equivalente quântico dos bits, e esses qubits perdem seu comportamento quântico depois de realizar um punhado de operações. A maioria dos aplicativos de computadores quânticos requer milhares ou até mesmo milhões desses qubits trabalhando em conjunto sem perder seu comportamento quântico.A conquista da suposta supremacia quântica do Google não é um salto gigantesco, e certamente não deveria chocar ninguém. É apenas mais um passo adiante na longa jornada rumo a um marco muito mais difícil de alcançar: a utilidade quântica.