Sumiço de 900 mil pinguins intriga cientistas no Pólo Sul

Em 2017, quase um milhão de pinguins-reis desapareceram sem deixar vestígios da maior colônia do planeta.
A Île aux Cochons (Ilha dos Porcos), que fica entre Antártica e Madagascar, no Pólo Sul, foi durante décadas o epicentro da maior colônia de pinguins-reis do mundo, com 64 km² de terras vulcânicas.

O lugar era a casa de milhares de pinguins-reis. Em 2017, porém, imagens de satélites trouxeram preocupações e dispararam alarmes: a ilha estava “vazia”. Quase 900 mil dessas aves, cerca de 90% da colônia simplesmente desapareceram.

Diferentemente do que acontece no filme animado “Os Pinguins de Madagascar”, essas criaturinhas da vida real não saíram numa missão de espionagem, eles simplesmente desaparecerem sem deixar rastros.

Expedição de busca

Segundo o ecologista Henri Weimerskirch, da agência nacional francesa de pesquisa CNRS, a ilha, no sul do Oceano Índico, era a maior agregação de pinguins-rei do mundo nos últimos anos e a segunda maior colônia entre todas as 18 espécies de pinguins. O que fazer para encontrá-los? Ir até lá. Mas a missão não era simples.

Para ter acesso à ilha, a equipe da CNRS levou quase dois anos de muito trabalho de logística  e de preparo para chegar ao local que é extremamente de difícil acesso. A última expedição que esteve lá foi há 37 anos. O arquipélago de Crozet é tão grande que exige a mobilização de muitos recursos, incluindo navio, 700 quilos de equipamentos e até um helicóptero. E tudo isso para estadias muito curtas. Em novembro de 2019 aconteceu a expedição liderada pela CNRS, que enviou cientistas para ficar cinco dias na ilha, e tentar desvendar o sumiço. Ao chegarem no local, confirmaram os diversos espaços vazios onde diversas gerações de pinguins viveram.

A principal teoria dos cientistas é que os pinguins migraram pela rota marítima e não voltaram para a sua ilha de origem. Desta maneira, a colônia teria se dispersado, tendo em vista que os animais não foram encontrados em ilhas próximas.

Rastreamento

Mas o mistério aumenta quando as características da espécie entram na discussão. Os pinguins-rei normalmente são animais fiéis ao local de nascimento e ao primeiro local de reprodução. Para os pesquisadores, é improvável que adultos e jovens desta ilha tenham comportamento diferente dos de outras colônias. Eles colocaram armadilhas e câmeras de visão noturna para procurar gatos e ratos, introduzidos por baleeiros ou caçadores há muito tempo na ilha. Eles são conhecidos por comer ovos e filhotes de aves marinhas. Mas nada foi identificado como uma pista para o desaparecimento. Os cientistas também coletaram amostras de sangue dos pinguins, para rastrear possíveis doenças e desenterraram ossos de alguns deles que poderiam dar pistas ecológicas adicionais, incluindo mudanças na dieta, mas nenhuma das amostras deu qualquer resposta.

A busca não terminou

Sem evidências de erupção vulcânica em imagens de satélite ou fotografia recentes de helicópteros, um tsunami também foi descartado. Ainda há muito a ser investigado, mas demorará algum tempo para descobrir o que aconteceu. Os pesquisadores já descartaram algumas explicações possíveis para o enorme declínio dos pinguins, como a presença de predadores e doenças. Apesar do desaparecimento de todos esses animais, o pinguim real ainda é uma das poucas espécies que não está ameaçada de extinção.

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