Este é o som do rover Perseverance disparando lasers em rochas marcianas

Gravações de áudio feitas pela Perseverance revelam som de uma suave brisa alienígena e de lasers atingindo uma rocha do planeta.
Visualização em mosaico de uma rocha marciana apelidada de "Yeehgo", capturada pelo instrumento SuperCam no rover Perseverance. Crédito: NASA/JPL-Caltech/LANL/CNES/CNRS/ASU/MSSS
Gravações de áudio sem precedentes feitas pelo rover Perseverance da NASA estão nos transportando para a superfície do Planeta Vermelho, permitindo-nos ouvir o som de uma suave brisa alienígena e de lasers atingindo uma rocha marciana.

A Perseverance está na sua terceira semana de sua missão, então ainda é cedo. O projeto está em fase de implantação, e a equipe do Mars 2020 está ativando sistematicamente cada um dos diversos instrumentos do rover para garantir que eles estejam funcionando corretamente e configurados para a fase científica da missão. A Perseverance passará os próximos dois anos ou mais explorando a cratera de Jezero, então não há necessidade de pressa.

A equipe recentemente iniciou a do rover, em uma demonstração inicial do tremendo potencial do instrumento. Afixada ao mastro do robô e pesando 5,4 quilos, ela é capaz de realizar cinco tipos diferentes de análise geológica, permitindo que a equipe selecione as melhores rochas para amostragem.

Essas explorações são importantes do ponto de vista geológico, mas também do ponto de vista astrobiológico. Rochas na cratera de Jezero — um antigo lago — podem conter fósseis ou outros biomarcadores indicativos de vida microbiana antiga. Considerando que o principal objetivo da missão Curiosity era determinar se Marte já foi habitável (aparentemente foi), o rover Perseverance está, por sua vez, procurando evidências de alienígenas antigos.

Para ser claro, ser habitável é diferente de ser habitado; Marte pode ter reunido condições para o surgimento de vida, mas isso não significa que alguma forma de vida realmente se enraizou no Planeta Vermelho.

Imagem tirada pela SuperCam de uma rocha apelidada de “Máaz”, que significa Marte no idioma navajo (língua indígena norte-americana). Crédito: Nasa/JPL-Caltech/LANL/CNES/CNRS

O instrumento SuperCam foi desenvolvido pelo Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México, e um consórcio de laboratórios franceses liderado pelo Centre National d’Études Spatiales. O primeiro conjunto de dados do SuperCam foi recebido recentemente no centro de controle da Agência Espacial Francesa em Toulouse, de acordo com um . As imagens da SuperCam recém-divulgadas mostram um par de rochas, apelidadas de Yeehgo e Máaz, em detalhes requintados. “É incrível ver a SuperCam funcionando tão bem em Marte”, disse Roger Wiens, o principal investigador da SuperCam, no comunicado. “Quando sonhamos pela primeira vez com este instrumento, há oito anos, ficamos preocupados por estarmos sendo ambiciosos demais. Agora ele está lá em cima funcionando perfeitamente.” A Perseverance também é única por ser capaz de gravar sons em Marte. A Nasa forneceu três amostras de áudio diferentes, incluindo a primeira gravação acústica de disparos de laser em Marte e o som dos ventos marcianos.

A Perseverance gravou os sons do laser a uma distância de 3,1 metros da rocha-alvo. Os sons produzidos pelos pulsos de laser variam, permitindo aos cientistas inferir várias características físicas do alvo, como a dureza. “A SuperCam realmente dá ao nosso rover olhos para ver amostras de rochas promissoras e ouvidos para ouvir o som de quando os lasers as atingem”, explicou Thomas Zurbuchen, administrador associado de ciência na sede da Nasa em Washington, D.C., no comunicado. “Estas informações serão essenciais para determinar quais amostras armazenar e, finalmente, retornar à Terra por meio de nossa inovadora Campanha de Retorno de Amostras de Marte, que será um dos feitos mais ambiciosos já realizados pela humanidade.”

A futura missão a que Zurbuchen está se referindo será bastante histórica, já que as amostras armazenadas pela Perseverance representariam os primeiros materiais marcianos enviados à Terra para análise.

A equipe da Mars 2020 também lançou e recebeu dados do sensor visível e infravermelho do rover, um dos sensores da SuperCam. Este instrumento reúne a luz solar refletida, expondo o conteúdo mineral de rochas e sedimentos. O espectrômetro Raman da SuperCam também está produzindo dados, uma conquista que agora representa a primeira vez que a espectroscopia foi feita em outro lugar que não a Terra, disse Olivier Beyssac, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) no Instituto de Mineralogia, Física de Materiais e Cosmoquímica em Paris, no comunicado da Nasa.

A espectroscopia Raman funciona disparando luz — especificamente feixes de laser verdes — em um objeto-alvo, como uma rocha. Esta técnica não destrutiva mostra como a luz está interagindo com ligações químicas no alvo, fornecendo informações sobre a estrutura química do objeto, níveis internos de estresse e outras informações. “A espectroscopia Raman vai desempenhar um papel crucial na caracterização de minerais para obter informações mais detalhadas das condições geológicas sob as quais eles se formaram e para detectar moléculas orgânicas e minerais potenciais que podem ter sido formadas por organismos vivos”, disse Beyssac.

Olhando para os próximos passos, a equipe Mars 2020 vai continuar a testar as capacidades de direção do rover (ele já percorreu 6,5 metros), e escolher um campo aéreo para lançar o helicóptero Ingenuity.

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