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Seleção: os preguiçosos de sempre não conseguem lidar com Diniz

É impossível julgar o trabalho de um técnico sem que ele tenha um ciclo completo de trabalho. E Diniz não terá esse tempo, até onde sabemos. Leia a coluna de futebol do Giz Brasil
Imagem Thais Magalhães/CBF

O Giz Brasil começa a publicar hoje uma coluna sobre futebol. Apesar de ter começado minha carreira de jornalista na área, eu juro que não tenho nada a ver com a decisão, que foi do Paulo Cesar Martin, nosso editor chefe. E juro também que não serei eu o colunista.

Enquanto não acertamos com o nosso candidato preferido, porém, o Brasil jogou há alguns dias, perdeu em casa para o maior rival e a análise preguiçosa já se derrama pelas páginas, canais e YouTube da vida. E como eu não posso abdicar da minha missão de corrigir a internet, usurpei (pelo menos) a primeira coluna.

Acho importante dizer que eu tenho assistido muito pouco futebol. O Brasileirão é impossível de ver, não pela qualidade, mas porque a maneira como os jogadores e árbitros se comportam dentro de campo é absurda, não permite que se jogue futebol e é profundamente irritante para qualquer um que não seja fanático. A seleção, por outro lado, com sua suposta “eficiência” da era Tite, sempre praticou um futebol previsível e estéril, focado em um suposto talento individual de um jogador que não tem caráter nem liderança para ser essa figura nem em um time, quanto mais em uma seleção. Basta lembrar que, na derrota para a Bélgica na Copa de 2018, Neymar é o último jogador do Brasil a voltar ao campo para o segundo tempo, e de cabeça baixa. E quero também defender um ponto de vista absurdo, mas que se você chegar comigo ao final deste texto talvez venha a concordar: ninguém precisa assistir futebol para comentar futebol.  E, às vezes, é bom que não assista (calma, chegue ao fim do argumento).

É óbvio que ninguém pode comentar um jogo de futebol que não assistiu. Que ninguém deveria falar sobre as características de um jogador que nunca viu jogar, ainda que neste caso as estatísticas possam ajudar um pouco. E que alguém que nunca assistiu futebol e não compreende sua essência não deve comentá-lo. Mas eu não vou fazer nenhuma dessas coisas.

A experiência Diniz no futebol

Quero falar aqui sobre o trabalho de Fernando Diniz. Poderia falar sobre ele sem ter assistido nenhum jogo da seleção ou do Fluminense, mas assisti alguns. Meu ponto é: assistir a uma partida e querer julgar um trabalho por ela é estúpido e contraproducente, especialmente no caso de Fernando Diniz, que já provou, agora com um título, que (1) seu trabalho pode ser efetivo; (2)  seu trabalho não produz resultados de uma hora para outra; (3) o processo nem sempre é bonito de assistir. As críticas ao hoje treinador de seleção, não surpreendem ninguém, são praticamente as mesmas que ele recebe desde que assumiu seu primeiro time grande. Convocou mal, mexeu mal, time mal treinado. Isso tudo depois de 20 anos de Tite (pareceu isso), em que o treinador “convocava bem”, “mexia bem”… Ganhava todos os jogos que não importavam e perdia todos os que importavam. Mesmo assim há quem queira se apegar ao que supostamente “deu certo” naquele trabalho para julgar o trabalho seguinte.

Fernando Diniz é vitorioso e seu trabalho é de um nível de qualidade acima de todo o resto que há no Brasil porque não tem medo de experimentar. É impossível experimentar sem errar. É impossível experimentar sem variar as alternativas. E o que os resultados de todos os campeonatos do mundo mostram é que é impossível vencer consistentemente sem experimentar. É impossível julgar o trabalho de um técnico sem que ele tenha um ciclo completo de trabalho. Em um clube, isso em geral requer pelo menos 2 anos; em uma seleção, pelo menos 4. Diniz não terá esse tempo, até onde sabemos. E talvez por isso, os nossos “analistas”, os mesmos que passaram anos dizendo que ele “não ganhava nada”, que levaram à sua demissão no São Paulo mesmo com um trabalho muitíssimo acima do que os jogadores permitiam, fazem as mesmas críticas que sempre fizeram. Porque são, em muitos casos, preguiçosos. Mas, principalmente, porque sabem o que a torcida quer ouvir, e não têm vontade nem ânimo para ir contra a maré. Porque não conseguem entender que a análise de um jogo, de dois jogos ou de três jogos não necessariamente leva a uma boa análise de um trabalho, que depende de muitos outros fatores. Sim, é perfeitamente possível que três jogos ruins sejam o começo de um bom trabalho. Também nos jogos ruins se percebe o que funciona, como e com quem. Nos jogos bons em que não se tenta nada de diferente, porém, não se aprende nada. Esta coluna aqui, comigo e depois sem “migo”, nadará ao largo da maré. Se derem tempo a Diniz, é bastante provável que ele nos entregue a melhor seleção possível com a fraca geração que temos. Terão, porém, que ir um pouco além do óbvio, do que está ao alcance dos olhos.. A maioria esmagadora não conseguirá.
Caio Maia

Caio Maia

Caio Maia é o publisher da F451 e do GizBr. Escreve a cada duas semanas sobre mídia, e quando os editores deixam escreve sobre outras coisas também. Passou pela Folha e depois fez Trivela, revistas ESPN e Sustenta! e uma lista longa de blogs, sites e podcasts.

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