Seca no Cerrado brasileiro é a pior há pelo menos sete séculos, aponta estudo
Texto: Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP
Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e na revista Nature Communications indica que a seca no Cerrado brasileiro é sem precedentes, pelo menos nos últimos 700 anos.
Para chegar a essa conclusão, o trabalho e pela National Science Foundation, dos Estados Unidos, revisou os dados de temperatura, vazão, precipitação regional e balanço hidrológico da Estação Meteorológica de Januária – uma das mais antigas de Minas Gerais, com registros iniciados em 1915 – e os correlacionou com as variações da composição química de estalagmites de uma caverna no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, situada no mesmo município.
“Com o uso de dados geológicos foi possível expandir a percepção da seca causada pelo aquecimento global para um período bem anterior ao dos registros meteorológicos. Dessa forma, conseguimos fazer a reconstituição do clima até sete séculos atrás. Isso permitiu não somente provar que o Cerrado está mais seco, mas que a origem dessa seca tem relação com o distúrbio do ciclo hidrológico causado pelo aumento da temperatura induzida pela atividade humana na emissão de gases do efeito estufa ”, afirma , professor do Instituto de Geociências (IGc-USP) e um dos autores do estudo, que foi liderado por Nicolás Strikis, do mesmo instituto.
“A mensagem é que não há paralelo com a seca que estamos vivenciando atualmente. É importante frisar que identificamos uma tendência de aumento da temperatura que começa nos anos 1970, mas o fato é que ainda não atingimos o pico de aquecimento. Portanto, a expectativa é que esse fenômeno piore ainda mais”, informa Cruz à Agência FAPESP.
A Caverna da Onça, onde foram coletados os dados químicos das estalagmites, é diferente das demais estudadas pelo grupo, porque é aberta e localizada no fundo de um cânion com 200 metros de profundidade e está sob influência da variação de temperatura externa. Fica localizada no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e serve de hábitat para uma onça, daí o nome. “Trata-se de um trabalho inédito, pois geralmente estudamos cavernas em um ambiente fechado, com a circulação de ar muito restrita e a temperatura estável ao longo do ano. A conexão da Caverna da Onça com o clima externo nos permitiu avaliar que a seca também altera a química das formações rochosas de cavernas [espeleotemas]. O aumento da evaporação causada pelo maior aquecimento diminui a recarga de água que alimenta os gotejamentos na caverna. Foram essas mudanças químicas na rocha, associadas à evaporação da água, que nos mostraram que estamos vivenciando uma seca sem precedentes”, explica.Inovação
O artigo Modern anthropogenic drought in Central Brazil unprecedented during last 700 years pode ser lido em: .