Na série Vikings, o Jarl Borg, interpretado por Thorbjørn Harr, passa por um ritual de tortura para lá de cruel. Basicamente, o líder tem as , com as costelas retiradas e posicionadas no formato de asas. Por fim, seus pulmões saltam do corpo e, em um último suspiro, ele morre. A cena é forte, mas, para os curiosos, está disponível no YouTube.
Este tipo de morte é conhecido como “águia de sangue”, uma referência ao formato do corpo após a execução e também ao último movimento do pulmão, que lembraria o bater da asa de um pássaro. O ritual também foi apresentado no jogo Assassin’s Creed Valhalla e no filme de terror sueco Midsommar (2019).
O ritual de tortura é citado apenas em poemas da época, mas não há evidências físicas concretas de que vikings realmente o praticavam. Por conta disso, o processo era considerado por pesquisadores como uma lenda.
Agora, cientistas da Universidade da Islândia se concentraram não em provar que o ritual existia, mas sim em mostrar se sua execução por estes povos antigos seria possível.
Resultados
Sim, a águia de sangue poderia ter sido feita pelos vikings. Porém, diferentemente do que acontece na série, a pessoa torturada jamais aguentaria viva até o final do ritual. O último suspiro não passa de uma licença poética.
Para chegar a essas conclusões, foi reunida uma equipe interdisciplinar com médicos e historiadores que avaliaram poemas da Era Viking e cruzaram os dados com a anatomia humana. A pesquisa completa foi publicada na revista científica .
Em primeiro lugar, teriam que ser cortados uma série de músculos das costas, trapézio, escápula etc. Em seguida, seria necessário separar as costelas das vértebras, uma tarefa difícil considerando os ligamentos fortes das articulações. Fazer isso de forma rápida para manter a vítima viva seria impossível.
E nem pense na possibilidade de adiantar o serviço usando uma espada ou machado: dessa forma, os pulmões seriam seriamente danificados, estragando o objetivo da ação.
Os pesquisadores acreditam que os Vikings utilizavam um tipo específico de ponta de lança para descompactar a caixa torácica rapidamente. Uma cena retratada em um monumento de pedra encontrado na ilha sueca de Gotland corrobora com a ideia.
Para terminar o serviço, deve-se retirar as costelas e pulmões. É tecnicamente possível modelar as costelas para fora e deixá-las no formato de asas, embora o movimento exija muita força e coordenação. Mas não basta mexer alguns ossinhos: seria necessário fraturar mais costelas e cortar os músculos que ligam os ossos à parte inferior das costas.
Vale lembrar ainda que, na hora de retirar os pulmões, teriam que ser consideradas as veias, artérias e brônquios, que não são tão longos para permitir a rápida retirada do órgão de dentro do corpo. Provavelmente, o órgão já teria parado de funcionar nessa etapa.
A águia de sangue era fisicamente possível, mas manter a pessoa viva, não. Isso não descarta a possibilidade do ritual de tortura ter sido aplicado. Na verdade, os pesquisadores acreditam que o processo se encaixa com o comportamento da elite guerreira da Era Viking.
Como escreveram os cientistas em artigo na , “eles não tinham escrúpulos em exibir os cadáveres de humanos e animais em rituais especiais, inclusive durante execuções espetaculares”. Os guerreiros eram obcecados por suas reputações, e parecem ter usado a águia de sangue em circunstâncias excepcionais, como para honrar uma morte vergonhosa atribuída a um parente do sexo masculino.