A cientista Rosalind Franklin pode ter tido muito mais influência na descoberta da dupla hélice do DNA, em 1953, do que se imaginava. Apesar de os créditos normalmente ficarem com James Watson e Francis Crick, Rosalind foi crucial para a descoberta — e, mesmo assim, acabou tendo sua contribuição praticamente apagada da história.
Um da revista Nature, publicado na terça-feira (25), coloca luz sobre a provável injustiça. Segundo uma carta e um texto inéditos, escritos em 1953, Franklin na verdade trabalhava lado a lado com os cientistas, mas jamais recebeu reconhecimento por isso.
Até agora, a história mais popular era que Watson e Crick pesquisavam a modelagem da forma do DNA na Universidade de Cambridge enquanto Franklin, uma especialista em raios-X do King’s College London, estudava as moléculas com um cientista chamado Maurice Wilkins.
Foi em seu laboratório que ela capturou a icônica Fotografia 51, uma imagem de raio-X que mostra a forma cruzada do DNA, em 1952. É aí que começa o embate. Na versão de Watson, ele entendeu imediatamente que se trata de uma hélice ao ver a imagem, meses depois de Rosalind tê-la feito.
Na mesma época, Crick teve acesso a um relatório do laboratório de Franklin e usou os dados da colega – sem a permissão dela. Segundo essa história, esses dois momentos foram capazes de resolver a dupla hélice em poucos dias.
Mas não foi exatamente isso que aconteceu. Ao acessar as anotações da cientista, os pesquisadores Mateus Cobb, que escreve uma biografia sobre Crick, e Nathaniel Comfort, biógrafo de Watson, identificaram que Franklin contribuiu igualmente para resolver a estrutura do DNA.
O que aconteceu
Nos textos encontrados, os autores identificaram um rascunho de uma reportagem escrita para a revista Time com um selo “em consulta com Franklin”. Apesar de nunca ter sido publicada, a reportagem descrevia o trabalho sobre a estrutura do DNA como um esforço conjunto dos dois grupos.
Além disso, uma carta de um dos colegas de Franklin sugere que a cientista sabia que sua pesquisa estava sendo compartilhada com Crick. A combinação da reportagem com a carta demonstra que os quatro pesquisadores trabalhavam juntos e compartilhavam suas descobertas abertamente, sem pegá-las em segredo.
No final, Franklin deixou o trabalho com DNA para trás e fez outras descobertas ao pesquisar vírus. Ela morreu em 1958, aos 37 anos, de câncer. Quatro anos depois, Watson, Crick e Wilkins receberam o prêmio Nobel por seu trabalho, sem compartilhar a honraria com Rosalin.
“Ela merece ser lembrada não como a vítima da dupla hélice, mas como uma contribuinte igual para a solução da estrutura”, escreveram Cobb e Comfort no novo artigo.
Howard Markel, que escreveu um livro sobre a descoberta da dupla hélice do DNA, disse à que não está convencido com a “atualização” da história. Segundo ele, Franklin só foi “roubada” pelos demais porque ela era uma mulher judia em um campo dominado por homens.