Renas do Ártico dormem enquanto ruminam, aponta estudo
Durante o verão, as renas buscam comida quase que 24 horas por dia. Então, passam um bom tempo ruminando — estratégia de ficar mastigando um alimento parcialmente digerido para absorção dos nutrientes.
É isso que prepara esses animais para os meses de inverno, que conta com longos períodos escuros e escassez de comida na região do Ártico, onde vivem.
Agora, um novo estudo descobriu que o cérebro das renas desenvolveu um mecanismo que possibilita o descanso mesmo nesses meses de verão, em que o trabalho é mais intenso. Os resultados, publicados na revista , indicam que elas dormem enquanto estão ruminando.
“Quanto mais as renas ruminam, menos sono adicional não-REM elas precisam”, disse Melanie Furrer, autora do estudo. Dessa forma, são capazes de atender às suas necessidades de sono e digestão ao mesmo tempo.
O pontapé inicial
Pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça, já estavam estudando o ciclo circadiano das renas que habitam o Ártico, mas na tentativa de compreender o padrão de sono do animal em diferentes estações do ano. Isso porque a região nem sempre tem períodos equivalentes de luz e escuridão, especialmente no inverno.
Para isso, os cientistas acompanharam renas fêmeas e adultas que viviam em Tromsø, na Noruega, durante o outono, o verão e o inverno. De modo geral, os experimentos foram conduzidos em estábulos fechados, com iluminação controlada, comida ilimitada e temperatura constante.
Por meio de eletroencefalografia não invasiva (EEG), monitoraram suas atividades do dia. Em média, a cada dia, as renas passaram 5,4 horas em sono não-REM, que inclui os momentos de sonolência e início do descanso, e tiveram cerca de 0,9 horas em , que é aquele mais profundo.
Além disso, as renas também passaram aproximadamente 2,9 horas ruminando. Esses números permaneceram como média independentemente da estação. Dessa forma, os cientistas descobriram que as renas dormiam a mesma quantidade durante o inverno, verão e outono.
“O fato de as renas dormirem a mesma quantidade no inverno e no verão sugere que elas devem ter outras estratégias para lidar com o tempo limitado de sono durante o verão ártico”, disse Furrer.
Renas multitarefas
É durante o verão que as renas passam as 24 horas do dia comendo, a fim de desenvolver uma reserva de nutrientes para sobreviver ao inverno. Por isso, quase não dormem – mas precisam encontrar uma maneira de descansar ainda assim.
Com isso em mente, os pesquisadores levantaram a hipótese de que as renas utilizavam o momento da ruminação para cochilar. Então, pela leitura de EEG das renas enquanto ruminavam, eles identificaram padrões de ondas cerebrais que são indicativos de sono não-REM.
Para testar se a ruminação poderia reduzir o impulso das renas para dormir, os cientistas fizeram com que elas dormissem duas horas a menos que o costume. Depois disso, as leituras de EEG das renas mostraram aumento da atividade de ondas lentas.
Segundo os pesquisadores, isso é um indicativo de acumulação de “pressão do sono”. O termo se refere ao impulso biológico inconsciente que demanda mais tempo de sono – e que ele seja mais profundo.
No entanto, quando as renas ruminavam, essa atividade de ondas lentas diminuía durante o sono subsequente. Em geral, quanto mais elas mastigavam, menor a atividade de ondas lentas.
“Isso sugere que a ruminação reduz a pressão do sono, o que poderia beneficiar as renas, porque significa que elas não precisam comprometer a recuperação do sono quando passam mais tempo ruminando”, diz Furrer.