Remédio para artrite pode ajudar a salvar pacientes com casos graves de Covid-19
Medicamento tocilizumabe mostra efeito modesto, mas clinicamente significativo, na queda da mortalidade e no número de altas.
Ainda são poucos os tratamentos capazes de salvar vidas em casos graves de Covid-19. Porém, novos resultados de um grande ensaio clínico em andamento no Reino Unido revelam que um medicamento para artrite chamado tocilizumabe pode reduzir o risco de morte de pacientes hospitalizados, especialmente quando combinado com um tratamento com esteroides.
O ensaio — liderado por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido — tem testado possíveis tratamentos para casos graves de Covid-19 desde março de 2020, com mais de 36 mil participantes inscritos até o momento. Ele foi um dos primeiros a demonstrar que o esteroide dexametasona fornece um benefício modesto, mas real, para salvar vidas de pacientes hospitalizados que precisam de suporte de oxigênio. O estudo também ajudou a descartar tratamentos antes vistos como promissores, como a hidroxicloroquina e o coquetel de HIV lopinavir-ritonavir.
O braço do tocilizumabe no Recovery envolveu 2.022 pacientes randomizados para receber o medicamento além do tratamento padrão, que foram então comparados a um grupo de tamanho semelhante de pacientes que receberam apenas o tratamento padrão. Logo no começo deste estudo, que começou em abril de 2020, os esteroides se tornaram o tratamento padrão; por isso, 82% dos pacientes também receberam drogas esteroides.
De acordo com os resultados, na quinta-feira (11) como preprint no MedRxiv, o tocilizumabe teve um efeito modesto, mas clinicamente significativo, na redução da mortalidade. No grupo de tratamento, 29% dos pacientes morreram em 28 dias, em comparação com 33% dos pacientes no grupo controle. Pessoas que tomam tocilizumabe também têm maior probabilidade de receber alta do hospital em 28 dias (54% vs. 47%). Em termos do mundo real, espera-se que o medicamento salve um em cada 25 pacientes que o tomarem.
Embora algumas pesquisas anteriores tenham encontrado pouco ou nenhum benefício no uso do tocilizumabe, o estudo Recovery é de longe o maior estudo individual até o momento para testar sua eficácia, observaram os autores. Quando combinados com o tratamento com esteroides, eles estimam que esses medicamentos podem reduzir o risco de mortalidade em um terço para pacientes em uso de oxigênio de suporte e pela metade para pessoas que precisam de ventiladores.
“Estudos anteriores com tocilizumabe mostraram resultados mistos e não estava claro quais pacientes poderiam se beneficiar com o tratamento. Agora sabemos que os benefícios do medicamento se estendem a todos os pacientes com Covid com baixos níveis de oxigênio e inflamação significativa. O duplo impacto da dexametasona mais tocilizumabe é impressionante e muito bem-vindo”, disse Peter Horby, pesquisador em doenças infecciosas emergentes em Oxford e coinvestigador principal do Recovery, em um divulgado pela universidade.
O tocilizumabe é um anticorpo monoclonal feito em laboratório, projetado para conter um sistema imunológico hiperativo — uma característica comum dos casos graves de Covid-19. Ao contrário da dexametasona, que também suprime o sistema imunológico, o tocilizumabe ainda é patenteado pela farmacêutica Roche e é muito mais caro por dose. Portanto, isso pode afetar o acesso de países e pacientes ao medicamento.
De qualquer forma, dada a necessidade atual de opções confiáveis, o tocilizumabe deve se tornar parte dos recursos para casos críticos. Outros tratamentos podem se juntar a essa lista. Outro remédio para artrite a base de anticorpos, o , também promete salvar vidas. No começo dessa semana, a FDA (órgão dos EUA similar à Anvisa) o uso emergencial de um coquetel de anticorpos desenvolvido pela Eli Lilly para pessoas com alto risco de doença grave e hospitalização. Nos EUA, há atualmente com Covid-19.
Os pesquisadores do Recovery ainda estão testando várias outras drogas, incluindo aspirina e dois medicamentos à base de anticorpos. Eles também planejam enviar as descobertas preliminares sobre o tocilizumabe para uma publicação com revisão por pares.