Redes sociais reduzem autoestima das crianças sobre os próprios corpos, diz estudo
Três em cada quatro crianças de até 12 anos não gostam de seus corpos e ficam constrangidas com a própria aparência. O comportamento se repete em 8 a cada 10 jovens de 18 a 21 anos.
Os dados estão em um relatório da organização britânica de saúde mental , ao qual o jornal teve acesso. Segundo o levantamento, o principal motor para o complexo seria o consumo excessivo de redes sociais.
A pesquisa entrevistou 1.024 crianças e jovens com idades entre 12 e 21 anos. Quase metade disseram que se tornaram retraídos, começaram a se exercitar excessivamente, pararam de sociabilizar ou se automutilaram porque são regularmente intimidados por sua aparência física. Outros resultados do estudo:
- Quatro em cada 10 afirmaram que estão com problemas de saúde mental
- Quase um em cada cinco enfrentam problemas de imagem corporal
- 14% enfrentam distúrbios alimentares, como restrição extrema, compulsão alimentar, uso constante de laxantes ou vômitos forçados
- Dos que precisam de apoio, só um em cada 10 jovens recebe tratamento
Sobre o uso de redes sociais, 97% das crianças com menos de 12 anos disseram que têm suas próprias contas. Além disso,
- Quase 70% relataram que as mídias sociais os deixam estressados, ansiosos e deprimidos. Desses, dois terços afirmam que se preocupam com o tempo gasto nas redes: o tempo médio foi de 3,65 horas diárias.
- Mesmo com as preocupações sobre saúde mental, a maioria segue online: 95% disseram que se sentem impotentes na hora de abandonar o hábito online.
- Quase todos os jovens admitem que são quatro vezes mais propensos a recorrer às redes sociais do que a conversar com amigos e familiares sobre a baixa autoestima.
Mudança urgente
A psicóloga e CEO da Stem4, Nihara Krause, alertou sobre a urgência de combater as consequências das redes sociais na saúde mental dos jovens. “As descobertas desta pesquisa são profundamente preocupantes”, disse.
“Quando os jovens usam as mídias sociais para procurar informações, eles se deparam com uma suposta realidade que é distorcida e prejudicial. Suas buscas online continuam gerando conteúdo desencadeador, o que agrava o problema”.
A discussão sobre os efeitos das redes sociais na autoestima e saúde dos jovens ganhou força durante a pandemia. À época, o isolamento forçou o aumento da exposição de crianças e adolescentes às plataformas sociais.
Os dados na saúde pública do Reino Unido são uma evidência de como as consequências não demoraram a aparecer. Entre abril e dezembro de 2021, a demanda por serviços de transtorno alimentar de menores aumentou em dois terços no NHS, o sistema de saúde britânico. Novos 10 mil pacientes iniciaram tratamento no período.
Do lado de lá, eles sabem de tudo isso
Em setembro de 2021, o caso Facebook Papers ganhou repercussão na mídia depois que a denunciante Frances Haugen afirmou que os chefões da Meta têm conhecimento sobre os efeitos nocivos de suas plataformas sobre meninas e adolescentes.
Enquanto isso, a organização CCDH (Centro de Combate ao Ódio Digital, na sigla em inglês) em dezembro que o algoritmo do TikTok envia conteúdo de automutilação e transtorno alimentar para adolescentes minutos depois de eles expressarem interesse nesses assuntos.
Em resposta, o TikTok – que já soma mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo e é a rede preferida da Geração Z – disse que o estudo não reflete os hábitos dos usuários na vida real.
“Estamos cientes de que o conteúdo de ativação é exclusivo para cada indivíduo”, disse um porta-voz. “Continuamos focados em promover um espaço seguro para todos, incluindo pessoas que optam por compartilhar suas jornadas de recuperação ou educar outras pessoas sobre esses tópicos”.