Parabéns, humanidade: criamos um número recorde de lixo eletrônico em 2019

Novo relatório mostra que, em 2019, a humanidade gerou a maior quantidade de resíduos eletrônicos de todos os tempos, destacando um problema crescente.
Monitor de tubo em lixo eletrônico. Crédito :Issouf Sanogo/AFP (Getty Images)
Crédito :Issouf Sanogo/AFP (Getty Images)
O mundo continua produzindo mais fones de ouvido, micro-ondas, laptops, aparelhos de ar condicionado e outro itens eletrônicos, mesmo que um valor recorde desses itens acabe como lixo eletrônico. Um mostra que, em 2019, a humanidade gerou a maior quantidade de resíduos eletrônicos de todos os tempos, destacando um problema que cresce rapidamente.

O Global E-Waste Monitor é um esforço liderado pela Universidade das Nações Unidas, União Internacional de Telecomunicações e a Associação Internacional de Resíduos Sólidos, em colaboração com a OMS (Organização Mundial da Saúde), e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Lançado nesta quinta-feira (2), o relatório é o terceiro do seu tipo — e as tendências que ele mostra não são animadoras. Enquanto o mundo gerou 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico — 9,2 milhões de toneladas a mais do que o primeiro relatório de 2014 documentou — nossos sistemas de coleta não foram atualizados para garantir o descarte correto de nossos aparelhos. O relatório deste ano mostra que apenas 17,4% foram reciclados. “O fato mais surpreendente para mim foi que as taxas formais de coleta e reciclagem não aumentaram tanto quanto eu esperava”, disse Vanessa Forti, principal autora do estudo e associada do programa da Universidade das Nações Unidas, ao Gizmodo. Isso é extremamente preocupante, porque se esses eletrônicos não estiverem sendo coletados e reciclados, provavelmente estarão poluindo de alguma forma. Cada item eletrônico contém materiais valiosos e tóxicos, incluindo ferro, cobre e ouro, além de mercúrio e retardantes de chamas.

Além disso, itens como geladeiras e ares-condicionados geralmente contêm clorofluorocarbono e hidroclorofluorocarbonos, gases potentes do efeito estufa que podem agravar a crise climática. Os autores do relatório estimam que 8% do lixo eletrônico é descartado em lixeiras convencionais, onde eventualmente chegam a aterros ou incinerados, principalmente em países de alta renda, como os EUA. No hemisfério sul, onde muitos países não têm políticas formais para regular o descarte de eletrônicos, o lixo eletrônico pode ser mal gerenciado por meio de sistemas informais, onde indivíduos tentam quebrar o equipamento ou vender para recicladores que não o descartam adequadamente. Como resultado, muitos dos produtos químicos tóxicos escondidos no interior podem poluir os cursos de água. Os autores do relatório destacam a ameaça à saúde pública, especialmente de crianças e trabalhadores. “As crianças vivem, trabalham e brincam em locais informais de reciclagem de lixo eletrônico”, diz o relatório. Elas podem inalar vapores tóxicos liberados quando os eletrônicos são queimados ou sofrer contato da pele com substâncias químicas perigosas que podem estar saindo destes dejetos. Trabalhadores também podem despejar ácidos usados para remover o ouro dos eletrônicos e outras substâncias em cursos d’água próximos, que podem se espalhar para o sistema alimentar local.

Este relatório mostra que a situação não está melhorando. Em todo o mundo, mais e mais famílias estão obtendo acesso a utensílios básicos de cozinha e telefones celulares. O lixo eletrônico do ar-condicionado está aumentando consideravelmente, e o uso de ar-condicionado só deve aumentar devido ao aquecimento global. Isso é importante para melhorar a qualidade de vida e a saúde pública das pessoas, mas, se não houver um forte programa de descarte e reciclagem, pode acabar contribuindo para a poluição de outras maneiras.

“Não há um caminho fácil, especialmente porque o lixo eletrônico é um fluxo complexo de resíduos”, disse Forti. A quantidade de lixo eletrônico que criamos globalmente continuará aumentando. O relatório estima que o mundo produzirá 74,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico anualmente até 2030. Os consumidores podem fazer mudanças em suas próprias vidas reciclando seus eletrônicos e exigindo mais programas locais de reciclagem de lixo eletrônico em locais onde não existem. Porém, é ainda mais crítico para os líderes mundiais descobrir como lidar com os eletrônicos descartados antes que eles se espalhem mais rapidamente pelo planeta.

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