Cientistas reconstroem virtualmente um magnífico templo de sociedade anterior aos incas
O templo Pumapunku, de 1.500 anos de idade, no oeste da Bolívia, é considerado uma coroação da arquitetura mesoamericana, mas ninguém sabe como era realmente a estrutura original. Até agora. • Encontraram um esqueleto de 500 anos que morreu calçando botas no fundo do rio Tâmisa, em Londres • História da origem humana muda de novo, desta […]
O templo Pumapunku, de 1.500 anos de idade, no oeste da Bolívia, é considerado uma coroação da arquitetura mesoamericana, mas ninguém sabe como era realmente a estrutura original. Até agora.
• Encontraram um esqueleto de 500 anos que morreu calçando botas no fundo do rio Tâmisa, em Londres
• História da origem humana muda de novo, desta vez graças a uma nova descoberta na Argélia
Usando dados históricos, peças impressas em 3D e software de arquitetura, o arqueólogo Alexei Vranich, da Universidade da Califórnia em Berkeley criou uma reconstrução virtual de Pumapunku — um antigo templo Tiahuanaco agora em ruínas.
Arqueólogos têm estudado o local há mais de 150 anos, mas não estava claro imediatamente como todas as peças quebradas e espalhadas pertenciam umas às outras. A abordagem surpreendentemente simples concebida por Vranich está, finalmente, fornecendo um vislumbre da aparência original da estrutura. De forma empolgante, o mesmo método poderia ser usado para reconstruir virtualmente ruínas semelhantes. Os detalhes desta conquista foram publicados nesta quarta-feira (12), na .
Primeiro, um pouco de história de fundo sobre a estrutura. Pumapunku, que significa “porta do puma”, era um templo projetado e construído pela cultura pré-inca Tiahuanaco, que viveu e prosperou no que hoje é o oeste da Bolívia de 500 d.C. a 1.000 d.C.
Centenas de anos depois, os incas (1300-1570 d.C.) encontraram as ruínas de Pumapunku, considerando-as importantes e dignas de restauração. E, de fato, os incas acreditavam que foi em Pumapunku que o mundo começou. Inspirados, eles tentaram integrar o estilo da Tiahuanaco em sua própria arquitetura, como visto nas estruturas da capital Cusco e da “cidade perdida” de Machu Picchu.
A porção leste do sítio arqueológico Pumapunku fotografada pelo arqueólogo Max Uhle, em 1893. Imagem: Max Uhle/Heritage Science
De fato, os incas tinham o direito de ficar impressionados — o templo Pumapunku era uma realização arquitetônica mesoamericana avançada. Os conquistadores espanhóis e outros que visitaram o local durante os séculos 16 e 17 descreveram-no como “um edifício maravilhoso, embora inacabado, com portões e janelas esculpidas em blocos simples”, como Vranich escreveu em seu novo artigo. Pumapunku exibia um nível de artesanato que era, em grande parte, incomparável no Novo Mundo pré-colombiano. E ele é frequentemente considerado o ápice arquitetônico da tecnologia lítica andina antes da chegada dos europeus. Ainda hoje, o trabalho em pedra do templo é considerado tão preciso que antigos entusiastas de alienígenas que ele foi feito por lasers e outras tecnologias extraterrestres.
Peças impressas em 3D utilizadas para a reconstrução. Imagem: Alexei Vranich/Heritage Science
Infelizmente, as ruínas de Tiahuanaco, e o templo de Pumapunku em particular, foram saqueadas repetidamente durante o último meio milênio. Os arqueólogos não têm praticamente nenhuma ideia de como a estrutura realmente era. Nenhum dos blocos que uma vez compuseram a estrutura original está atualmente localizado em seu lugar de origem, e muitos deles estão muito danificados ou deteriorados. Além disso, a maioria das pedras no local é grande demais para se mover, dificultando ainda mais as observações. E as notas de campo deixadas pelos arqueólogos ao longo dos anos são consideradas muito opacas para serem conceituadas. Para superar essas dificuldades e limitações, Vranich e seus colegas integraram dados arqueológicos históricos com software de computador moderno e tecnologia de impressão 3D para reconstruir o templo antigo e, ao fazê-lo, conceberam uma abordagem inteiramente nova para reconstruir e visualizar ruínas antigas que de outra forma seriam impossíveis de construir. A equipe criou modelos em miniatura impressos em 3D, em 4% do tamanho, das 140 peças conhecidas do templo, que foram baseadas em medições compiladas por arqueólogos ao longo dos últimos 150 anos e nas próprias observações de campo de Vranich nas ruínas. Os pesquisadores usaram análises comparativas e interpolação para reconstruir peças quebradas. Armados com suas peças impressas em 3D, os pesquisadores iniciaram a tarefa de reconstruir o templo antigo, assim como alguém que trabalha em um quebra-cabeça. Sim, os pesquisadores poderiam ter realizado esse trabalho exclusivamente no reino virtual, mas eles tiveram mais sorte com peças físicas tangíveis que poderiam se mover livremente. “Era muito mais fácil usar os modelos impressos em 3D”, disse Vranich ao Gizmodo. “Você pode manipulá-los rapidamente na mão e tentar posição após posição. É muito mais lento e menos intuitivo no computador. Seria como tentar fazer um quebra-cabeça no computador — mover o mouse, clicar em uma peça, movê-la e depois rolar —, em vez de pegar uma peça, tentar, depois outra e depois outra.”“É quase como se fosse uma versão pré-colombiana da Ikea.”Satisfeitos com as suas configurações à la Lego, os investigadores introduziram suas criações num programa de modelação arquitetônica, culminando em um único modelo hipotético do complexo do templo. Isso não foi muito difícil, pois os métodos de construção usados pelo povo Tiahuanaco, e como eles formaram suas pedras incrivelmente geométricas, estão bem documentados, explicou Vranich. Mas o exercício produziu algumas novas descobertas. “O que descobrimos é que parece que eles estavam fazendo protótipos para cada tipo de pedra, e então copiavam uma após a outra. É quase como se fosse uma versão pré-colombiana da Ikea.”
O efeito de espelho no portão, em uma seção do templo. Imagem: Castro Vocal
A nova reconstrução 3D também forneceu algumas novas perspectivas sobre o propósito do edifício. “Sabemos que era um ritual, claro”, disse Vranich. “O que descobrimos é que eles estavam tentando imitar, em pedra, as formas anteriores que foram feitas com adobe. Isso é chamado de esqueumorfismo, e você pode vê-lo nos templos romanos — e até mesmo nos correios modernos —, que têm elementos de pedra decorativos que são imitações da forma original do templo grego de madeira.” Outra descoberta interessante foi que os portões de entrada espalhados pelo local estavam alinhados de forma a criar um efeito de espelho. Ou seja, “um portão grande, depois outro menor na fila, depois outro”, disse ele. “Ele criava um efeito como se você estivesse olhando para o infinito nos confins de um único quarto.” Em termos de precisão, Vranich disse que está “confiante na forma básica”, mas admite que “sempre haverá detalhes arquitetônicos que permanecerão desconhecidos”.Modelo virtual das pedras em sua localização adequada. Imagem: Castro Vocal
A equipe de Vranich deu uma cópia dos blocos impressos em 3D ao diretor do sítio arqueológico das ruínas de Pumapunku e ensinou a equipe a registrar as pedras e modelá-las. Vranich espera que mais blocos sejam descobertos no local e que mais reconstruções do complexo do templo venham por aí. “Os blocos também serão disponibilizados online”, disse Vranich. “Minha esperança é que outras pessoas os imprimam e que, por meio da sabedoria das multidões, possamos encontrar correspondências adicionais e continuar a reconstruir a forma de (outro) edifício (Tiahuanaco) conhecido como ‘templo dos Andes'”, disse Vranich.Reconstrução virtual de todo o edifício. Imagem: Castro Vocal
Usando essa técnica, Vranich disse que deveria ser possível reconstruir outros edifícios antigos destruídos, incluindo aqueles em Palmira, na Síria, que foram destruídos em parte pelo Estados Islâmico. A técnica também poderia ser usada para reconstruir desastres modernos, como acidentes aéreos, que exigem estudo forense de peças dispersas para entender a causa e a origem de uma possível explosão, acrescentou. Como diversão à parte, Hillary Clinton visitou o local em 1997 e perguntou a Vranich como era a estrutura. “Eu lhe disse que não sabia”, afirmou Vranich ao Gizmodo. “Acho que devo escrever um bilhete para ela, dizendo que, 21 anos depois, tenho uma resposta para a pergunta dela.” []