Ciência

Produção de carne no Brasil é feita sob área de desmatamento ilegal, diz ONG internacional

Levantamento da Global Witness apontou que fazendas que abastecem grandes frigoríficos utilizam áreas de desmatamento do Cerrado brasileiro
Imagem: Kristyn Lapp/ Unsplash/ Reprodução

O Brasil está entre os maiores produtores de carne no mundo. Agora, uma análise da Global Witness sugere que a produção de carne bovina de três dos maiores frigoríficos presentes no país – JBS, Minerva e Marfrig – está associada ao desmatamento do Cerrado.

De acordo com documentos analisados pela ONG internacional de direitos humanos e ambientais, quase metade das fazendas que abastecem as três empresas haviam desmatado vegetação original para criação de pastagens. 

Segundo a , a Global Witness analisou documentos que datam de 2008 até 2019. Eles detalham o rastreamento de cada animal abatido pelos frigoríficos. Então, compararam as informações com dados de satélite para ver se houve desmatamento nas fazendas de origem ao longo dos 11 anos anteriores.

Apenas no estado do Mato Grosso, uma área maior que a cidade de Brasília (aproximadamente 600 quilômetros quadrados) foi derrubada dentro das fazendas que abastecem as três empresas de carne

Ainda de acordo com a Global Witness, as licenças que permitem o desmatamento por estes empreendimentos cobriam apenas 1% da terra desmatada. Dessa forma, o levantamento sugere que a degradação foi ilegal.

O que dizem as empresas

Em resposta à BBC, as empresas alegam agir de acordo com a lei local. Ainda de acordo com o veículo, a JBS afirmou já ter removido 14% das fazendas de sua base por não conformidade com a regulamentação.

Enquanto isso, a Minerva disse que não há desmatamento ilegal em suas cadeias de suprimentos e a Marfrig alegou que “não adquire animais de áreas desmatadas”.

Emergência no Cerrado

O Cerrado está presente em 11 estados brasileiros, além do Distrito Federal e de extensões que se misturam a outros biomas. No total, ele compõe quase um quinto da cobertura vegetal do Brasil.

No bioma, vivem cerca de 5% de todas as espécies do mundo, entre animais e vegetais. Contudo, seu tamanho e características de vegetação fazem com que seja um dos principais alvos do desmatamento no país.

De acordo com dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), enquanto a taxa de desmatamento na Amazônia caiu pela metade em 2023, a degradação do Cerrado aumentou em 43%.

Especialistas alegam que uma das principais dificuldades de preservação do Cerrado é a regulamentação. Hoje, ela é baseada em medidas estaduais, em vez de ser unificada por leis nacionais. 

No entanto, os números acendem o alerta de que o bioma está sob forte ameaça. Além disso, pesquisadores apontam para o fato de que seu desmatamento também libera milhares de toneladas de carbono, o que ainda contribui para o aquecimento global.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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