Por que sempre queremos apertar o botão vermelho
“Não importa o que aconteça, não aperte esse botão.” Esse clichê habita a cultura pop há décadas — e o mundo real também. Mas qual é a origem do Botão Vermelho? E por que nossa curiosidade doentia sempre nos impele a apertá-lo?
O botão da Guerra Fria
Durante a Guerra Fria, o botão vermelho era uma metáfora: caso apertado, os mísseis começariam a cruzar o planeta. É claro que isso nunca existiu. Na realidade, botões vermelhos para interromper uma situação perigosa, não para dar início a uma. É difícil definir a origem exata dessa ideia, mas os botões vermelhos surgiram junto a tecnologias consideradas perigosas o suficiente para ter uma função de EMERGÊNCIA que pudesse ser ativada de forma rápida e simples.
Esses botões são também conhecidos como “kill switches” – mecanismos de segurança que desligam um equipamento à força durante uma emergência. Em alguns casos, o botão é o último recurso, a única forma de sair de uma crise potencialmente catastrófica.
Um console de operação de um IBM System/360 Model 64 com um Botão Vermelho na parte superior, à direita. Crédito: Wikipedia
Um “botão scram” na Usina Nuclear Crystal River, localizada na Flórida. Crédito: AP
“Não toca nisso, seu idiota!”
O clichê do botão vermelho está lado a lado da casca de banana escorregadia e da bigorna que cai do céu. Muitas vezes um personagem aconselha outro a nunca, sob nenhuma circunstância, apertar o botão. Mas o que acontece logo em seguida? O personagem desobediente e curioso o aperta mesmo assim, é claro, e na maioria das vezes algo explode.
O botão vermelho é um aparato narrativo presente em todos os gêneros, testando nossos impulsos e causando eventos comicamente catastróficos há décadas. O site TVTropes.com divide os botões entre diferentes clichês como ““, ““, e “”.Os botões são figura recorrente nos filmes do James Bond, onde eles ejetam assentos de carros ou explodem reatores nucleares. Uma das piadas recorrentes de O Laboratório de Dexter envolve Dee Dee, a irmão mais velha e hiperativa do personagem principal, apertando um botão vermelho apesar dos avisos de seu irmão, o que sempre traz consequências desastrosas.
Em Homens de Preto, há um “botãozinho vermelho” no carro dos agentes, e que K aconselha J a apertar apenas em caso de emergência. Quando ele é finalmente pressionado, o carro se transforma em um veículo supersônico que sobe em paredes e é movido por propulsores. Em S.O.S. – Tem um louco solto no espaço, Dark Helmet é jogado em cima de um Botão Vermelho, o que dá início ao processo de autodestruição da nave.
É difícil definir a origem desse aparato narrativo, mas um exemplo particularmente antigo é um conto publicado na Playboy em 1970, intitulado “” e escrito pelo lendário escritor de ficção científica Richard Matheson (autor de Eu Sou a Lenda e O Incrível Homem que Encolheu). No conto, um casal recebe uma caixa com um botão. Toda vez que ele é apertado, o casal recebe US$ 50.000. No entanto, toda vez que isso acontece, algum desconhecido morre. (Isaac Asimov também escreveu um conto chamado “Button, Button” em 1953, mas as histórias são completamente diferentes.) O conto inspirou um episódio de Além da Imaginação lançado nos anos 80, assim como o filme , um suspense bobo lançado em 2009.
A questão é: será que eles devem apertar o botão? Se sim, quantas vezes? O conto é uma das primeiras obras a usar a imagem do botão como metáfora do lado sombrio dos personagens, ou, pelo menos, de uma curiosidade que acaba se revelando violenta.
GIF via : “Para que serve este botão?”
A psicologia por trás do ato de apertar um botão
Quando há um botão vermelho na nossa frente, ficamos tentados a apertá-lo — especialmente se formos aconselhados a não fazer isso. “Nós apertamos todo e qualquer botão na esperança de que ele liberará uma descarga de dopamina em nosso organismo”, diz Larry Rosen, psicólogo e professor da Universidade do Estado da Califórnia que já escreveu vários sobre psicologia e tecnologia. “Ou pelo menos, que ele reduzirá o cortisol que nos deixa ansiosos — e essa expectativa se mantêm até que finalmente apertamos o botão e descobrimos o que ele faz”. Em geral, quanto mais somos aconselhados a não fazer algo, maior é nossa vontade de fazer exatamente o que não devíamos. Na cultura pop, essa ideia vai além do Botão Vermelho, passando por clichês como ““, “” e ““. Na psicologia, isso pode ser explicado pela teoria da reatância, que afirma que quando nossa liberdade de escolha é ameaçada, somos tomados pelo desejo de protegê-la, o que nos dá ainda mais vontade de fazer a tal coisa proibida. A teoria foi aplicada em estudos sobre a idade relativamente alta em que beber álcool é permitido nos EUA (21 anos), algo o consumo ilegal de bebidas entre universitários.Na maioria das vezes, os botões indicam poder. Ao apertá-lo, algo sempre acontece. No mundo real, esse “algo” raramente é negativo. Muitas vezes, o botão chama algo ou alguém. É o caso do botão de serviço de um avião, ou de uma campainha. Nós sentimos o impulso de apertá-los porque achamos que eles podem nos ajudar a conseguir algo. E quando somos aconselhados a não apertar um botão, não é de se espantar que muitas pessoas não consigam controlar seus impulsos. Isso faz parte da natureza humana.
Em abril, o Reddit chamado ““. A brincadeira envolvia um timer que contava de 60 a zero. No entanto, se alguma pessoa no lado oposto da internet apertasse o botão, o cronômetro voltava ao início. A brincadeira era um estudo de caso sobre , já que os usuários tinham que deixar a contagem regressiva terminar para ganhar o jogo. Mas alguém sempre apertava o botão, o que estragava tudo. Em junho, a contagem regressiva , depois de meses e milhões de cliques. A ideia do botão vermelho já foi utilizada de formas mais lúdicas: existem vários “” que tentam te convencer a (ou não apertar) o botão vermelho. Um deles é um que já foi avaliado mais de 5.500 vezes.Mas no cenário atual, os grandes botões vermelhos, as alavancas mortais e as máquinas apocalípticas foram substituídas por um tipo diferente — agora os botões que controlam o mundo são digitais. E, pelo menos no Facebook, esse botão ainda é vermelho: é a notificação que informa que alguém falou com você, ou que alguém curtiu sua foto, ou que alguém te ofereceu alguma forma de afirmação social que você tem que checar logo, é rapidinho!
“Nós reagimos visceralmente ao ‘botão’ que mostra que recebemos uma mensagem ou notificação; é uma reação pavloviana”, diz Larry Rosen. Quer seja um botão físico ou digital, se ele estiver na nossa frente, nós sentiremos o impulso de apertá-lo — porque ao fazer isso, sentimos algum tipo de satisfação. Ou pelo menos é o que a gente pensa.Ilustração de Jim Cooke