Por que nos lembramos de alguns sonhos, mas não de outros

Se você já acordou à beira de um ataque cardíaco, encharcado de suor e convencido de que nunca vai sobreviver à vergonha de correr pelado pelo centro da cidade, você sabe que alguns sonhos são mais memoráveis ​​do que outros. A maioria dos sonhos, na verdade, parece totalmente imemorável, pelo menos no sentido de que […]
Ilustração por Elena Scotti/Gizmodo baseada em imagem Shutterstock
Se você já acordou à beira de um ataque cardíaco, encharcado de suor e convencido de que nunca vai sobreviver à vergonha de correr pelado pelo centro da cidade, você sabe que alguns sonhos são mais memoráveis ​​do que outros. A maioria dos sonhos, na verdade, parece totalmente imemorável, pelo menos no sentido de que não conseguimos recordá-los. E, no entanto, de vez em quando, um sonho vai ficar com você durante o café da manhã, o dia, o mês, o ano — e se tornará uma lembrança como qualquer outra.

Por que alguns sonhos nos acompanham enquanto o resto desaparece? Para o Giz Pergunta desta semana, entramos em contato com vários neurocientistas, psicólogos e pesquisadores do sono para descobrir quando e por que estamos mais propensos a lembrar de um determinado sonho.

Uma memória perfeita seria um fardo ou um superpoder?

Como constatamos, temos uma boa noção do que causa a lembrança dos sonhos, assim como de como melhorá-la — por isso, se você achar que está lembrando pouco dos seus sonhos ultimamente, leia algumas boas técnicas de retenção.

Katja Valli

Pós-doutoranda na Universidade de Turku, na Finlândia, e professora sênior de neurociência cognitiva na Universidade de Skövde, na Suécia, cuja pesquisa se concentra em estados alterados de consciência e sobre sonhos e sono.

Normalmente, lembramos apenas dos sonhos que tivemos antes de acordarmos pela manhã (ou no meio da noite). Isso pode ocorrer porque, durante o sono, nossos cérebros não parecem capazes de transferir memórias de curto prazo para a memória de longo prazo, e, assim, os sonhos que tivemos no início da noite se dissipam sem deixar vestígios. Mas estudos de laboratório mostram que sonhamos em todos os estágios do sono durante a noite, mas precisamos ser acordados para poder nos lembrar dos sonhos. O conteúdo dos nossos sonhos também afeta o que nos lembramos. Sonhos muito emocionais, especialmente negativos, são mais bem lembrados que os sonhos “mundanos”. Esse viés de memória também existe para memórias acordadas e não é exclusivo dos sonhos. Os pesadelos costumam ser muito bem lembrados, porque são altamente negativos emocionalmente e nos acordam por serem tão assustadores.

Algumas pessoas naturalmente têm uma boa memória de sonhos e se lembram de seus sonhos quase todas as manhãs; outros mal se lembram deles. Isso decorre, em parte, do seu interesse pelos sonhos: os mais interessados ​​em seus sonhos também se lembram com mais detalhes. A memória dos sonhos pode ser treinada prestando atenção aos seus sonhos: comece a manter um diário de sonhos, e você ficará surpreso com quanto mais sonhos e detalhes deles você consegue lembrar depois de algumas semanas.

“Os mais interessados ​​em seus sonhos também se lembram melhor deles”.

Shelby Harris

Professora Clínica Associada da Faculdade de Medicina Albert Einstein e psicóloga clínica licenciada especializada em medicina do sono comportamental.

Eu gosto de pensar no sonho como uma forma de descobrir como processar todas as informações do dia. O cérebro é como um armário de arquivos e, todas as noites — especialmente durante o sono REM (movimento rápido dos olhos) —, ele está tentando criar pastas para guardar memórias, aprender novas habilidades e também descobrir quais documentos devem ser destruídos. Sonhar é uma versão confusa de nossas vidas diárias, refletindo o que está acontecendo enquanto o cérebro tenta codificar as informações e, em seguida, armazená-las no arquivo. A maioria das pessoas tem dificuldade de lembrar de todos os seus sonhos. Nos primeiros cinco minutos ao acordar, a maioria das pessoas esquece cerca de 50% deles, e os 50% restantes são gradualmente esquecidos nas próximas horas quando começamos o dia. Às vezes, nos lembramos de sonhos simplesmente porque acordamos no meio deles, se o sonho era particularmente angustiante ou perturbador, ou se você está mais ansioso ou estressado.

Deirdre Barrett

Professora Assistente de Psicologia da Harvard Medical School e autora de The Committee of Sleep e The New Science of Dreaming, entre outros livros.

Se não acordarmos imediatamente de um sonho, ele nunca sairá da nossa memória de curto prazo para ser armazenado na de longo prazo. O neurotransmissor mais importante dessa transferência — a noradrenalina — está em um nível muito baixo durante o sonho, assim como a atividade elétrica nas áreas mais importantes para a memória de longo prazo. Se acordarmos diretamente de um sonho, teremos alguma chance de lembrar dele. Mesmo assim, os sonhos são mais difíceis de lembrar do que a experiência acordada. Isso ocorre em parte por causa de seus eventos ilógicos, descontínuos e às vezes vagos: um estudo descobriu que sonhos menos coerentes eram mais difíceis para um ouvinte lembrar do que aqueles com fortes emoções e enredos organizados. A outra questão é que, à medida que o cérebro desperta, está começando a ativar as áreas necessárias para o armazenamento a longo prazo. Existem diferenças individuais que explicam a memória dos sonhos. Dormir bastante é o maior determinante, e as pessoas mais psicologicamente ativas ou interessadas especificamente em sonhos se lembram mais deles. Analisando as diferenças fisiológicas, um estudo de 2014 descobriu que as pessoas com maior fluxo sanguíneo para o córtex pré-frontal medial se lembravam de mais sonhos. Existem técnicas que podem aumentar o número de sonhos que você lembra. Como mencionado, dormir bastante é o mais importante. Então, assim que você estiver pegando no sono, é bom pensar que você quer se lembrar dos seus sonhos. Deixe que seja o último pensamento enquanto você está apagando. Mantenha um bloco e caneta ao lado da cama ou um telefone com um aplicativo de gravação de sonho. Quando você acordar não pule para fora da cama nem volte sua atenção para qualquer outra coisa. Mesmo que você não ache que se lembra de um sonho, leve apenas um minuto para ver se existe algum sentimento ou imagem com o qual você tenha acordado — às vezes, um sonho inteiro voltará nesse ponto. Ler e falar sobre sonhos tende a aumentar a lembrança deles. Até mesmo ler essa matéria está aumentando as chances de você se lembrar de um sonho hoje à noite.

“Um estudo descobriu que sonhos menos coerentes eram mais difíceis de lembrar do que aqueles com fortes emoções e enredos organizados.”

Susana Martinez-Conde

Professora de Oftalmologia, Neurologia e Fisiologia e Farmacologia do Centro Médico Downstate da Universidade Estadual de Nova York (SUNY) e autora de , indicada para o Prêmio AAAS/Subaru de Excelência em Ciências de 2019.

Uma parte importante da lembrança dos sonhos é o fato de você acordar no momento em que está tendo um sonho. Todo mundo sonha todas as noites — mas as pessoas que tendem a lembrar de seus sonhos com mais frequência podem estar acordando durante a fase REM (movimento rápido dos olhos) do sono, que é onde ocorrem os sonhos com conteúdo narrativo. Se você tem sonhos no meio da noite, mas depois passa a ter outras fases de sono sem acordar, então esses sonhos serão inacessíveis para você. Outro elemento é o impacto emocional do sonho. Com certeza, muitas vezes acordamos e nos lembramos de um sonho que acabamos de ter. Mas os sonhos, mesmo quando nos lembramos deles, tendem a desaparecer rapidamente; não podemos nos apegar à maioria dos detalhes na maior parte do tempo. Se você pensar nos sonhos que teve ao longo de sua vida, provavelmente só consegue descrever meia dúzia. O que lhe resta são os mais vívidos, aqueles que foram especialmente agradáveis ​​ou especialmente assustadores — que tiveram algum impacto emocional em você. E isso tende a ser verdade para nossas memórias em geral — não é provável que nos lembremos do que comemos no café da manhã dez anos atrás, mas é provável que nos lembremos de quase sermos atropelados por um carro.

Stanley Krippner

Professor de Psicologia Humanística e Clínica da Universidade Saybrook.
A maioria dos sonhos é lembrada ao acordar pela manhã. Há duas razões para isso. Uma é o quão recente o sonho é; a outra é que os sonhos que surgem mais tarde nos sonhos noturnos são geralmente mais dramáticos e emocionais, portanto, mais fáceis de lembrar. Claro, os sonhos podem ser lembrados a qualquer momento. A maioria dos sonhos ocorre durante o sono REM, mas algum tipo de atividade mental acontece durante toda a noite. Quando ele é particularmente dramático e emocional, especialmente no caso de pesadelos, uma pessoa pode acordar de repente e lembrar do sonho. No entanto, muitas vezes, as crianças experimentam um fenômeno de desenvolvimento chamado de “terror noturno”. Isso não ocorre durante o sono de Movimento Rápido dos Olhos (REM, na sigla em inglês) e quase nunca contém conteúdo de um sonho. Os pais, é claro, não sabem a diferença entre terrores noturnos e pesadelos, que as crianças quase sempre lembram. Quando as pessoas são motivadas a lembrar seus sonhos e mantêm um diário de sonhos ou arquivo de computador com seus sonhos, a lembrança deles tende a ser mais frequente, mesmo antes do período dos sonhos da manhã.

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