No último ano, de pessoas tentaram atravessar a fronteira entre México e Estados Unidos. Os motivos que levam uma pessoa a migrar vão desde crises humanitárias até conflitos políticos em seus países de origem.
A caminhada está longe de ser agradável. Na verdade, diversos imigrantes morrem no processo, devido a más condições de transporte, alimentação e segurança. E as mudanças climáticas parecem tornar as condições da viagem ainda mais severas.
Em um publicado na revista Science, pesquisadores mostraram que as áreas em que mais ocorrem mortes de imigrantes são também as regiões mais propensas a gerar estresse fisiológico (perda de água por evaporação). Nelas, há maiores chances dos viajantes sofrerem desidratação e condições associadas, como desorientação e falência de órgãos.
O estudo foi feito em parceria por quatro instituições americanas: Universidade de Idaho, Universidade de Princeton, Universidade da Califórnia e Universidade de Wisconsin. Os cientistas consideraram o caminho mais comum utilizado pelos imigrantes, entre Nogales, no México, e Three Points, no Arizona.
De acordo com os pesquisadores, não importa quanta água um imigrante comum possa carregar, ela para prevenir a desidratação severa. Projeções feitas pelos cientistas sugerem que os custos fisiológicos (ou esforço físico) da migração devem aumentar em até 34% nos próximos 30 anos.
Em setembro de 2021, uma brasileira morreu durante a travessia. A técnica de enfermagem Lenilda da Silva tentava chegar aos EUA ao lado de três amigos e um coiote –pessoa contratada para conduzir imigrantes ilegais –, mas acabou ficando para trás no caminho.
Ela esperava que o coiote voltasse para resgatá-la, mas isso não aconteceu. A última mensagem de voz enviada por Lenilda à sua família : “Eu esperei até 11 horas, ninguém veio. Eu peguei e saí do lugar. Eu estou escondida. Manda trazer uma água para mim que eu não estou aguentando de sede”.
Uma política usada pela Patrulha da Fronteira também parece estar contribuindo para a morte de imigrantes. A tática conhecida como “prevenção por meio da dissuasão” fecha passagens urbanas e empurra os viajantes para os perigos do deserto.
Jason De León, pesquisador da Universidade da Califórnia e coautor do estudo, : “A prevenção por meio da dissuasão transformou o ambiente natural em armas contra os migrantes e matou milhares de pessoas no processo. Esta nova pesquisa quantifica os efeitos que esta política tem no corpo humano e ajuda a mostrar que a política conscientemente coloca as pessoas em perigo em nome da segurança das fronteiras.”