Os humanos podem ter grandes e bulbosos cérebros, mas quando se trata de força muscular pura, somos frequentemente considerados os mais fracos dentre os grandes macacos. Mesmo os chimpanzés, que são significativamente menores do que nós, exibem níveis de força que são praticamente super-humanos para os nossos padrões. Agora, uma nova pesquisa mostra com que grau nossos primos primatas são mais fortes do que nós — e por que seus corpos minúsculos carregam um soco tão impressionante.
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Peso a peso, chimpanzés são 1,5 vezes mais fortes que os humanos em tarefas de puxar e pular, de acordo com uma publicada nesta segunda-feira (26) na Proceedings of the National Academy of Sciences. Essa força não é o resultado da forma física do chimpanzé, sua amplitude de movimento ou alguma recém-descoberta dedicação a exercícios de musculação, mas, sim, produto de como as fibras musculares dos chimpanzés são distribuídas. Pelo fato de os chimpanzés serem nossos parentes primatas mais próximos existentes, essas descobertas oferecem novas compreensões sobre a evolução humana e sobre por que somos tão fracotes.
Os cientistas já sabem da força dos chimpanzés há algum tempo, documentando feitos de “superforça” tanto em chimpanzés selvagens quanto aprisionados. Pesquisadores têm usado experimentos de puxar e pular para comparar a força muscular entre chimpanzés e humanos desde a década de 1920, mas sempre tiveram dificuldades de entender as razões fisiológicas e mecânicas por trás das diferenças observadas.
Quanto a por que eles são tão fortes, essa é uma questão mais fácil de responder. Sua força extra faz sentido em uma perspectiva evolucionária. Chimpanzés são adaptados à vida em floresta, escalando árvores e vivendo entre galhos. Humanos, por outro lado, abandonaram a floresta há muito tempo — uma mudança de ambiente que exigiu um conjunto diferente de adaptações físicas e cognitivas. Ao longo do tempo, passamos a contar menos com nossa força muscular para a sobrevivência, enquanto os chimpanzés mantiveram sua força de escalar árvores e balançar em galhos.
Imagem: Thomas Lerch
Em 2014, pesquisadores que o músculo do chimpanzé apresenta propriedades únicas que afetam suas capacidades de produção de força. O novo estudo do PNAS, conduzido por Matthew O’Neill, da Universidade do Arizona, pega carona dessa pesquisa anterior, observando mais de perto a biologia e a mecânica de fato do tecido muscular de chimpanzés, comparando força muscular em humanos e chimpanzés.
“Nosso trabalho é o primeiro estudo detalhado de biologia e mecânica do tecido muscular de chimpanzés”, O’Neill contou ao Gizmodo. “Nossos resultados mostram que a principal diferença entre o músculo de chimpanzés e humanos está na distribuição das fibras, com chimpanzés tendo uma fração muito maior de fibras rápidas do que os humanos, na média”, acrescentando que “todas as nossas medições de músculo de chimpanzés são novas”. Para o estudo, as fibras musculares foram tiradas de três jovens chimpanzés macho.
Além de revisar a pesquisa feita nessa área entre 1944 e 2014, os pesquisadores usaram modelagem computacional e uma simulação para determinar o efeito da distribuição de fibras nos músculos variados de chimpanzés. “A simulação-modelagem nos permitiu configurar experimentos computacionais que imitaram como um músculo na perna ou no braço se comportaria durante um pulo ou puxão com força máxima”, disse O’Neill.
A análise de estudos experimentais anteriores mostrou que os chimpanzés, em média, superam os humanos em um fator de aproximadamente 1,5 vezes nas tarefas de puxar e pular. Os modelos de computador, que combinaram os dados experimentais com as simulações, mostraram que a força máxima e a potência dos músculos dos chimpanzés é 1,35 vezes maior do que os músculos humanos de tamanho parecido. Isso acontece principalmente por causa do maior teor de fibra de contração rápida do chimpanzé, o que permite alta força e potência, mas menor resistência. O músculo dos chimpanzés é composto de aproximadamente 67% de fibras de contração rápida, comparado com 40% nos humanos.
É importante dizer que essas medições de força são baseadas no que cientistas chamam de “desempenho muscular específico de massa”.
“A questão do ‘específico de massa’ é um [ponto] importante sobre o qual se ter clareza”, disse O’Neill. “Isso porque maioria das pessoas pensa na força em termos absolutos. Se você voltar e olhar para todos os dados naqueles estudos iniciais, em muito casos os humanos puxam uma quantidade parecida de massa ou pulam com força similar aos chimpanzés em termos absolutos. Mas os humanos tendem a ser maiores que os chimpanzés nesses estudos, então levamos essa diferença em conta ao dividir força ou potência por massa corporal. Isso nos dá uma medida de força ou potência relativa ou, mais especificamente, ‘específica de massa’.”
Em outras palavras, os chimpanzés conseguem puxar mais coisas e pular com muito mais força do que os humanos, uma vez que nossas diferenças em tamanho são levadas em conta (um chimpanzé adulto médio pesa cerca de 45 quilos).
Em termos de aplicações de força no mundo real — uma questão que conversa com as razões evolucionárias para essas diferenças —, chimpanzés são inquestionavelmente mais proficientes em escalar e navegar pelas árvores, o que O’Neill diz que exige “força muscular e potência significativas”. Os humanos, por outro lado, usam muito menos energia durante as caminhadas e podem correr mais rápido do que muitos animais, incluindo chimpanzés (bom saber). “Mas se estamos comparando semelhantes, os humanos de fato superam os chimpanzés em qualquer atividade envolvendo caminhada ou corrida sobre duas pernas.”
Essas diferenças físicas surgiram ao longo dos últimos sete ou oito milhões de anos, conforme os humanos migraram para longe das florestas, em direção à vida bípede na terra. As perdas resultantes em força máxima e potência foram compensadas por ganhos em resistência e a capacidade de desempenhar movimentos de baixa energia repetitivos (como transformar pedras em ferramentas). Além disso, conforme os homens transicionaram para o modo de existência de caçador e acumulador, pressões de seleção por habilidade cognitivas surgiram, resultando em cérebros maiores e uma dependência menor em força física.
Ainda assim, considerando o estado do mundo agora, parece que saímos na desvantagem aqui.
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Ilustração do topo: Sam Woolley