Ciência

Por que a Cidade do México está afundando?

Em meio a uma crise hídrica, a capital mexicana, construída sobre um aquífero, está drenando água subterrânea e afundando em ritmo acelerado
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Enfrentando um longo período de seca, com problemas de infraestrutura e uma distribuição desigual entre a população, a capital mexicana vive uma crise hídrica histórica. E, junto a isso, a Cidade do México, que foi construída sobre um aquífero, também está afundando.

O sistema de água de Cutzamala, que fornece entre 20% e 25% da água utilizada pelos habitantes da cidade, está funcionando com reservatórios que têm apenas 38% de sua capacidade preenchida.

Por isso, a Conagua (Comissão Nacional de Águas) do país, tem restringido a distribuição de água deste sistema desde outubro de 2023. Dessa forma, parte da população da Cidade do México não tem acesso a abastecimento diário de água nas suas casas.

De acordo com o Pulitzer Center, essa parcela consistia em 30% da população urbana total da capital em julho do ano passado, quando o México passava pelo verão e enfrentava chuvas que inundavam a cidade.

Frente a esse cenário, os moradores contratam caminhões pipa de água não potável, mas limpa, para poder fazer os afazeres domésticos, como dar descarga, por exemplo. Além disso, também tem que gastar com a compra de água potável para beber.

Assim, a água é um recurso tão precioso e escasso que há relatos de guardas que acompanham os tanques de abastecimento.

Até agora, autoridades locais minimizam a crise e culpam o período de seca enfrentado do final de 2023 até agora pela escassez de água. Até o próximo verão no hemisfério Norte, estação de chuvas no país, ainda faltam muita semanas.

Por isso, a mídia mexicana especula se a cidade enfrentará o “Dia Zero”, quando a água deixaria de fluir do Cutzamala. A previsão é que a data seja o próximo dia 26 de junho.

A cidade que afunda

A localização da Cidade do México sugere que, na verdade, a capital devia ter água em abundância. Em geral, a cidade ocupa um vale de grande altitude, a 2.200 metros acima do nível do mar, no meio do país.

Entre as montanhas, desciam rios que alimentavam cinco lagos rasos da região. Por ali, próximo ao maior lago, os astecas construíram sua capital, Tenochtitlan, em 1325.

Na época, eles construíram um sistema de diques e aquedutos que possibilitava o aproveitamento dessa água para a sobrevivência, irrigando campos de cultivo de alimentos. Contudo, com a colonização espanhola do século 16, a engenharia asteca foi esquecida.

Para evitar as inundações que acometiam a cidade construída em cima de Tenochtitlan, os espanhois implementaram um projeto de drenagem que durou séculos. Dessa forma, a Cidade do México cresceu.

Atualmente, 47 dos 48 rios do local estão fechados por canos de esgoto. No total, 60% da água da Cidade do México provém do seu aquífero subterrâneo. Contudo, os lençois freáticos estão secando, o que exige perfurações mais profundas para captação de água. 

A extração tem sido tão intensa que está fazendo a cidade afundar em um ritmo acelerado, a cerca de 50 centímetros por ano, segundo . Com isso, a capital mexicana afunda à medida que bebe antigas reservas de água subterrânea.

Motivos de falta de água

Além do crescimento urbano acelerado e da geografia mal aproveitada, a crise hídrica na Cidade do México também tem outros dois agravantes. O primeiro consiste nos problemas de infraestrutura do sistemas de abastecimento.

Em geral, a cidade perde 40% da água enviada para as casas por problemas de vazamentos na tubulação. Além disso, não há uma iniciativa de captura da água da chuva, o que aliviaria o sistema.

O segundo agravante da crise é a seca que afeta 60% do México e 90% de sua capital. A cidade já sofria para reabastecer os reservatórios depois de três anos de La Niña e a chegada do El Niño.

Com a influência das mudanças climáticas, que aumentam a frequência de ondas de calor, não só a Cidade do México enfrenta a seca como também perde a água disponível nos reservatórios pela evaporação, devido às altas temperaturas.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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