As pesquisadores sintetizaram o conhecimento científico disponível sobre acesso e práticas de higiene menstrual na América Latina e Caribe, a partir de revisão sistemática da literatura nas bases de dados de artigos científicos como Pubmed e Web of Science. Elas encontraram 15 estudos sobre o tema, publicados entre janeiro de 2011 a julho de 2022. A maioria dos trabalhos são de instituições brasileiras e são focados em adolescentes.
A produção científica analisada revela um cenário de pobreza menstrual com semelhanças em populações de diferentes países da América Latina. Em comum, há a falta de diálogo e a dificuldade de acesso a informações sobre menstruação, como práticas adequadas para absorver ou coletar o sangue menstrual.
O contexto acaba perpetuando vivências negativas de mulheres sobre menstruação — e ele não se restringe ao continente Latino-Americano. Estima-se que mais de 500 milhões de pessoas que menstruam não têm acesso a higiene adequada no mundo todo.
“A escassez de estudos sobre o tema na América Latina traz, também, uma dificuldade ao acesso à informação e à criação de condições dignas para a higiene menstrual, como acesso a água, sabonetes e absorventes”, comenta Mariana Santos Felisbino-Mendes, co-autora do estudo e professora da Escola de Enfermagem da UFMG.
A pesquisadora destaca a urgência por soluções que permitam que as pessoas vivenciem o período menstrual com dignidade. A distribuição gratuita de absorventes garantida pela Lei Federal 14.214 de 2021 e colocada em prática por decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em março de 2023, por meio do Programa de Proteção e Promoção da Dignidade Menstrual, é uma das iniciativas que vai nesta linha.
O trabalho também enfatiza que o acesso à educação em saúde menstrual da população jovem também poderia contribuir para desconstruir o tabu sobre o assunto e ajudar mulheres a identificarem problemas como cólica menstrual e a endometriose.
Futuras pesquisas que investiguem práticas de higiene menstrual em grupos populacionais mais vulneráveis e avaliem as consequências da pobreza menstrual para a sociedade como um todo também são muito necessárias, segundo Felisbino-Mendes. “É importante que as pesquisas avancem para identificar intervenções e experiências positivas para promoção da saúde menstrual, a fim de que possamos melhorar a qualidade de vida das pessoas que menstruam”, conclui.
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