Entre 2017 e 2019, os pesquisadores avaliaram, em uma área total de 82 mil metros quadrados, características de áreas habitadas por seis peixes-bois-marinhos nos estados da Paraíba, Sergipe e na Bahia. Os animais foram soltos nos estados da Paraíba e Alagoas, com espécimes se deslocando e utilizando os estados de Sergipe e Bahia. A iniciativa faz parte da estratégia de conservação do animal, na tentativa de restabelecer a espécie em parte de sua distribuição geográfica original, da qual foi extirpada, bem como aumentar o tamanho das populações remanescentes. O estudo possibilita definir áreas prioritárias para a espécie, incluindo as preferidas para soltura de animais reabilitados após encalhe.
Áreas abrigadas, rasas e calmas foram as preferidas pelos animais, sendo locais com maior disponibilidade de alimentos e proteção, valiosa no cuidado das fêmeas com seus filhotes. A presença de resíduos sólidos foi observada em 44% das áreas utilizadas pelos mamíferos, preocupando os pesquisadores. “A presença de resíduos em áreas usadas pelos animais é sempre muito preocupante porque, dependendo do tipo de resíduo, tamanho e textura, os animais podem ingerir estes materiais, principalmente os plásticos”, aponta o coautor do estudo, João Carlos Gomes Borges.
O plástico foi o predominante entre os resíduos encontrados no estudo e representa risco à vida dos animais, pois ao aderir às algas marinhas, pode ser acidentalmente ingerido e levar a óbito — o que já foi observado em estudos anteriores. O uso de praias em municípios em que não há tratamento dos esgotos impacta a quantidade de resíduos, contaminando estuários e áreas costeiras. O problema também afeta outros animais aquáticos, como tartarugas e aves marinhas.
Entre as medidas para impedir contaminações, Borges ressalta a importância de resguardar a manutenção das matas ciliares e manguezais. “Nós observamos que, em alguns casos, a perda de habitats tem ocasionado áreas de assoreamento e facilitado o despejo de resíduos das atividades agropecuárias diretamente nos mananciais, chegando nas áreas utilizadas pelos peixes-bois”, diz o pesquisador.
Uma alternativa para equacionar o problema é vincular os dados ao zoneamento de tais áreas, com a proposição de unidades de conservação com maior restrição de uso para atividades humanas. A medida poderia impedir o número crescente de embarcações motorizadas nestas áreas, decorrentes das atividades de pesca ou de recreação náutica, que traz riscos bastante críticos aos peixes-bois, a exemplo do atropelamento por lanchas ou jet-skis.
Para Borges, é fundamental que todos possam se conectar com a natureza de maneira segura. É preciso respeitar o hábitat das espécies, reforçando que as regras são fundamentais para que as espécies estejam conservadas. “Recomendamos o estabelecimento de critérios e regramentos para a navegação náutica, principalmente nessas áreas utilizadas por peixes-bois, para minimizar os riscos de colisão envolvendo essas embarcações”, conclui o pesquisador.
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