Uma pequena biblioteca de respeito sobre as Copas

O conhecimento sobre o passado das Copas, com seus grandes torneios, jogos e grandes seleções, merece ser explorado nos livros sobre o assunto. Aqui temos uma lista bem básica – e longe de ser definitiva – de boas obras de referência
Para saber mais sobre as Copas do Mundo, há livros sobre todos os torneios ou algum específico, sobre a história do futebol, sobre seleções que marcaram época. No Brasil, em português, há boas obras.

Mas um conselho para quem quer mesmo se aprofundar: deixe afiado pelo menos seu inglês – espanhol também vale. Existem volumes brilhantes lançados lá fora que o mercado de livros brasileiro provavelmente nunca vai publicar aqui.

Vamos a uma lista breve que está longe de ser definitiva, mas abrange muita história.

1- “México 70”

Lançado em maio último no Brasil pela editora Grande Área, o livro do jornalista escocês Andrew Downie, que trabalha aqui como correspondente há tempos e é autor de uma ótima biografia do Doutor Sócrates. Oferece um brilhante retrato da mais séria candidata a melhor de todas as Copas. O nome original é “The Greatest Show on Earth”.

A vantagem de Downie em relação ao que brasileiros já escreveram sobre o Mundial de 1970 no México é a abrangência. Ele fala um pouco de todas as 16 seleções que participaram. A história mais divertida é a da equipe da Bulgária indo se adaptar à altitude mexicana em treinamentos nas montanhas mais altas do país. Só que ali nos montes búlgaros fazia um frio de lascar, muitos (mas muitos mesmo) graus abaixo do calor de derreter que encontraram no México.

2- “Anatomia de uma Derrota: 16 de Julho de 1950 – Brasil x Uruguai”

Em 1986, o jornalista Paulo Perdigão fez um livro impressionante sobre a obsessão de sua vida: a derrota do Brasil por 2 a 1 para o Uruguai na final da Copa de 1950, no Maracanã, com estimadas 200 mil pessoas.

Perdigão reconstitui toda a campanha do Brasil e, no capítulo da final, reproduz a transcrição comentada na narração do jogo na lendária Rádio Nacional. Felizmente, essa grande obra sempre retorna ao catálogo.

3- “Maracaná: Los laberintos del caráter”

A versão uruguaia do Maracanazo de 1950. Um espetacular livro de Franklin Morales que segue a Celeste Olímpica a partir dos anos anteriores ao Mundial. E se concentra no herói Obdulio Varela, especialmente na greve dos jogadores de 1948-49, que o capitão uruguaio liderou, se desdobrando para arranjar sustento e alimentos para os companheiros.

Não é um livro fácil de achar. Mas se um dia você topar com ele, pegue e não largue.

4- “1982: The Glorious Failure”

Um fator comum aos livros (alguns bem bons) escritos por brasileiros sobre a Copa de 1982 é a visão apaixonada e com emoções fortes e conflitantes sobre a derrota do Brasil para a Itália de Paolo Rossi. Por isso, este livro de 2020 do britânico Stuart Horsfield é o mais recomendável sobre o torneio. Equilibrado e respeitoso, ele relembra toda a trajetória da Seleção a partir da posse de Telê Santana como técnico em 1980 antes de esmiuçar a campanha nos campos da Espanha.

5- Max Gehringer

O hobby futebolístico do empresário e jornalista Max Gehringer tornou-se bem útil para o leitor brasileiro. Com olhar atento para as curiosidades das Copas, ele escreveu uma série sobre as Copas com a Taça Jules Rimet para a revista “Placar” em 2006 e, no mesmo ano, lançou “Almanaque dos Mundiais” pela Editora Globo”. No ano passado, Gehringer ampliou suas informações para uma série de seis e-books pela editora e-galáxia, “A Grande História dos Mundiais”, cobrindo todas as disputas de 1930 a 2018.

6- “The Story of the World Cup”

O inglês Brian Glanville, ainda vivo com 91 anos, é o decano dos jornalistas esportivos e respeitado como autoridade no meio. Sua obra sobre as Copas, cuja primeira edição foi publicada em 1973, virou referência. Glanville tem um estilo até careta de escrita, mas resgata informações valiosas. A cada quatro anos, a obra vinha sendo atualizada antes de mais um Mundial. Mas, neste ano, não houve nova edição.

7- “The Ball Is Round”

A obra do jornalista britânico David Goldblatt se propõe a contar a história do futebol, mas é claro que o foco em Copas do Mundo é muito forte. Goldblatt também escreveu uma ótima história das Olimpíadas e um sobre o futebol brasileiro, “Football Nation”.

8- “Brilliant Orange”

Um dos melhores livros sobre futebol já escritos. O inglês David Winner decifra o futebol revolucionário da Holanda nos anos 1970 e sua incrível capacidade de auto-sabotagem estabelecendo relações com a arquitetura e o pensamento frio e objetivo do país.

Além disso, Winner enumera os capítulos do livro de forma aleatória como eram as numerações da seleção holandesa nas Copas de 1974 e 1978, em que o goleiro Jongbloed usava a camisa 8, por exemplo.

9-  Jonathan Wilson

O britânico é atualmente o mais produtivo dos historiadores do futebol. Seu “A Pirâmide Invertida”, publicado no Brasil pela editora Grande Área, já é considerado um clássico – e fala muito de Copas. Wilson também escreveu dois bons volumes sobre seleções nacionais: “The Names Heard Long Ago”, sobre a Hungria de 1954, e “Angels with Dirty Faces”, sobre o futebol argentino.

10- “Das Reboot: How German Football Reinvented Itself and Conquered the World”

Você ainda está tentando entender por que o 7 a 1 aconteceu em 2014? Este livro do jornalista alemão Raphael Honigstein pode ajudar. Ele conta minuciosamente como a Alemanha foi ao fundo do poço nos anos após a conquista da Copa de 1990 e começou a se reerguer com planejamento e muita tecnologia bem usada na preparação da Copa em seu território em 2006.

As cenas de jogadores alemães estudando nos celulares seus rendimentos e os esquemas dos adversários na concentração em 2014 são educativas. Nada de videogame ou ensaio de dancinhas. Um livro muito rico que deixa claro como a Alemanha enfiou 7 a 1 no Brasil na semifinal no Mineirão e ganhou seu tetra sobre a Argentina no Maracanã.

11- “Spain: The Inside Story of La Roja’s Historic Treble”

Outro tratado sobre como se forma uma seleção campeã. Nesta obra de 2013, o britânico Graham Hunter reconstitui a montagem da seleção espanhola que sagrou-se campeã da Eurocopa de 2008, da Copa do Mundo de 2010 e de novo da Eurocopa em 2012.

  Todo o processo que começou com o técnico Luis Aragonés e, depois de 2008, com seu substituto Vicente Del Bosque é recontado com detalhes, das convocações e treinamentos até cada jogo dessas campanhas.  
Marcelo Orozco

Marcelo Orozco

Jornalista que adora música, cultura pop, livros e futebol. Passou por Notícias Populares, TV Globo, Conrad Editora, UOL e revista VIP. Colaborou com outros veículos impressos e da web. Publicou o livro "Kurt Cobain: Fragmentos de uma Autobiografia" (Conrad, 2002).

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