Passado de fome e doenças na Europa pode explicar tolerância à lactose
Humanos são capazes de produzir a enzima lactase em seus primeiros anos de vida. Ela é a responsável por decompor a lactose em glicose e galactose, permitindo ao organismo a digestão adequada do leite materno.
Após o desmame, essa habilidade se perde. Apenas um terço da população continua produzindo a enzima, enquanto o resto sofre com inchaços, gases, cólicas intestinais e diarreia. Surge então a dúvida: por que algumas pessoas têm tolerância à lactose e outras não?
Uma equipe formada por pesquisadores europeus sugere que, pelo menos na Europa, a culpa está atrelada a um passado de fome e doenças que atingiu o continente. O estudo completo foi publicado na revista científica .
Os cientistas analisaram resíduos de gordura animal retirados de aproximadamente 550 sítios arqueológicos, além de uma grande quantidade de dados de DNA. Assim, estimaram o consumo de leite em toda a Europa entre 9 mil e 500 anos atrás.
Então, observaram a seleção natural agindo. A primeira evidência de lactase em humanos data de 6.650 anos atrás, embora a enzima só tenha se tornado comum entre a população há 3 mil anos.
Os pesquisadores perceberam que nos períodos em que ocorriam mais mortes, que pareciam estar ligadas a disseminação de infecções e desnutrição, aumentava a persistência da lactase. A é bem simples: na falta de alimento, aqueles que conseguiam digerir o leite sobreviviam graças aos nutrientes da bebida. O grupo que não conseguia o feito, por já estar desnutrido, acabava morrendo.
Anteriormente, muitos cientistas acreditavam que a tolerância à lactose seria resultado da alta ingestão de leite por europeus. Porém, os estudos mostraram que a falta de alimentos é uma hipótese bem mais provável para explicar a persistência da enzima do que a anterior.