Ciência

Ortorexia: obsessão por comida saudável também é doença

Especialistas discutem a entrada da ortorexia na lista de transtornos alimentares; condição pode passar despercebida
Imagem: Nadine Primeau/ Unsplash/ Reprodução

Focar em comer saudável parece uma coisa boa, certo? Nem sempre! Em tempos de valorização da cultura da dieta, as pessoas podem se perder em restrições alimentares sem embasamento — científico ou recomendação médica, por exemplo. Quando comer saudável se torna uma obsessão, uma pessoa pode ter ortorexia.

Em um , pesquisadores espanhóis apontaram que cerca 3 em cada 10 participantes tinham a condição. No entanto, muitas vezes a ortorexia passa despercebida ou é subestimada. É aí que ela se torna exatamente o oposto do que pensa seu portador: em vez de uma vida com saúde, ele está prejudicando seu corpo e sua mente.

Sobre a ortorexia

Na literatura científica, a é conhecida como um comportamento obsessivo patológico caracterizado pela fixação por saúde alimentar. Em geral, isso significa uma fixação por comer de maneira saudável.

Na prática, o comer bem consiste em um conjunto de regras que dependem de cada pessoa e do contexto em que vivem. Por exemplo, algumas pessoas priorizam a origem dos alimentos – se são orgânicos, locais e não foram geneticamente modificados.

Há quem também considere alimentos saudáveis aqueles ricos em proteínas e com baixo teor de açúcar e gordura. A lógica não necessariamente segue o que diz o , por exemplo, referência de alimentação saudável no Brasil e no mundo.

Por se tratar de um comportamento obsessivo, o que de início parece ser a busca por comer bem se torna algo que na verdade faz mal ao organismo. Claro, não é ruim querer comer uma salada, mas o problema surge quando você acha que só pode comer salada.

Geralmente, pessoas com ortorexia tendem a crescer a lista de alimentos ruins, considerados não saudáveis. Dessa forma, o hábito passa a ser uma dieta restritiva, que gera o sentimento de ansiedade

Assim, além da busca incessante por uma alimentação saudável e as restrições que isso pode causar na vida de uma pessoa, a ortorexia também se apresenta em sinais como:

  • Exclusão de alimentos ou grupos de alimentos da rotina sem qualquer razão médica;
  • Tempo excessivo gasto pesquisando ingredientes e planejando o que vai comer;
  • Evitar reuniões sociais onde haja comida;
  • Culpa ou ansiedade em relação a alimentos “não saudáveis”;
  • Dificuldade em se concentrar em coisas além da comida;
  • Perda excessiva de peso, deficiências nutricionais, anemia ou desequilíbrios hormonais;
  • Depressão, ansiedade, isolamento social ou dificuldade nos relacionamentos.

Além disso, algumas pessoas também podem relacionar a imagem corporal ao quão rigorosamente seguem suas regras alimentares.

Transtorno alimentar

Por enquanto, a ortorexia não foi oficialmente reconhecida como um transtorno alimentar. No entanto, pesquisadores e profissionais da saúde discutem o conceito, suas características, interações e sintomas.

A ortorexia tem fundamentos semelhantes a outros transtornos alimentares. Há uma predisposição genética que, quando combinada a fatores ambientais, pode fazer com que um indivíduo esteja mais vulnerável ao seu desenvolvimento.

Dessa forma, a ortorexia pode se transformar em outros transtornos como bulimia ou anorexia nervosa da mesma maneira que essas condições podem levar à ortorexia. Além disso, pessoas predispostas à ansiedade, perfeccionismo ou transtorno obsessivo-compulsivo também podem ser vulneráveis à condição.

Contudo, muitas pessoas aplaudem o comportamento, pela falta de compreensão da população sobre a ortorexia. Apenas quando as restrições são muito graves e a pessoa já se afastou de seus círculos sociais a condição fica perceptível aos outros.

Em geral, pessoas com ortorexia devem se encontrar com uma equipe que inclui terapeutas e nutricionistas, semelhante aos pacientes em tratamento para outros transtornos alimentares. Mas há ainda a etapa de reformular suas ideias em torno do que é saudável, o que é um desafio.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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