Precisamos de um órgão internacional para regulamentar a engenharia genética?
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Uma versão desse cenário hipotético já está se desdobrando no Reino Unido. No ano passado, o governo britânico deu aos cientistas sinal verde para modificar geneticamente embriões humanos. Mas nos Estados Unidos e na maioria dos outros países, essa possibilidade permanece tanto ilegal e cheia de questões morais. A oposição a essa prática argumenta que existe o risco de abrir a Caixa de Pandora ao liberar os “bebês sob medida” e . Até mesmo vozes mais neutras argumentam que a tecnologia exige um exame mais aprofundado.
E mesmo assim, o Reino Unido, na vanguarda da engenharia genética dos seres humanos, já abriu essa caixa. Em 2015, o governo britânico aprovou o uso de uma tecnologia controversa de edição de gene para evitar que doenças mitocondriais devastadoras sejam passadas de mães para seus futuros filhos. E em fevereiro do ano passado, o Reino Unido concedeu a primeira licença no mundo para a edição de embriões humanos para pesquisas. Recentemente, uma manchete da Newsweek perguntava se os cientistas dessa pequena nação insular estaria . É uma ótima questão.
Grandes debates pela frente
Política
Muitos problemas que cercam as novas tecnologias de engenharia genética são políticos. Em nações africanas como Zimbábue, por exemplo, grande parte da rejeição dos transgênicos estava ligado a teorias da conspiração anti-Ocidente espalhados pelos partidos do poder local. “Não é claro para mim se é simplesmente um problema regulatório. É um problema de vontade política”, disse Jack Bobo, chefe de comunicações da Intrexonm, dona da Oxitec, empresa de biotecnologia que no ano passado ao buscar aprovação para soltar nos Estados Unidos mosquitos geneticamente modificados capazes de combater a Zika. Ainda assim, a eficácia dos órgãos reguladores locais parece desempenhar um papel importante na influência dessa vontade política. Brasil e Austrália, por exemplo, tem órgãos reguladores voltados especificamente para a engenharia genética. E nos dois países, a Oxitec teve muito mais facilidade em buscar a aprovação para os seus insetos geneticamente modificados em relação aos Estados Unidos, onde a aprovação dos mosquitos foi bizarramente processada pela FDA como uma “droga animal”. Esses esforços também foram prejudicados por um órgão regulador mal equipado, e pela desconfiança pública sobre o lançamento de um inseto modificado em laboratório, sem algo sólido que comprovasse os benefícios. Da mesma forma, não é coincidência o fato do Reino Unido ter sido o primeiro país do mundo a ter um órgão legislativo independente para regular a pesquisa em embriões humanos e o tratamento de fertilização in-vitro e ser o pioneiro em ambas as áreas. Se mais países tivessem órgãos reguladores criados para tratar especificamente da engenharia genética, talvez houvesse um maior consenso global sobre como proceder – ou pelo menos uma identificação mais coerente de onde estão os riscos. “Todos os países precisam pensar bastante sobre uma boa agência reguladora para avaliar todos os tipos de formas de vida modificadas e os seus riscos”, disse Greely, “e equilibrar os pontos negativos com os benefícios, antes de decidir se irão permitir ou proibir uma engenharia genética específica”. Então, como vamos começar a reconciliar nossas crenças divergentes, para chegar a algum tipo de consenso que nos permita reconhecer o potencial que essas novas tecnologias têm para oferecer? Não existe uma resposta simples. A história, entretanto, nos dá razões para sermos otimistas. Muitas vezes, o medo das novas tecnologias impediu o progresso. No século XV, a Europa proibiu a imprensa. Há apenas um século, a América boicotou o carro. E ainda assim, nós vivemos hoje num mundo lotado de carros demais e com coisas demais para ler.Imagem do topo: Angelica Alzona/Gizmodo