Ciência
O que são compostos bioativos, elementos essenciais para a produção de vacinas, medicamentos e tratamentos de saúde
Essas substâncias escondidas na natureza são imprescindíveis para a descoberta de avanços científicos como a penicilina
Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan
Reportagem: Guilherme Castro/Instituto Butantan
Para que um medicamento chegue às farmácias ou um tratamento possa ser aplicado em um hospital, há um longo caminho a ser percorrido. Na base dessa jornada estão pesquisas que analisam compostos muito interessantes, que podem ser úteis à humanidade, chamados de bioativos — termo que engloba uma vasta gama de substâncias de origem biológica, dentre os quais peptídeos, proteínas e enzimas derivadas de plantas, bactérias, fungos ou animais.
Compostos bioativos são moléculas de origem natural com enorme potencial para a medicina, principalmente pelo que há de desconhecido nos seus estudos. Um exemplo é o bolor do gênero Penicillium, que deu, por acaso, origem ao antibiótico penicilina. Com o avanço tecnológico e a implementação de técnicas como a análise biológica em larga escala, substâncias com histórico de uso terapêutico desde tempos antigos estão se tornando alvos vitais e cada vez mais abrangentes para o desenvolvimento de novas soluções na área da saúde.
Compostos bioativos e suas aplicações
Todo organismo vivo possui milhões de compostos com funções destinadas a suprirem necessidades biológicas e fisiológicas. Se produzidos ou secretados em excesso, porém, esses componentes podem causar problemas. “Da mesma forma que, no caso de um acidente com animal peçonhento, a letalidade de um veneno é determinada pela dose administrada, a toxicidade ou eficácia terapêutica de uma substância é regida pela quantidade e concentração aplicadas”, relata a especialista do Laboratório de Imunoquímica do Instituto Butantan Giselle Pidde. Na biologia, o balanço fisiológico é muito equilibrado, e pode pender para um lado ou outro, a depender de como o componente é utilizado.É a partir dessa noção que cientistas estudam as características dos compostos bioativos. Por meio de estratégias como varredura (screening), é feito um rastreio de substâncias potencialmente úteis nos mais diversos tipos de organismos, desde uma simples extrato de folha de uma planta, até secreções como o veneno de uma serpente.
Quando um composto demonstra propriedades potencialmente benéficas para os seres humanos, ele é direcionado aos estudos de aplicação. Se continuar provando resultados positivos nos experimentos, futuramente ele pode servir como base para o desenvolvimento de um produto de ação profilática, como uma vacina; de tratamento, como novos medicamentos; ou de diagnóstico, para ser utilizado em testes que detectam alterações no organismo.“Quando um composto bioativo não pode ser direcionado para nenhuma dessas vias de aplicação, ele serve como conteúdo para entender o mecanismo de ação de determinado composto, como a toxicidade. De qualquer modo, sempre irá gerar alguma informação relevante que, eventualmente, pode se combinar com outras descobertas e culminar em avanços científicos”, relata Giselle.
O desconhecimento sobre o que existe na natureza ainda é maior do que o conhecimento, o que é um grande estímulo para a pesquisa, que se alimenta de perguntas, ou seja, do desconhecido. Para a cientista do Butantan, as respostas de muitos problemas da humanidade se encontram em processos espalhados na natureza que ainda não entendemos completamente.