O que é a alergia ao amendoim e as novas técnicas promissoras de tratamento
Pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, encontraram uma forma de combater a alergia ao amendoim nas crianças: colocar uma fração minúscula do legume embaixo da língua.
Trata-se de um comprimido com uma pequena quantidade de proteína de amendoim (1/75 de um grão), método que os cientistas chamaram de SLIT (Imunoterapia Sublingual com Amendoim, na sigla em inglês).
No sobre o remédio, publicado em fevereiro, os pesquisadores mostram que uma dose de 4 mg (miligramas) de amendoim embaixo da língua oferece “forte dessensibilização” para proteger crianças contra exposições alérgicas acidentais.
Segundo o estudo, o tratamento é mais fácil e menos invasivo que a imunoterapia Palforzia, que exige que os pacientes comam uma farinha à base de amendoim todos os dias para evitar surtos de alergia.
Entre as 47 crianças que completaram o experimento da terapia, 36% ficaram “curadas” da alergia a amendoim – ou seja, alcançaram a dessensibilização total. Outras 70% apresentaram dessensibilização significativa, mostrou o estudo, que se estendeu por cinco anos.
No decorrer da pesquisa, os pesquisadores identificaram que os efeitos do medicamento duram 22 semanas — só então o amendoim se torna reativo novamente. “Este estudo mostra que o SLIT pode dessensibilizar a maioria das crianças alérgicas ao amendoim”, afirmou Edwin Kim, que liderou o estudo, em comunicado.
“A imunoterapia sublingual não é uma cura. Mas, por atingir o equilíbrio de proteção contra reações alérgica sendo fácil e segura de fazer, pode ter o potencial de ajudar muitos pacientes alérgicos a amendoim”, completou.
Pasta de amendoim também ajuda?
Esse não é o único estudo sobre o uso de pequenas quantidades de amendoim para driblar a alergia à leguminosa. Outra pesquisa, publicada em dezembro, diz que dar pequenas quantidades de pasta de amendoim para bebês entre quatro e seis meses pode reduzir casos de alergia ao alimento em 77%.
Segundo os cientistas da Universidade de Southampton, no Reino Unido, que conduziram o estudo, comer amendoim enquanto o sistema imunológico está em desenvolvimento pode reduzir as reações alérgicas.
O grupo usou como exemplo os bebês de Israel, onde é comum consumir petiscos de amendoim já no início da vida. Por coincidência ou não, as taxas de alergia ao legume são quase nulas por lá, disseram os especialistas à .
Além da alergia ao amendoim, a pesquisa chama a atenção para outro aspecto: a recomendação das autoridades em saúde de que crianças não ingiram alimentos sólidos até os seis meses.
Pesquisadores afirmam que um bebê pode comer seu primeiro alimento sólido quando conseguir ficar sentado e manter a cabeça firme. Ele também precisa ter coordenação para olhar a comida, pegá-la, colocá-la na boca e engolir sem cuspir de volta.
O que é a alergia a amendoim
Assim como a qualquer outro alimento, a alergia a amendoim acontece por causa de uma “confusão” do sistema imunológico. Isso significa que ele confunde algo inofensivo, como um simples amendoim, a uma ameaça grave.
Assim, quando detecta a substância potencialmente nociva, o organismo tem uma reação descontrolada, como anafilaxia. Nesses casos, o corpo começa a inchar e a pessoa passa a ter náusea, tontura e dificuldade para respirar, com risco de morte.
Qualquer alimento pode causar alergia, mas apenas oito são responsáveis por 90% de todas as reações alérgicas alimentares no mundo, segundo a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde). São eles:
- Leite de vaca
- Peixes
- Frutas secas
- Frutos do mar
- Cereais (cevada, centeio, aveia e trigo)
- Amendoim
- Ovo
- Soja
A Asbai (Associação Brasileira de Imunologista) aponta que a prevalência de alergias alimentares no Brasil acompanha os dados internacionais. No mundo, quase 8% das crianças de até 2 anos e 2% dos adultos têm sensibilidade a alimentos.