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O ponto central da internet nos EUA

Por mais que todo mundo prefira acreditar que a internet simplesmente acontece, o fato é que ela compreende uma infraestrutura física gigantesca. Em um trecho exclusivo do seu novo livro, Tubes, Andrew Blum nos leva em um passeio pelo refúgio mais importante da internet dos Estados Unidos. Ashsburn na Virginia é uma cidade pequena que […]

Por mais que todo mundo prefira acreditar que a internet simplesmente acontece, o fato é que ela compreende uma infraestrutura física gigantesca. Em um trecho exclusivo do seu , Andrew Blum nos leva em um passeio pelo refúgio mais importante da internet dos Estados Unidos.

Ashsburn na Virginia é uma cidade pequena que as pessoas que trabalham com internet acreditam ser uma cidade gigante. Elas jogam “Ashburn” várias vezes na mesma frase como se estivessem falando de Londres ou Tóquio. A razão para isso está atrás do hotel Embassy Suites em um conjunto de edifícios que passa despercebido, pertencente a uma empresa chamada Equinix. A internet funciona porque todas as redes são conectadas a outras de alguma maneira. Onde essas conexões acontecem fisicamente? Mais do que em qualquer outro lugar nos Estados Unidos, a resposta é “Ashburn”. Este é o centro da internet americana.

No dia que eu visitei, em junho, um funcionário da manutenção usando uma máscara cirúrgica varria uma calçada vazia. Aviões comerciais voavam baixo. Cabos de energia podiam ser avistados no horizonte. Eu não vi nenhuma recepção, nenhuma placa, apenas portas de metal que pareciam saídas de incêndio. Mas o estacionamento estava lotado, e eu segui um cara até o saguão de segurança do prédio errado. Quando finalmente encontrei Dave Morgan, o diretor de operações do complexo, ele não viu motivos para se desculpar. Pelo contrário, toda aquela confusão era proposital: os clientes ficam tranquilos pelo anonimato do lugar “exceto, talvez, em sua primeira visita”. Em seguida ele compartilhou uma dica útil para a próxima vez que eu me perdesse no caminho para a internet: procure a porta que tenha um cinzeiro perto.

Eu passei por três níveis de segurança – escaneamento biométrico, uma armadilha para invasores, e uma parede de aço – e então foi como entrar em uma máquina, com toda a correria e zumbidos. O teto alto era pintado de preto, como um teatro, e desaparecia na penumbra. Eu encarei um longo corredor com jaulas escuras, e em cada uma das portas havia um scanner de reconhecimento de mãos. Holofotes azuis criavam um padrão repetido de globos azuis suaves. “É um pouco como Las Vegas”, disse o meu guia, um engenheiro de recuperação de redes chamado Eric Troyer, “não existe dia ou noite”.

Os clientes da Equinix são operadores de rede de todos os tamanhos, desde a Verizon até a Telecom Malásia, do Facebook à Wikipedia. Eles alugam espaço ali, variando de um único rack até um lugar do tamanho de um apartamento. Alguns irão enviar seus equipamentos antes e pagar para que eles sejam “recolhidos e empilhados”. Outros, carinhosamente conhecidos como “apaixonados por servidores”, passam seus dias aqui. “Eles praticamente moram aqui, como o Norm da série de TV Cheers, pegando o seu banco de bar”, Troyer disse, fazendo um sinal com a cabeça para mostrar um cara gordo com Jeans e camisa preta. “Mas aqui não é um destino turístico.”

Equinix Ashburn não é um depósito de dados, é um ponto de distribuição, ocupado principalmente por equipamentos de rede: máquinas cuja única finalidade é negociar com outras máquinas. Uma empresa como o Facebook, eBay ou um grande banco terá sua própria central de dados em alguma fazenda – ou algum lugar onde energia elétrica seja barata e tenha fibra ótica para deixar tudo conectado. Então ele irá se ligar aqui, enviando seus dados para fora de sua própria gaiola para as gaiolas dos provedores de internet e redes backbone. (É exatamente isso que o Facebook faz). O armazenamento pesado acontece em outros lugares; o envio e negociação – a real troca de bits – acontece aqui.

A internet não se faz sozinha. Ela é feita de conexões entre redes que entraram em acordo com um aperto de mão e são consumadas ligando um cabo amarelo de fibra ótica. Tecnicamente, estas conexões poderiam acontecer a qualquer distância. Mas é mais eficiente fazer isso diretamente, conectando a sua caixa na minha caixa, em um padrão repetido exponencialmente. A Equinix Ashburn satisfaz este básico desejo técnico e econômico: é mais fácil e mais barato conectar diretamente duas redes do que confiar que uma terceira rede faça isso por você.

Quando duas redes querem se conectar, elas irão solicitar uma “conexão cruzada” e um técnico da Equinix irá subir uma escada e levar um cabo amarelo de fibra ótica de uma gaiola para a outra. Organizar os cabos é quase uma arte, com diferentes tipos colocados em níveis diferentes, é como um mil folhas das bases de dados. Os cabos mais antigos estão na parte de baixo da pilha. “É quase como tirar uma amostra de gelo polar”, Troyer disse. “Conforme você vai cavando você encontra sedimentos de certas eras.”

Considerando a taxa mensal que a Equinix cobra para cada “conexão cruzada”, este é o ganha-pão deles. Os contadores veem isso como uma renda recorrente mensal. Os engenheiros de rede veem vetores. Os técnicos da central de dados veem a dor nas costas que vão ganhar ao tentar alcançar os racks para colocar os cabos. Mas da maneira mais tangente possível, estes cabos, e este prédio, são o inter da internet: o espaço entre as redes.

Equinix Ashburn é o extremo oposto lógico da proposta básica da internet: se na maioria das vezes nós contamos que a internet nos permita estar em qualquer lugar, este é o local onde a internet se conecta à terra. Esta é a ligação entre o cérebro global e a crosta geológica.

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Trecho exclusivo de  por Andrew Blum, publicado pela Ecco, uma marca da editora HarperCollins.

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