Novo método de terapia fotodinâmica pode erradicar o melanoma ocular, mostra estudo
Texto: Julia Moióli | Agência FAPESP
Pesquisadores do (CePOF), um CEPID da FAPESP alocado no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP), e colaboradores da University of Toronto e Princess Margaret Cancer Center, do Canadá, reportaram pela primeira vez o uso eficaz de um tipo específico de fototerapia para erradicar o melanoma ocular em camundongos. Baseada em laser pulsado, a técnica envolve a aplicação de uma grande quantidade de luz por um curto período de tempo para a ativação de um fármaco.
O estudo, recentemente no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, abre caminho para um possível tratamento futuro menos drástico para a doença. As estratégias atuais apresentam baixa efetividade e envolvem, em muitos casos, radiação ionizante e remoção do olho afetado do paciente.
Técnica já utilizada no tratamento do carcinoma basocelular (tipo mais comum de câncer de pele), a terapia fotodinâmica envolve o uso da luz para a ativação de fármacos, em condições adequadas de radiação e na presença de oxigênio (todas as células – de câncer ou normais – precisam do oxigênio para realizar suas funções metabólicas). O melanoma, um dos tipos de câncer mais agressivos, no entanto, tem se mostrado um desafio, por conta da melanina, um pigmento escuro que compete com o medicamento fotossensibilizador pela absorção da luz. Outra dificuldade é que biomoléculas como a melanina fazem com que os fótons (partículas que compõem a luz) mudem sua direção de propagação e se espalhem. Dessa forma, poucos vão verdadeiramente ser transmitidos e atingir tecidos mais profundos.“Observamos que o método nos permite entregar dois fótons, com metade da energia necessária cada, e, como isso ocorre em um período de tempo extremamente curto, a molécula biológica basicamente não percebe, permitindo sua chegada”, explica , professora do IFSC-USP e coordenadora do estudo pela equipe brasileira – a equipe canadense foi liderada por Brian Wilson, professor do Departamento de Biofísica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Toronto. “Foi a primeira vez que isso foi reportado em publicações científicas.”
“Ainda mais interessante: a técnica foi mais eficaz nos tumores pigmentados, mostrando que a melanina atua como um mediador do tratamento”, completa , pesquisadora do Princess Margaret Cancer Center (Canadá) e do Instituto de Física de São Carlos da USP. “Esses resultados trazem uma nova perspectiva na área de biofotônica e quebram o paradigma de que lesões pigmentadas não podem ser erradicadas com terapias à base de luz.”
Também foi demonstrado que o método é seguro, uma vez que não causou danos nas estruturas adjacentes. “O tratamento se mostrou altamente seletivo e efetivo”, relata Kurachi. A pesquisadora cita ainda outra possível vantagem em potencial da terapia fotodinâmica: diversos estudos ao redor do mundo vêm indicando sua capacidade de induzir a resposta imunológica, melhorando a ativação do sistema imune do próprio organismo para também atuar nessa eliminação de tumores.Perspectivas
A descoberta abre caminho para, no futuro, possibilitar um tratamento para o melanoma ocular mais efetivo, que ofereça o mínimo de efeito colateral – atualmente, os tratamentos disponíveis apresentam baixa efetividade e risco de 50% de o paciente desenvolver metástase (e, quando metastático, a sobrevida é de apenas quatro a 13 meses). No entanto, embora acene com ótimas perspectivas, ainda são necessárias diversas etapas – e muitos anos de estudos – para que esse tipo de terapia possa ser utilizado na prática. “Realizamos apenas a primeira fase da pesquisa, que é justamente mostrar que o método é efetivo e seguro; os próximos passos incluem testes em camundongos humanizados com melanoma de origem humana e primeiros estudos em humanos”, lembra Kurachi. Além disso, os instrumentos específicos para essa abordagem ainda estão em fase de desenvolvimento. Durante o estudo, os pesquisadores utilizaram microscópio, mas a ideia é que o tratamento propriamente dito seja feito com oftalmoscópios (aparelhos para a visualização da retina) ajustados, tecnologia que já vem sendo criada por outros grupos de pesquisa. “A expectativa é que esse estudo sirva de fundamento para expandir o uso da tecnologia para outros tumores oncológicos, como o retinoblastoma, que afeta crianças”, diz Pires. O estudo incluiu especialistas de diversas áreas, como biofotônica, óptica e medicina translacional, e também contou com o financiamento das seguintes instituições: Cancer Prevention and Research Institute of Texas (EUA), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, Brasil), Governor’s University Research Initiative (EUA), Henry Farrugia Research Fund (Canadá), Princess Margaret Cancer Center Foundation Invest-in-Research Fund (Canadá) e Vision Science Research Program Award (Canadá).O artigo Femtosecond pulsed laser photodynamic therapy activates melanin and eradicates malignant melanoma pode ser lido em: .