O Brasil será o primeiro país da América Latina a ter um laboratório de máxima contenção biológica, conhecido como NB4. Ele será usado para pesquisar os microrganismos mais perigosos conhecidos, como ebola, Marburg (que causa a febre de Marburg) e sabiá — causador da febre hemorrágica brasileira.
O (CNPEM), localizado em Campinas (SP), está planejando a construção de um novo complexo laboratorial com aproximadamente 20 mil metros quadrados.
Essa estrutura, que busca obter certificação internacional, será especialmente projetada para possibilitar a condução de pesquisas relacionadas a doenças causadas por patógenos das classes 3 e 4. Esses patógenos são capazes de provocar doenças graves e têm um alto grau de transmissibilidade.
Orçamento bilionário para a ciência
O projeto deve ser instalado até 2026 e é orçado em cerca de R$ 1 bilhão. Concluída a fase de construção, o complexo passará pelas fases de comissionamento técnico e científico e de certificações internacionais de segurança.
“Estamos trabalhando para fortalecer o sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação através da disponibilização de infraestruturas competitivas. Isso é para dar respostas aos mais desafiadores problemas que a sociedade enfrenta atualmente. E também para aqueles que ainda estão por vir”, disse Antonio José Roque da Silva, Diretor-Geral do CNPEM, em um comunicado.
O CNPEM, organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), hoje opera uma das três fontes de luz síncrotron de quarta geração do mundo, o Sirius. A luz síncrotron é uma das principais formas de observar a natureza usando grandes máquinas que aceleram partículas.
Laboratórios de biossegurança
Ao todo, existem no mundo atualmente cerca de 60 laboratórios de máxima contenção biológica, nenhum deles na América do Sul, Central ou Caribe. Esse tipo de infraestrutura reúne uma série de medidas avançadas e redundantes de proteção e biossegurança, que possibilitam a manipulação de vírus enquadrados na classe 4.
O primeiro e único vírus desta categoria identificado no Brasil foi o Sabiá (SABV), causador da febre hemorrágica brasileira. A doença foi diagnosticada em humanos na década de 90 e com recentes novas notificações.
As amostras isoladas do vírus SABV estão atualmente armazenadas no exterior, embora tenham sido descobertas no Brasil. A falta de infraestrutura adequada impede a realização de pesquisas mais aprofundadas sobre a doença no país.
Além do SABV, é necessário manipular diversos outros vírus em instalações NB4, como os outros arenavírus circulantes na América Latina, incluindo o Junín, que causa a febre hemorrágica Argentina. Outros exemplos são o Guanarito, responsável pela febre hemorrágica Venezuelana, e o Machupo, que provoca a febre hemorrágica Boliviana.
Por causa da falta de um laboratório adequado, nenhum país latino-americano possui condições para monitorar, isolar e pesquisar esses agentes biológicos. Muito menos desenvolver métodos de diagnóstico, vacinas e tratamentos.