Novo “A Cor Púrpura” ousa ao recontar clássico com musical leve e enérgico
Passar por “A Cor Púrpura” sem percebê-la é, realmente, um pecado. A frase presente no novo filme, inspirado no romance de Alice Walker e que traz nova roupagem ao longa lançado em 1985, e estrelado por Whoopi Goldberg, continua valendo.
A nova versão é marcada por rostos conhecidos. O filme de 1985 foi indicado ao Oscar em 11 categorias, incluindo Oprah Winfrey e Margaret Avery em melhor atriz coadjuvante. Não levou nenhum.
Oprah Winfrey, a Sofia de 1985, Steven Spielberg, diretor do primeiro longa, e Quincy Jones, produtor musical, retornam no novo filme, nos bastidores. Já Marsha Norman, que dirigiu o musical sobre a obra nos anos 2000, é roteirista.
Nova roupagem
A versão de 2023 também cumpre muito bem o papel de captar a atenção de quem assiste, com cenas leves, mas cheias de energia.
O Giz Brasil assistiu à prévia do novo filme “A Cor Púrpura”, dirigido por Blitz Bazawule (“Black Is King”) e agora estrelado por Fantasia Barrino. O longa estreia nos cinemas brasileiros na quinta-feira (8), e reconta a difícil história da jovem Celie, que vive nos EUA segregado do início do século 20, a partir das cartas trocadas com Deus e sua irmã — mas, agora, com elementos de musical.
Celie e Nettie no centro do universo
Fantasia Barrino interpreta a protagonista Celie na sua fase adulta. Mas, antes, coube a Phylicia Pearl Mpasi vivê-la na infância. O início da vida da personagem, aliás, é bastante atribulado. Afinal, não era nada fácil ser uma mulher negra no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, no início do século 20.
A época é marcada logo no primeiro número musical do filme, regado de religiosidade e identidade negra norte-americana, quase indissociáveis.
Há também violência. No meio dos gritos e abusos machistas, ela encontra um respiro na irmã Nettie, interpretada por Halle Bailey. Seus conselhos — e seus números musicais — resgatam a doçura de ser jovem e de querer a liberdade.
No início, Nettie já se mostra uma bússola para Celie: é independente e conhecedora, enquanto a irmã mais velha a admira e aprende consigo que da África elas descendem, com orgulho e grandeza.
Sofia de Danielle Brooks
Já adulta, Fantasia teve desafio de viver a personagem que Whoopi Goldberg fez em 1985 — e fez tão bem a ponto de concorrer ao Oscar de melhor atriz de 1986.
O novo musical deixa claro desde o início que Celie tem como fonte a poderosa Sofia de Danielle Brooks. “A Cor Púrpura” acertou ao dar um novo desenvolvimento para personagem.
É cantando sua história que Sofia representa o olhar do novo filme: a personagem é divertida, porém, sofre o machismo e o racismo, representado na relação com Harpo (Corey Hawkins), com o sogro Mister (Colman Domingo), marido de Celie, e em outras situações.
Outro acerto é o retorno de Mary Agnes, agora vivida pela cantora H.E.R.
Shug Avery de Taraji P. Henson
Os números musicais de Taraji P. Henson como a cantora Shug Avery são de se aplaudir. A fotografia segue o mesmo tom.
O espetáculo para anunciar sua chegada na cidade também serve como previsão do poder da personagem e como ela pode se aliar a Celie — mesmo com seus dilemas familiares — como agulha e disco na vitrola.
Velhos conhecidos
O grito de liberdade entoado pelas três atrizes negras é uma virada de mesa em uma sequência tocante finalizada com o sorriso de Fantasia Barrino.
É nesta parte também que os musicais se tornam mais pessoais para a personagem dela. E, para quem assiste, fica a lembrança de que ser negro — especialmente ser uma mulher negra — é sinônimo de beleza ainda numa realidade marcada pelo horror do racismo.