Com seus mares negros oleosos, atmosfera dourada nebulosa e areia eletricamente carregada, a lua Titã, de Saturno, é um dos objetos mais intrigantes do sistema solar. A NASA aprovou uma nova e empolgante missão que enviará um pequeno drone aéreo para sobrevoar a superfície do satélite.
Chamado de , o drone quadrotor duplo é uma criação do Johns Hopkins Applied Physics Laboratory (APL). A missão, anunciada pela NASA em uma conferência de imprensa nesta quinta-feira (27), foi escolhida em detrimento da missão , ou Comet Astrobiology Exploration Sample Return (retorno de amostras de cometa para exploração astrobiológica, em tradução livre), que enviaria uma espaçonave para recuperar amostras da superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.
Ambos os projetos se enquadram na iniciativa New Frontiers da NASA, na qual os projetos podem ser implantados por US$ 1 bilhão ou menos, ao mesmo tempo que abordam questões com alta prioridade científica. Esses dois projetos foram escolhidos de um campo inicial de 12 propostas.
Com todo o respeito ao projeto CAESAR e à equipe associada da Cornell University, a missão Dragonfly foi claramente a melhor escolha. O cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko foi recentemente visitado pela sonda Rosetta da ESA, por isso ainda está muito fresco em nossas mentes. Além disso, a missão Stardust 2006 conseguiu trazer amostras de cometas à Terra. O CAESAR, com todos os seus encantos, tem essa sensação de “eu já estive aqui antes”. Também é duvidoso que uma missão de retorno ao cometa atrairia tanto a atenção pública e científica como uma missão em uma lua de Saturno.
A missão para Titã, por outro lado, oferece verdadeiras delícias científicas. O minúsculo drone aéreo — um quadrotor duplo — voará de um ponto a outro, medindo e fazendo observações, trazendo imagens panorâmicas deste incrível satélite. Voando através da densa atmosfera de nitrogênio da lua, a sonda cobrirá mais território em poucos dias do que um jipe de seis rodas poderia cobrir em anos. Assim como os drones recreativos aqui na Terra, a nave poderá decolar e pousar verticalmente.
Titã, que é duas vezes maior que a nossa Lua, é muito semelhante e muito diferente da Terra. Possui uma atmosfera espessa (na verdade é a única lua no sistema solar a ter uma atmosfera, e é mais espessa do que a da Terra), tem líquido estável na superfície na forma de metano, , lagos e rios, cânions e, possivelmente, . Sua superfície está sujeita a intensas tempestades de e de . Entre os vários objetivos da missão, a Dragonfly estudará se Titã já teve condições de abrigar vida.
A Titã contém material rico em carbono que, uma vez, interagiu com a água líquida, o que pode ter produzido uma gosma primordial (ou seja, química prebiótica) não muito diferente daquela que eventualmente gerou a vida na Terra. Para esse fim, a Dragonfly será equipada com um espectrômetro de massa, um espectrômetro de raios gama, uma câmera (capaz de imagens microscópicas e panorâmicas!) e outros instrumentos. Eles acrescentaram que a sonda deverá suportar temperaturas de até -180°C.
Os planejadores da missão tentarão aterrissar a sonda perto de um grupo de dunas de areia e fazer uma série de saltos em direção a uma grande cratera, explicaram cientistas da NASA durante a coletiva de imprensa. Especificamente, a sonda explorará a cratera de impacto de Selk, que pode ter contido água líquida e compostos orgânicos.
Uma vez em Titã, a missão deve durar cerca de dois anos e meio, período durante o qual a sonda realizará cerca de 25 saltos e voará uma distância total de cerca de 180 quilômetros, segundo a NASA.
A NASA espera lançar a missão até 2026. Infelizmente, teremos que esperar até 2034 para a Dragonfly pousar em Titan. Mas vai valer a pena. As imagens e os dados que essa sonda enviará de volta à Terra serão diferentes de tudo que já vimos antes.
Sim, a missão , enviada pela ESA para Titã em 2005, foi legal e resultou em descobertas científicas e imagens bacanas, mas simplesmente não será possível compará-la com o Dragonfly.
As missões anteriores envolvidas na iniciativa New Frontiers da NASA incluem a missão New Horizons, que visitou Plutão e MU69, a missão Juno em torno de Júpiter, ainda em curso, e a OSIRIS-REx, que atualmente está orbitando o asteroide Bennu.