Um nariz biônico em desenvolvimento na Universidade Comunitária de Virginia, nos EUA, promete devolver o olfato às pessoas comprometidas pela Covid e outras doenças, desde respiratórias até lesões cerebrais.
O projeto, que começou em 2011, nunca foi tão necessário: pesquisas indicam que a perda de olfato e paladar continua em quase 5,6% dos adultos infectados pela Covid no mundo – em especial as mulheres.
O nariz biônico é, na verdade, uma neuroprótese para olfato que se parece bastante com um implante coclear, usado para melhorar a audição.
Trata-se de um sensor que transmite um sinal para um receptor com vários eletrodos implantado no cérebro. Esse receptor estimula o bulbo olfativo com padrões correspondentes a odores específicos, assim como ocorre nos aparelhos auditivos.
Os bulbos olfativos são duas áreas do cérebro onde o corpo humano recebe e lê as impressões olfativas. Para dar certo, o implante precisa ter o tamanho certo dessas áreas na borda do cérebro.
Mas não é tão simples: um nariz humano tem quase 400 tipos diferentes de receptores que detectam as moléculas do odor. Juntos, eles permitem que os seres humanos distingam até 1 trilhão de cheiros diferentes.
Desafios à frente
Por enquanto, o desafio é encontrar a melhor forma de enviar sinais ao cérebro para efetivar a interpretação de todos esses odores.
Em 2016, experimentos com camundongos mostraram que o uso de eletrodos causava padrões de atividade neural nas profundezas do bulbo. Ou seja, a “leitura” do olfato não ficava só nos bulbos, mas “vazava” para outras partes do cérebro.
Se criava, então, mapas de odor. A atividade neural indicava que os camundongos percebiam algo, mas os pesquisadores ficaram sem saber se isso era benéfico, ou não.
Ao fazer testes com humanos, em 2018, os pesquisadores perceberam que colocar eletrodos direto no crânio transmite um pulso elétrico ao bulbo olfativo. Mas os pacientes dizem sentir cheiros estranhos, bem diferentes dos apresentados.
Agora, os testes querem verificar se o olfato melhora com um implante no bulbo olfativo. “Teoricamente, há muitas maneiras diferentes de chegar lá”, disse Daniel Coelho, professor de otorrinolaringologista e pesquisador do protótipo ao site .
Como se perde o olfato?
Com a Covid, os relatos de perda de olfato ficaram bem mais comuns, mas o vírus não é o único responsável. A anosmia, ou incapacidade de cheirar, também pode vir de ferimentos na cabeça, exposição a toxinas e outros problemas médicos, como tumores e Alzheimer.
Além disso, o olfato também pode “atrofiar” à medida que a idade passa. Um mostra que 39% da população com 80 anos ou mais têm disfunção olfativa.
No corpo humano, o sistema olfativo tem um peso essencial. Quando o odor chega na cavidade nasal, moléculas se ligam aos neurônios receptores e enviam sinais elétricos aos nervos olfativos.
Esses nervos passam por uma placa óssea para alcançar o bulbo olfatório. A partir daí, a informação vai para a amígdala, uma parte do cérebro que rege as respostas emocionais. Depois, também chega no hipocampo (estrutura envolvida na memória) e no córtex frontal (que liga com o processo cognitivo).
É por isso que os cheiros podem evocar memórias felizes ou trazer más lembranças. “O sistema olfativo tem acesso a partes do cérebro que outros sentidos não têm”, explicou o pesquisador Richard Costanzo, outro líder do projeto.
A neuroprótese recebeu uma patente nos EUA em 2016, mas ainda não saiu dos laboratórios de teste.