“Napoleão” de Joaquin Phoenix mostra que até a história esbarra em “casos de família”
Napoleão Bonaparte viu a rainha Maria Antonieta, da França, ser decapitada na Revolução que pôs fim à monarquia. Logo, ele escalou a oficial de artilharia, general, primeiro-cônsul e imperador do país. É um personagem histórico e, no mínimo, controverso, que só poderia ser interpretado por Joaquin Phoenix.
O filme “Napoleão” estreia nesta quinta-feira (23) nos cinemas do Brasil. A obra mostra algumas batalhas, golpes e negociações de Bonaparte ao longo da sua vida em meio a uma trama familiar com Josephine — interpretada por Vanessa Kirby, uma atriz já experiente em viver entre palácios e momentos da história.
O Giz Brasil já assistiu ao novo filme de Ridley Scott. Confira o que você pode esperar:
Napoleão a ponto de “coringar”
Joaquin Phoenix ganhou o Oscar de Melhor Ator em 2020 ao fazer “Coringa”, um personagem complexo. É uma figura com semelhanças com Napoleão Bonaparte: pode ser um herói ao estilo anti-herói. Afinal, ele lutou contra inimigos da ocasião em meio a uma efervescente sociedade.
Também pode ser tirano e sanguinário, a característica mais fiel historicamente falando. E o filme enfatiza as mortes que suas batalhas históricas vitimaram. Tudo isso enquanto o ator dá um toque particular ao seu Napoleão: o olhar pesado e o beiço contraído.
Antes de chegar nos campos de guerra épicos, como a derradeira Batalha de Waterloo de 1815 no final do filme, Joaquin Phoenix vai quase “coringando” ao liderar um cerco com tropas enquanto ainda era oficial do exército.
Ele treme, cai, titubeia, mas consegue — e nem é spoiler: está na história. Mas é a partir daí que vemos o tom da história dentro da história: as relações que permeiam “Napoleão”.
Sua mãe sendo evocada ou seu irmão ao lado nos tempos republicanos. Ao longo do filme, o temido general e depois Imperador é o filho da guerra que chora onde a arma não vê.
Vanessa Kirby segue na realeza com Josephine
Josephine Bonaparte vira parte central do núcleo familiar dos “casos de família” do filme. É uma paixão capaz de levar o militar a se casar com ela apesar de tudo. E de deserdar de tropas ao invadir outro continente ao descobrir uma traição.
A relação Josephine-Napoleão é o que anima o filme com novidades. Ela sabe que depende dele e ele sabe que depende dela mais ainda.
Napoleão, ao ser empossado como imperador da França — e trair os valores republicanos — em 1804 se autocoroou e proclamou Josephine como imperatriz.
As interpretações dos personagens seguem a mesma dinâmica, com as variações de emoções de Joaquin Phoenix e a serenidade e o tom calmo de Vanessa Kirby. A atriz que foi a princesa Margaret na primeira temporada de “The Crown” sabe fazer uma figura da realeza longe de ser antiquada.
O fio de ligação deles não é tão forte e rompe em meio a maior batalha para manter os seus próprios privilégios, como uma linha sucessória.
Por fim, quando a relação é encerrada em definitivo neste plano, parece que acaba o roteiro também.
História fatiada
É uma pena o filme dirigido por Ridley Scott investir tanto em diálogo a ponto de fatiá-los. Os GC’s ao longo do filme nos norteiam quem é quem e qual o momento da longa história. A evolução de Napoleão também.
Porém, as sequências de guerra — termo e temor que marca Bonaparte — aparecem em doses agendadas. E funcionam em harmonia com as trilhas sonoras.
Não é um banho de sangue à revelia, é um tabuleiro que o telespectador será colocado para ver as peças se mexerem.
E este jogo até ganha acréscimos ao mostrar a vida do ex-oficial de artilharia, ex-general, ex-primeiro-cônsul e ex-imperador após sua queda. Mas o final de “Napoleão” de Joaquin Phoenix se perde porque o final de Josephine é antes e definitivo.
Talvez é para mostrar também no roteiro o que Bonaparte confessa a ela: “não sou nada sem você”.
“Napoleão” tem direção de Ridley Scott e roteiro de David Scarpa.