Nanocurativo combate infecção e melhora a cicatrização de feridas
Texto: Julia Moióli |
Um curativo de celulose contendo nanopartículas de prata se mostrou capaz de reduzir a concentração bacteriana em feridas complexas de pele, praticamente eliminando-as em menos de um mês de tratamento sem efeitos colaterais. Os resultados promissores dos testes em animais foram por pesquisadores das universidades de Araraquara (Uniara) e Franca (Unifran) no Journal of Pharmaceutical Sciences.
Nesse estudo, pela FAPESP, cientistas testaram um nanocurativo que reúne os benefícios de dois tratamentos com eficácia comprovada em cicatrização e melhoria das condições fisiológicas de feridas: as nanopartículas de prata, que apresentam atividade antimicrobiana; e as membranas de celulose bacteriana, material biocompatível constituído de nanofibras sintetizadas por bactérias Gram-negativas, que dispensam a remoção do tecido lesionado e ajudam a diminuir a dor do paciente.
“Nossa ideia era que a combinação pudesse amplificar a atividade biológica dos produtos, aumentando a eficácia da cicatrização e diminuindo os possíveis efeitos tóxicos da prata – o que foi confirmado após experimentos”, conta , que desenvolveu o estudo durante doutorado na Unifran.
Durante um período de 21 dias, um grupo de ratos com feridas semelhantes às que podem ocorrer em seres humanos foi tratado com o nanocurativo. Para efeitos de comparação, outros animais receberam diferentes terapias, incluindo o uso exclusivo da membrana, sem a presença de prata. Exames específicos analisaram a influência do tratamento na extensão da ferida, tais como a proliferação celular, o crescimento microbiano local, parâmetros histopatológicos e o conteúdo de colágeno, além de indicadores de toxicidade da prata, como ganho de peso, consumo de água e análise bioquímica de parâmetros de funções renal e hepática.Em 48 horas, os pesquisadores observaram que o nanocurativo proporcionou redução significativa no número de colônias microbianas, em comparação com outros tratamentos: “Esse resultado é extremamente interessante porque um dos grandes empecilhos para cicatrização é justamente a contaminação por bactérias”, afirma , professora da Unifran e coordenadora do estudo. “Com essa diminuição, o processo de cicatrização é acelerado.”
Próximos passos
As membranas de celulose bacteriana utilizadas no estudo são o foco do grupo de pesquisas de Barud na Uniara há cerca de 20 anos e fazem parte de uma família de curativos já amplamente comercializadas pelas startups BioSmart Nano e HB Biotech, ambas associadas à universidade. A nova versão, com a adição da prata, já é patenteada, mas deve entrar em fase de estudos clínicos com seres humanos em breve para poder chegar ao mercado. “Além de disponibilizar aos pacientes os benefícios constatados no estudo com animais, produzir um curativo como esse no Brasil garante redução de custos em relação a opções importadas e um controle de qualidade mais eficaz”, acredita Barud.O artigo Nanocomposite Based on Bacterial Cellulose and Silver Nanoparticles Improve Wound Healing Without Exhibiting Toxic Effect pode ser lido em: .