Mutação que “gerou” cães pequenos é encontrada em lobo de 52 mil anos

Novo estudo sugere que o gene ligado ao tamanho pequeno de certos cães já estava presente muito antes da domesticação. Entenda
Cães pequenos
Imagem: Hannah Lim/Unsplash/Reprodução

Ao passear por um parque, é comum que você repare nos diferentes cachorros que estão por ali. De pinschers e spitz a goldens e pastores, todos descendem dos lobos. Mas como alguns deles ficaram tão pequenininhos? 

É até estranho pensar que aquela gracinha peluda correndo no gramado tem como ancestral um animal selvagem capaz de derrubar um alce. Tudo leva a crer que os pets só ficaram pequenos após a domesticação humana, 15 mil anos atrás, certo? Errado. A interferência do homem parece não ter sido tão significativa assim. 

Calma, você já vai entender essa história. Para começar, precisamos voltar para 2007, quando cientistas descobriram o gene capaz de codificar a proteína IGF-1 – sigla em inglês para “fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1”. 

Essa proteína diz muito sobre o tamanho corporal em mamíferos. Na prática, um poodle toy possui menos IGF-1 em seu sangue do que um poodle grande. O gene que codifica essa proteína controla cerca de 15% da variação de tamanho entre os cães, o que é bastante, considerando que há ainda outros 19 genes que cuidam do resto da porcentagem.

Ok, o papel do gene que codifica o IGF-1 estava revelado. Faltava saber qual mutação do gene “atrapalhava” a codificação, fazendo com que cães menores tivessem um nível menor desta proteína. Foi nesse detalhe que pesquisadores do National Human Genome Research Institute, nos EUA, focaram agora.

Os cientistas resolveram de alguns genes envolvidos no tamanho do animal de trás para frente. Nesse processo, encontraram um gene específico que é transcrito no chamado RNA longo não codificante. Como o nome sugere, ele não codifica proteínas.

Estudando um pouco mais, os cientistas descobriram que existem duas variantes desse gene – uma que parece interferir na produção da proteína IGF-1. Os cães, que recebem um conjunto de 39 cromossomos de cada pai, podem receber duas cópias dessa mesma variante ou uma de cada. 

Os pesquisadores foram, então, cruzar os dados com cães modernos, cães selvagens, cães antigos, lobos, entre outros. E lá estava: 75% dos pets com menos de 15 quilos tinham duas cópias da variante que atrapalhava a decodificação de IGF-1, enquanto 75% dos cães com mais de 22 quilos tinham duas cópias do outro alelo. O estudo completo foi publicado na revista científica .

Mas a surpresa estava nos lobos antigos. Enquanto os animais modernos possuíam na maior parte das vezes o par de alelos responsável pelo tamanho grande, um lobo antigo que foi preservado por mais de 52 mil anos no solo gelado siberiano tinha uma variante de cada. 

Ou seja, a chave para o tamanho pequeno já estava lá muito antes da domesticação. Alguns pesquisadores sugerem, inclusive, que os lobos no passado tenham tido os dois alelos responsáveis pelo tamanho menor – mas pode ter ocorrido uma mutação que, consequentemente, ajudou os animais a ficarem maiores e aptos para climas mais frios. Enquanto migravam para áreas mais geladas do norte, esses receberam aquela força da seleção natural.

E, claro, não dá para dizer que os humanos tiveram zero participação. Como o gene já estava presente na época em que os humanos começaram a domesticar o animal, é possível que nossos ancestrais tenham manipulado rapidamente o corpo do lobo para criar grandes cães de guarda, animais médios para o pastoreio e pequenos seres para a caça de roedores, por exemplo. 

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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