Ciência
Mundo caminha para um aquecimento de 2,7°C neste século, e o perigo é sem precedentes
Dos 35 “sinais vitais” da Terra, como extensão do gelo marinho e situação das florestas, 25 estão em níveis preocupantes.
Imagem: Bruno Kelly/Amazonia Real/Wikimedia Commons/Reprodução
Texto: Thomas Newsome / William Ripple /
Não é preciso olhar muito longe para ver o que as mudanças climáticas estão fazendo com o planeta. A expressão “sem precedentes” está por toda parte este ano.Estamos vendo tempestades tropicais sem precedentes que se intensificam rapidamente, como o no leste dos Estados Unidos e o no Vietnã. Incêndios sem precedentes no . Uma seca sem precedentes no Brasil e deixou grandes extensões de leitos de rios vazios. Pelo menos 1.300 peregrinos durante o Hajj deste ano em Meca, quando as temperaturas ultrapassaram 50°C.
Infelizmente, estamos caminhando para algo muito pior. O novo relatório , produzido por nossa equipe internacional de cientistas, é mais um alerta grave sobre a intensificação da crise climática. Mesmo que os governos cumpram suas metas de emissões, o mundo poderá atingir – quase o dobro da meta do Acordo de Paris de 1,5°C. Todos os anos, monitoramos 35 “sinais vitais” da Terra, desde a extensão do gelo marinho até a situação das florestas. Este ano, 25 deles estão em níveis recordes, todos com tendências na direção errada.
Os seres humanos não estão . A civilização humana surgiu nos últimos 10 mil anos sob condições benignas – nem muito quente, nem muito frio. Mas esse clima habitável está agora em risco. No tempo de vida de nossos netos, as condições climáticas serão mais ameaçadoras do que qualquer coisa que nossos parentes pré-históricos teriam enfrentado.
Nosso relatório mostra um aumento contínuo nas emissões de combustíveis fósseis, que permanecem no nível mais alto de todos os tempos. Apesar de anos de advertências dos cientistas, o consumo de combustíveis fósseis de fato aumentou, levando o planeta a níveis perigosos de aquecimento. Embora as energias eólica e solar tenham crescido rapidamente, o uso de combustíveis fósseis é 14 vezes maior.
Este ano também está sendo considerado o mais quente já registrado, com temperaturas médias diárias globais em níveis recordes durante quase metade de .
No próximo mês, líderes mundiais e diplomatas se reunirão no Azerbaijão para as negociações climáticas anuais das Nações Unidas, a . Os líderes terão de redobrar seus esforços. Sem políticas muito mais fortes, as mudanças climáticas continuarão a se agravar, trazendo consigo mais frequentes e extremas condições climáticas.
Má notícia em cima de má notícia
Ainda não resolvemos o problema central: a queima rotineira de combustíveis fósseis. As concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa – especialmente metano e dióxido de carbono – ainda estão aumentando. Em setembro do ano passado, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera atingiram 418 partes por milhão (ppm). Em setembro deste ano, ultrapassaram 422 ppm. As emissões de metano, um gás de efeito estufa altamente potente, tem aumentado em apesar das promessas globais de combatê-las. Para piorar o problema, esforços para reduzir a poluição levaram ao recente declínio dos aerossóis atmosféricos. Essas pequenas partículas suspensas no ar são provenientes tanto de e têm ajudado a resfriar o planeta. Sem esse efeito de resfriamento, o ritmo do aquecimento global pode se acelerar. Não sabemos ao certo porque os efeitos dos aerossóis ainda não foram medidos . Outras questões ambientais estão agora contribuindo para as mudanças climáticas. O desmatamento em áreas críticas, como a Amazônia, está reduzindo a capacidade do planeta de absorver carbono naturalmente, o que gera um aquecimento adicional. Isso cria um ciclo autoalimentado em que o aquecimento causa a morte das árvores, o que, por sua vez, aumenta as temperaturas globais. A perda de gelo marinho é outro problema. À medida que o gelo marinho derrete ou deixa de se formar, a água do mar, mais escura, fica exposta. O gelo reflete a luz solar, mas a água do mar a absorve. Em escala maior, isso altera o albedo da Terra (o grau de reflexão da superfície) e acelera ainda mais o aquecimento. Nas próximas décadas, o aumento do nível do mar representará uma ameaça crescente para as comunidades costeiras, colocando milhões de pessoas em risco de deslocamento forçado.Este artigo foi originalmente publicado em