Ciência

Mulheres também caçavam durante o período Paleolítico, aponta estudo

Pesquisadoras encontram evidências em ferramentas e na fisiologia de que mulheres não eram apenas coletoras e participavam da caça
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Filmes, desenhos e até mesmo estudos científicos contribuem para a visão de que, na pré-história, mulheres eram coletoras enquanto homens eram os caçadores. Contudo, uma nova pesquisa oferece evidências de que essa divisão de trabalho não era tão preto no branco.

Em geral, a teoria do homem como caçador que impulsionou a evolução humana ganhou notoriedade em 1968. Neste ano, os antropólogos Richard B. Lee e Irven DeVore publicaram “Man the Hunter”.

Isso reforçou a ideia de que as mulheres não eram fisicamente capazes de caçar devido a diferenças anatômicas. Dessa forma, propagou-se a crença de divisão de trabalho por sexo. De uns anos para cá, surgiram novas evidências de que essa separação não era assim tão imutável.

Os resultados do novo estudo, publicado em artigos nas revistas e colaboram para essa ideia.

Entenda a pesquisa

As cientistas analisaram a divisão de trabalho de acordo com o sexo durante a era Paleolítica, que aconteceu aproximadamente de 2,5 milhões a 12 mil anos atrás. 

Durante este período, a maioria das pessoas vivia em grupos pequenos. Dessa forma, para as autoras, a ideia de que apenas parte do grupo caçaria não fazia sentido.

“Eles viviam em sociedades muito pequenas. Por isso, precisavam ser muito flexíveis. Todo mundo tem que ser capaz de desempenhar qualquer papel a qualquer momento”, explicou Sarah Lacy, autora do estudo.

Então, as pesquisadoras resolveram analisar evidências. Para isso, utilizaram três fontes de informação: evidências arqueológicas, revisão de outros estudos da área e exame da fisiologia feminina na época.

As cientistas encontraram poucas evidências que sustentem a ideia de que os papéis foram especificamente atribuídos a cada sexo. No estudo, elas identificaram exemplos de igualdade de gênero em ferramentas antigas, na dieta, na arte e na maneira como eram enterrados.

Para elas, pesquisas antigas automaticamente consideravam as descobertas como masculinas. Dessa forma, ignoravam que qualquer evidência da era Paleolítica diz respeito a todos que viviam no período, independente de sexo.

Depois, através da análise da fisiologia feminina, a equipe descobriu que as mulheres eram fisicamente capazes de ser caçadoras. Os resultados mostram que os homens tinham vantagem sobre as mulheres em atividades que requerem velocidade e força, como corridas curtas e arremessos. 

Contudo, elas eram melhores em tarefas que exigiam resistência, como caminhadas e corridas de longa distância. Para as cientistas, o hormônio estrogênio tem destaque neste aspecto.

Ele é mais proeminente nas mulheres e aumenta o metabolismo da gordura, fornecendo aos músculos uma fonte de energia de longa duração. Além disso, também pode regular a quebra muscular, evitando o desgaste dos músculos.

“Não é algo que apenas os homens faziam e que, portanto, o comportamento masculino impulsionou a evolução”, disse ela. “O que consideramos como papéis de gênero hoje não são inerentes, não caracterizam nossos ancestrais. Fomos uma espécie muito igualitária de muitas maneiras por milhões de anos”.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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